“Só estou viva por causa do meu amor por ele”

Marcolino (14)

Pedro Augusto

Quem teve oportunidade de presenciar a relação de amor, carinho, afeto e proteção entre Luzinete Adelina Silva de Barros e Antônio Marcolino Barros Filho, certamente irá concordar que somente uma frase dita por apenas um deles seria muito pouco para descrever as suas histórias entrelaçadas de vidas. Durante pouco mais de 46 anos, mãe e filho, respectivamente, tiveram a oportunidade de dividirem o mesmo teto, os mesmos sonhos, conquistas e derrotas como se fossem uma única pessoa. Entretanto, como nada na vida é para sempre, o dia 16 de abril de 2016 foi a data escolhida pelo destino ou não para separar fisicamente os caminhos conjuntos do jornalista Marcolino Junior e de sua querida mãe Luzinete.

Depois de irem às compras no supermercado e almoçarem juntos já em casa, conforme ditava a tradição de um dia de sábado, eles iriam se ver pela última vez. “Após receber um telefonema, ele falou alto: eu vou… eu vou… Depois saiu daqui já por volta das 14h30 para não nunca mais voltar. Esses derradeiros passos dele jamais sairão da minha memória”, relembrou Luzinete de Barros.

Neste Domingo de Páscoa (16) completará um ano em que mãe e filho se viram pela última vez. Nem de longe, devido à vontade própria de ambos, mas sim por causa de uma atitude bárbara e covarde, que acabou chocando e pegando toda a população caruaruense de surpresa.

Após receber o telefonema citado, Marcolino acabou sendo morto a facadas durante a tarde, em um motel de Caruaru. Seu corpo só foi localizado na manhã do dia 18 abril, no distrito de Insurreição, na zona rural de Sairé, no Agreste do Estado. Passados todos esses meses, como não poderia ser diferente, os sentimentos que vêm norteando a vida de Luzinete têm se caracterizado em grande parte pela dor, a tristeza e a saudade. “Todos os dias eu choro. Tenho chorado tanto que às vezes nem lágrimas têm caído. Se não fosse o amor que tenho por ele, já teria morrido, porque ele me amava demais e não gostaria que desistisse da vida”, acrescentou Luzinete.

A aposentada ainda mantém intactos num dos quartos de seu imóvel os objetos que eram utilizados por Marcolino Junior. Devido ao seu estado avançado de decomposição, quando foi encontrado morto, Marcolino só pôde ser identificado, justamente, através do reconhecimento de alguns de seus objetos pessoais: uma pulseira e um anel. Encaminhado na ocasião para o Instituto de Medicina Legal do Recife, o corpo do jornalista acabou sendo reconhecido pela família, através da prima dele, Juciane da Silva Lima. Um ano depois do episódio, que acabou repercutindo nacionalmente, ela parece ainda não acreditar na partida do parente.

“Fui eu quem reconheceu o corpo, mas às vezes me pego sem querer acreditar no que fizeram com ele. O sentimento é de muita saudade. Sinto falta do Marcolino da infância, da adolescência, da época de juventude. Ele foi morto de uma forma muito brutal. Acredito que ainda restam muitas lacunas a serem preenchidas em relação ao seu caso. A própria promotoria do Ministério Público já chegou a levantar a possibilidade do envolvimento de uma terceira ou quarta pessoa na sua morte. Várias conversas já chegaram aos nossos ouvidos como a da tentativa de queimar Marcolino em seu próprio carro. Neste contexto, não se configuraria o latrocínio, conforme foi apontado no inquérito policial, mas, sim, perseguição, rixa ou outro motivo.”

Dos dois suspeitos que foram apontados e presos pela polícia como os responsáveis pela morte de Marcolino, atualmente apenas um encontra-se recolhido na Penitenciária Juiz Plácido de Souza. Trata-se de Rafael Leite da Silva, de 32 anos. De acordo com as investigações da Polícia Civil, ele teria se encontrado com o jornalista no início da tarde do dia 16 de abril e, em seguida, se dirigido com ele num automóvel para o motel onde a vítima foi executada. Lá, Rafael teria aplicado um golpe de jiu-jítsu desferindo posteriormente golpes de faca peixeira no pescoço dele. Para atrair Marcolino até o local, o suposto executor teria contado com a intermediação do comparsa Davi Fernando Ferreira Graciano, de 22 anos.

Este último, segundo a polícia, sabia que Marcolino Junior possuía interesse em relação ao Rafael e acabou intermediando o encontro entre eles. A vítima e o suposto executor chegaram até o motel por volta das 16h50 e mais de uma hora depois, precisamente às 18h, câmeras de videomonitoramento registraram quando o automóvel de propriedade do colunista deixou o local sob a condução do Rafael. O corpo de Marcolino foi colocado no porta-malas. Isso ficou comprovado através da perícia do IC. Também de acordo com as investigações, o cadáver foi levado pelo próprio Rafael até o distrito de Insurreição. A suposta dupla de comparsas teria cometido o crime para tentar se beneficiar financeiramente.

“Meu cliente é inocente. Ele deu três versões diferentes em relação ao crime, porque foi pressionado. A filha dele precisou passar uns tempos no Recife, porque estava sendo perseguida juntamente com a sua mãe. O Rafael também foi perseguido na prisão. Seu crime foi apenas ter aceitado a proposta de R$ 1 mil pela venda do automóvel da vítima”, disse o advogado de Rafael Leite, Cláudio Sales. Assim como Cláudio, o advogado de Davi Fernando, José Cordeiro, utilizou o espaço disponível na matéria para ressaltar a inocência de seu cliente. “O Davi nem deverá ir a júri, porque não existem elementos suficientes que determinem a sua participação. Ele não teve nenhum envolvimento com a morte do Marcolino.”

Enquanto o julgamento dos acusados não é realizado – até agora existe apenas a confirmação de que o Rafael terá de comparecer ao Tribunal de Júri –, os amigos de Marcolino vêm alimentando o desejo de justiça através das boas lembranças deixadas por ele. Colegas de trabalho do colunista por vários anos, a jornalista Léa Renata e a diagramadora Socorro Polycarpo, do Jornal VANGUARDA, relembraram as suas principais características.

“Marcolino era uma pessoa muito irreverente, feliz e de bem com a vida. Deixou muitas saudades”, destacou Léa. “Com certeza, a nossa redação ficou um pouco mais silenciosa após a sua partida, porque Marcolino era muito alegre e contagiava a todos com o seu bom humor”, acrescentou Socorro. Uma missa em memória do jornalista será realizada na terça-feira (18), às 19h, na Igreja da Natividade do Senhor, no Bairro Universitário.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *