Brasil só volta a crescer se resolver a questão fiscal, diz Levy

Da Agência Brasil

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, declarou nesta quinta-feira (29), em Londres, que o Brasil só voltará a crescer quando a questão fiscal for resolvida.

Levy disse não saber em que prazo será concretizado o ajuste. “O problema fiscal ainda não foi tratado com a energia que deveria: muita gente no Congresso sabe disso”, acrescentou. O governo aguarda a aprovação do Orçamento de 2016 e das medidas fiscais que permitirão a redução dos gastos públicos e a elevação da arrecadação no país.

Depois de dois dias de reuniões na capital britânica, o ministro declarou que o cenário de incerteza gera receio entre os investidores estrangeiros e brasileiros. Ele disse, porém, que, ao mesmo tempo em que trabalha para garantir uma política fiscal sólida, o governo tenta atrair investimentos em infraestrutura para ajudar “o país a se tornar mais eficiente, gerando empregos e incentivando a economia”.

Levy citou a área de portos, entre as que continuam a receber massivos investimentos privados. Acrescentou que o leilão das 29 usinas hidrelétricas com concessões vencidas, previsto para ocorrer no dia 25 de novembro, permitirá a geração de recursos sem a necessidade de aumentar impostos.

O ministro atribuiu a alta na taxa de desemprego e no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) à demora no ajuste fiscal. “Se as empresas estão receosas e não sabem o que vai acontecer com a economia, elas começam a se contrair, gerando desemprego”, disse ele. O IGP-M, usado para reajustar a maioria dos contratos imobiliários, avançou 1,89% em outubro, contra 0,95% no mês anterior.

Mesmo com todos os números negativos, Levy pediu otimismo aos brasileiros e afirmou que a torcida negativa não contribui para o crescimento do país. “O Brasil já superou muitos momentos de dúvida, muitas pessoas acreditavam que o Brasil não conseguiria pagar as dívidas, mas temos uma grande população, um grande mercado consumidor, companhias fortes. Precisamos criar um cenário em que as pessoas se sintam confiantes para avançar”, afirmou.

Em Londres, o ministro brasileiro e o ministro das Finanças do Reino Unido, George Osborne, decidiram criar uma força-tarefa com o objetivo de ampliar as oportunidades de investimento nos dois países. Com o mesmo objetivo, o Brasil promoverá rodadas de negócios com investidores em Nova York, na segunda-feira (2), em Frankfurt (Alemanha), na quarta-feira (4), e novamente em Londres, na quinta-feira (5).

CPMF é crucial para Brasil voltar a crescer, afirma presidente

Do Estadão Conteúdo

A presidente Dilma Rousseff afirmou neste domingo, 18, em Estocolmo, na Suécia, que a recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) é crucial para a retomada do crescimento do Brasil.

“O Brasil precisa aprovar (a CPMF) para que a gente tenha um ano de 2016 estável do ponto de vista do reequilíbrio das nossas finanças”, afirmou a jornalistas, após encontro com o rei e a rainha suecos.

Após negar que o encontro com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, na última sexta-feira (16) tenha tratado da possível saída dele do governo, Dilma afirmou que a conversa abordou as medidas que precisam ser aprovadas até o final do ano.

Ao destacar a necessidade da CPMF, Dilma disse que sem a volta do imposto é muito difícil estabilizar as contas públicas. “Não vou dizer que é impossível, mas está no grau de dificuldade máxima. A CPMF é crucial para o País. Não é uma questão do governo”, frisou.

A presidente disse que não gostaria de ter que elevar a carga tributária do País, mas admitiu que isso se faz necessário devido a medidas de renúncia fiscal adotadas em seu primeiro mandato, de 2010 a 2014.

“Um dos fatos que leva a nossa dificuldade agora é que nós tivemos um nível de desoneração para além do desejável, se consideramos que – não tínhamos como saber disso – no futuro ia haver o fim do superciclo de commodities e que a China ia desacelerar nessa proporção”, admitiu.

Segundo Dilma, como o governo não sabia dessas mudanças na economia global, optou por reduzir impostos. “É sempre melhor reduzir imposto que aumentar imposto, a não ser em momentos em que você se defronta com problemas críticos, como a desaceleração da China, que ninguém contava (que ocorreria) nessa proporção”, explicou.

Questionada sobre como pretende fazer o Brasil voltar a crescer, Dilma afirmou que o País busca reequilibrar a economia por meio de um “enorme esforço” para reduzir os gastos públicos e pela “redefinição” dos preços relativos.

Na avaliação da presidente, este movimento nos preços levará à redução da inflação e, devido às mudanças no câmbio, ao aumento das exportações. “A mudança na forma de fazer o equilíbrio fiscal vai levar também a uma maior estabilidade macroeconômica”, disse.

Dilma citou ainda esforços do governo em garantir acordos comerciais para impulsionar as trocas com outros países, como o que vem sendo costurado entre o Mercosul e a União Europeia, e o programa de concessões em infraestrutura, que também contribuirá para alavancar o crescimento da economia brasileira.

Levy deve sair caso resista a mudanças, diz presidente do PT

Rui Falcão acredita que, para recuperar o crescimento, Dilma tende a fazer algumas alterações (Foto: ABr)

Da Folha de S. Paulo

O presidente do PT, Rui Falcão, defendeu mudanças na política econômica da presidente Dilma Rousseff. Ele acredita que, para recuperar o crescimento, Dilma tende a fazer algumas alterações na economia, liberando crédito para alguns setores cruciais. Afirmou ainda que, nesse cenário, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, deveria sair do governo se não concordar.

“Acho que ela [Dilma] vai determinar a liberação de crédito com responsabilidade”, disse. “Se o Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído.”

Ele ressalvou que o regime é presidencialista e que os ministros devem acatar as determinações da presidente.

*

Folha – Joaquim Levy é o ministro do crescimento?
Rui Falcão – É importante mudar a política econômica. É preciso que se libere crédito para investimento, para consumo. É uma forma de fazer a economia rodar. Da mesma maneira, é insustentável manter a atual taxa de juros.

O ministro da Fazenda descarta a liberação de crédito agora.
É a opinião dele. Pensamos diferente. Não estamos sozinhos. Muitos economistas e especialistas estão falando na mesma direção, em relação à taxa de juros e ao crédito. Está errada a política de contenção exagerada do crédito. Precisamos devolver esperança para a população.

Lula quer mesmo o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles na Fazenda?
Sei que precisamos mudar vários pontos da política econômica.

Inclusive o ministro?
A política. Quem nomeia e substitui ministro é a presidente.

O sr. gaguejou… Joaquim Levy é capaz de conduzir essa política que o sr. defende?
Um ministro da Fazenda não pode ficar na berlinda porque isso provoca consequências na economia. Se a presidente tiver a decisão de amanhã ou depois substituí-lo, isso não se anuncia previamente nem serei eu que sairei pedindo a substituição.

Mas o sr. defende mudanças, e Levy pensa diferente.
A lógica do regime presidencialista é que os ministros devem seguir a orientação do presidente da República. Se ela entender que essa política que está sendo realizada deve ter correções, no todo ou em parte, ela determina isso.

E a presidente concorda com tudo o que Joaquim Levy diz?
Ela está preocupada com a crise política. Quer estabilidade para fazer o país voltar a crescer. E a preocupação dela é com emprego, manutenção dos ganhos de renda…

Em relação a crédito?
Acho que ela vai determinar a liberação de crédito com responsabilidade. Há mecanismos para isso, desde crédito consignado, eventualmente mexer com o compulsório dos bancos para que os bancos privados possam liberar crédito. Mas é impressão minha, ela não disse isso. Se Levy não quiser seguir a orientação da presidente, deve ser substituído. Se ele não quiser, caso ela determine.

O PT vive hoje sua pior crise desde sua criação. É hostilizado. O partido se perdeu?
É inadmissível que a gente conviva com esse clima de ódio e intolerância, sendo seu ápice durante o velório do José Eduardo Dutra, em Belo Horizonte, onde esses fascistas panfletaram, num desrespeito à família, dizendo que ‘petista bom é petista morto’.

O sr. já foi hostilizado?
Vejo o Twitter diariamente. Tem baixaria contra todo mundo. Na rua, há olhares e uma pessoa passou correndo, xingou e foi embora.

Os petistas falam de intolerância mas não existe autocrítica.
Com ou sem autocrítica, nada justifica o ódio e a intolerância. Temos feito autocrítica, sim. O PT não deveria ter enveredado pelo financiamento empresarial, porque nos igualamos aos outros partidos. Não podemos ficar exclusivamente na disputa eleitoral. Ninguém combateu a corrupção como nós.

O ex-tesoureiro do PT e o ex-ministro José Dirceu estão presos, mas seguem filiados.
Nenhum deles foi condenado [em última instância]. Não há prova contra o Vaccari. A não ser delações.

Se forem condenados, Dirceu e Vaccari sairão do partido?
Espero que, se isso ocorrer, tomem essa decisão.

Mas e a desfiliação?
O Vaccari não tem acusação de desvio ético. Nada se comprovou contra ele.

E Dirceu?
Estamos esperando a defesa dele. Há acusações nessa direção. Ele deve avaliar se existe essa possibilidade de deixar unilateralmente o partido. A decisão de desfiliação é pessoal. A decisão de desfiliar é do partido.

Na sua opinião, há diferença entre Vaccari e José Dirceu.
Vaccari estava no exercício da secretaria de finanças. As tarefas exigiam que captasse recursos junto às empresas. Mas ele nunca usou qualquer contato para se beneficiar.

Há um acordão entre o governo e o deputado Eduardo Cunha para protegê-lo?
Quem tem acordo declarado com ele, fotografado e reconhecido, é a oposição. Que tipo de acordo poderíamos ter, se Cunha pode, a qualquer momento, acolher o pedido de impeachment e ele não sabe como vamos nos posicionar no Conselho de Ética? Ele é o presidente da Câmara até segunda ordem. Tem que haver uma relação institucional. Isso não significa blindar investigação.

Documentos comprovam que ele tem contas na Suíça.
Com a documentação apresentada pela Procuradoria, a situação de Cunha está cada vez mais insustentável.

Horário de verão deve resultar em economia de R$ 7 bilhões para o governo

Da Agência Brasil

O horário de verão deste ano deverá resultar em uma economia de R$ 7 bilhões nos investimentos previstos para o setor elétrico brasileiro. Anunciada hoje (15), a estimativa do governo tem por base a expectativa de que deixarão de ser consumidos 2.610 megawatts (MW) na edição 2015-2016.

O novo horário terá início à 0h de domingo (17), quando os relógios deverão ser adiantados em uma hora. A medida terá vigor até meia-noite do dia 21 de fevereiro de 2016. “É um investimento economizado”, justificou o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Luiz Eduardo Barat, ao anunciar os números.

O horário de verão de 2015/2016 inclui o Distrito Federal e os estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

De acordo com o ministério, nos últimos dez anos a medida tem possibilitado uma redução média de 4,5% na demanda por energia no horário de maior consumo e uma economia absoluta de 0,5%. Isso equivale aproximadamente ao consumo mensal de uma cidade do porte de Brasília, com 2,8 milhões de habitantes.

Segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o principal objetivo da medida é a redução da demanda no período de ponta, entre as 18h e as 21h. A estratégia é aproveitar a intensificação da luz natural durante o verão para reduzir o gasto de energia.

Entre os meses de outubro e fevereiro, os dias têm maior duração em algumas regiões por causa da posição da Terra em relação ao Sol. Por isso, a luminosidade natural pode ser melhor aproveitada.

Dólar tem maior alta diária em quatro anos e volta a encostar em R$ 3,90

Da Agência Brasil

Em um dia de turbulências no mercado interno e externo, a moeda norte-americana teve a maior alta diária em quatro anos e voltou a encostar em R$ 3,90. O dólar comercial encerrou ontem (13) vendido a R$ 3,893, com alta de R$ 0,135 (3,58%). A cotação está no maior nível desde o dia 5, quando tinha fechado a R$ 3,901.

A cotação operou em alta durante toda a sessão. Pela manhã, oscilava em torno de R$ 3,83, mas disparou durante a tarde até encerrar na máxima do dia. Apesar da alta de hoje, a divisa acumula queda de 1,81% em outubro. Em 2015, a alta chega a 46,4%.

O Banco Central (BC) deu continuidade à rolagem de contratos de swap cambial. A autoridade monetária prorrogou o vencimento de 10.275 contratos que venceriam em novembro. Nessa modalidade, o BC não leiloa novos contratos, apenas adia o vencimento dos contratos em circulação.

Além das turbulências, o dólar subiu por causa de dados divulgados hoje, que mostram a desaceleração da economia chinesa. As importações da segunda maior economia do planeta caíram 17,7% em setembro na comparação com o mesmo mês do ano passado.

Como o país asiático é o maior consumidor de matérias-primas do mundo, o recuo pressiona o dólar em países exportadores de commodities (bens primários com cotação internacional), como o Brasil.

‘Apesar da crise, o Brasil não vai acabar’, diz Bertoldi

Do Estadão Conteúdo

Em meio ao turbilhão da crise econômica e política pelo qual o Brasil passa, Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto Advogados, um dos maiores escritórios de advocacia do País, especializado em negócios, não acredita em um futuro catastrófico.

Do posto de observação privilegiado, acompanhando as fusões, aquisições, quebras e reestruturações financeiras dos maiores grupos empresariais do País, Bertoldi acha que estamos vivendo um momento de transição.

Muitos vão quebrar, grandes grupos nacionais vão encolher, multinacionais japonesas e coreanas vão aproveitar que as empresas estão baratas para avançar no Brasil. E, ao fim do processo, as companhias estarão mais fortes. “O Brasil sairá da crise e, quando sair, será rápido”. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Como o sr. vê o atual momento pelo qual o Brasil passa?

Minha referência é um modelo liberal, com pouca intervenção do Estado na economia. Só que não acredito que esse modelo, por si só, vá diminuir as distâncias sociais. Esse era um problema muito grande.

Vejo como grande mérito a melhora na parte social nas duas gestões do governo Lula (ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva) e da Dilma (Rousseff). Não sei se agora, com tudo que está acontecendo, vai haver uma devolução dos ganhos conquistados.

Mas acho que o modelo liberal puro não necessariamente garante uma diminuição. Ele melhora a economia, melhora o PIB, vai criar mais oportunidades. Mas, para um País que tinha uma situação tão grave, uma distância tão grande, não sei se o liberal puro, por si só, vai resolver.

O sr. diz que há coisas boas olhando para a frente. O que seriam?

Não sou otimista. Talvez não seja tão pessimista. Tem algumas coisas que vejo que são boas. A principal delas, e acho que não é enaltecida o suficiente, é a força e a resiliência das instituições do Brasil.

É interessante ver que a Polícia Federal tem autonomia para investigar quem quer, desde empresários influentes, políticos e até ministros. Não ouvi, até agora, nada que interrompa o trabalho da PF. Um juiz também consegue, bem ou mal, levar as investigações que são sensíveis e ninguém questiona.

A divisão dos poderes está bem respeitada. As instituições se mostraram muito fortes, talvez até mais do que a gente supusesse.

Mas o governo acionou o Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar impedir que o Tribunal de Contas da União avalie as contas da presidente Dilma.

Isso não é decisão. O governo quer criar argumentos para que isso não ocorra. Faz parte do jogo. Tentar influir, mas dentro das regras. Se fosse uma canetada… Mas tentar construir argumentos para que isso ocorra, acho válido.

Como o sr. vê essa discussão do impeachment? Há motivos legais para se tirar a presidente?

Pessoalmente, sou contra. Houve eleição, mas muita gente não gostou do resultado, que deve ser respeitado. O impeachment não é necessariamente um processo legal. É um processo muito mais político.

Muitas pessoas justificam a necessidade dele por ter de aguentar mais três anos de governo, que está muito fraco.

Se houver algo sério, sob o ponto de vista legal, passaria a ser a favor. Mas por questões meramente políticas e econômicas, prefiro que as instituições sejam preservadas.

Do jeito que está, com o TSE falando em analisar as contas da campanha presidencial, corre-se o risco de judicialização do mandato? A presidente pode ficar pendurada por uma liminar?

Acho que pode haver discussões. A Dilma ou qualquer outro presidente não sai por uma decisão do Judiciário. É uma decisão do Congresso. Ou seja, política. O que pode haver são discussões jurídicas que podem alimentar a discussão política e até dar argumentos para que o impeachment seja exercido. Dificilmente vejo como uma decisão jurídica.

Como os investidores veem esse cenário?

Há alguns anos, o Brasil virou o País da moda. Ficava até constrangido de ver os (grupos e fundos) estrangeiros pagando preços irreais e até injustificáveis pelos ativos aqui. Se olhar agora, temos uma crise política enorme e uma crise econômica – essa, sim, não me surpreende. A intensidade da crise política, para mim, é uma grande surpresa. Essa combinação é perigosa. Temos dois tipos de investidores.

Comparo com o período de 2002, quando havia indefinição se o Lula iria ser ou não eleito, e ninguém sabia o que iria acontecer. Quem entrou no Brasil naquele momento fez excelentes negócios.

Os investidores mais cautelosos, que não estão comprometidos com o Brasil, tiraram o pé do acelerador. Por outro lado, há investidores que veem essa crise como oportunidade. Há negócios muitos bons, como agronegócios, e setores que devem ser consolidados, como papel e celulose.

Temos um mercado interno grande que não vai desaparecer. Além disso, há ativos que serão vendidos por necessidade, por causa de endividamento, e outras (empresas) envolvidas na Lava Jato.

A volatilidade atual do câmbio prejudica as transações?

O câmbio alto torna os ativos brasileiros bastante atraentes, mas enquanto não se estabiliza, complica mais. Corre-se o risco de entrar por R$ 4 e sair por R$ 3 ou entrar por R$ 3 e sair por R$ 4. Mas existe um grupo de investidores que já está aqui e olha para o País a médio e longo prazo.

Vai ter um movimento de concentração e, com a situação das empreiteiras, muitas concessões vão mudar de mãos. Vejo com otimismo outras áreas que não decolaram no Brasil porque havia uma interferência muito grande do Estado e, pelo que parece, o BNDES vai interferir menos por falta de caixa.

Vejo duas áreas fundamentais para a maturidade do País : ‘project finance’ (captação de recursos no mercado financeiro para financiar infraestrutura) e mercado de capitais. Antes, era mais fácil correr para o BNDES, arrumar um sócio, ou um empréstimo com condições mais vantajosas, sem ter um projeto tão arredondado.

Haverá uma mudança de perfil das empresas?

Teremos empresas melhores. Elas terão de ser boas para entrar no mercado de capitais. Pode demorar um pouco. O Brasil precisa de investimento em infraestrutura. Essa rodada de negociações vai precisar de dinheiro privado.

Claro que estamos sem o grau de investimento, mas não acho que inviabilize os projetos. Há grupos com visão de médio e longo prazo. Uma certeza eu tenho: o Brasil não acabou com essa crise. A gente já passou por outras. E acho que o Brasil vai voltar. E quando voltar, será rápido.

Mesmo com esse cenário pessimista, há oportunidades para entrada de novos investidores? Ou só os mais tradicionais ficam?

Os dois casos. Países como Japão e Coreia do Sul têm vontade de aumentar a participação deles no Brasil. A China já não está tão pujante. As empresas querem vir para o Brasil para ganhar dinheiro.

Se entram em um momento de baixa e conseguem comprar ativos que vão se valorizar um dia, tem muito negócio a ser feito. Há muitos grupos que estão comprometidos e que têm parte relevante da receita gerada aqui ou não podem mais crescer nos seus países de origem. Além de grupos novos que veem o Brasil como oportunidade.

Mas, neste caso, o câmbio não afugenta?

Há mecanismos financeiros de proteção, que são caros. Não precisa ter um câmbio fixo, mas é preciso ter uma ideia de até quando testar os limites. Quando tiver com a banda (mais clara), dá para fazer as contas.

O que está claro é que não vamos ver, até pelo menos 18 meses, uma queda significativa da taxa de juros. Então, o dinheiro no Brasil vai ficar bem caro, o que pode ser inibidor para investimentos locais. Talvez abra mais oportunidades para os estrangeiros.

O sr. falou de empresas em dificuldade que estão vendendo ativos e de oportunidades para investidores de fora. Tem comprador para tudo isso?

Depende do setor e da empresa. Há empresas que não estão em dificuldade, mas estão planejando o futuro. Quando se tem queda de receita, como várias tiveram, a proporção de sua dívida em relação ao seu faturamento explode e há problemas para se administrar essa dívida.

Tem a questão do endividamento externo. Embora muitos grupos tenham aprendido com a crise de 2008 (sobre os derivativos), por incrível que pareça há empresas que não têm todas as suas posições “hedgeadas” (protegidas). E tem gente ganhando com câmbio. Infelizmente, alguns grupos vão sair desta crise bem menores e bem mais fracos do que são hoje, e vão falar que estão mais focados.

Os escândalos de corrupção paralisaram muitos negócios.

Em um primeiro momento, há um impacto muito negativo na economia Há paralisação de alguns setores na expectativa de ver o que acontece. Corremos o risco de pecar pelo excesso de investigações. Sabemos como começa, mas não onde acaba.

Os acordos de leniência vão crescer mais?

Tudo o que aconteceu no Brasil envolvendo essa questão de corrupção pode trazer maior transparência em negócios que envolvem o Estado, principalmente, e a concorrência entre as empresas.

Faz parte de um movimento que está em um caminho muito certo. No médio prazo, vai melhorar muito a situação aqui. Teremos preços mais justos, obras públicas realizadas com valores mais realistas, uma competição maior e efetiva.

As empresas vão sobreviver a esse processo?

Vão. Estamos falando de empresas grandes, como Petrobrás, Eletrobrás e outras. No fundo, a Petrobrás teve muito azar. Se o barril de petróleo estivesse a US$ 100, a situação seria diferente hoje.

É o mesmo que está acontecendo com o Brasil. Temos uma crise econômica, política, preços das commodities muito baixos. Se os preços das commodities estivessem um pouco melhores, a situação seria diferente também. É uma conjunção desfavorável.

Tivemos um cenário extremamente favorável há cinco, seis anos. E, mais do que reclamar do momento atual, a gente tem de se lamentar de não ter aproveitado a conjunção favorável lá atrás.

Como deveriam ser os acordos de leniência? Punir pessoas físicas e preservar as empresas? Ou as empresas têm de ser punidas até o limite da solvência?

Não é uma coisa extremamente lógica penalizar só os indivíduos. Quem obteve o grande lucro foi a empresa. Acho que não se pode tirar totalmente a culpa do indivíduo, mas o foco das investigações deveria ser nas empresas, que se beneficiaram disso.

Mas a punição tem de ser proporcional. Boa parte das penalidades é baseada na receita da empresa, mas, em muitos casos, a receita não tem a ver com o lucro das empresas. Há empresas que têm margens muito pequenas e as multas que se aplicam são absolutamente impagáveis. Então, acho que teria de ter um bom senso de se aplicar multas que sejam doídas, mas que não aleijem as empresas.

O efeito educativo da Lava Jato é suficiente para atacar o problema de corrupção no Brasil?

Tivemos vários efeitos educativos no Brasil contra a corrupção. Sempre achamos que aprendemos, mas não. Sem dúvida, o Brasil vai emergir desse tsunami da Lava Jato para um País menos corrupto. Acho que o tamanho da corrupção é diretamente proporcional ao tamanho da interferência do Estado na economia.

A Lava Jato tem um efeito didático muito interessante. No mínimo, vão pensar duas ou três vezes no futuro antes de fazerem coisas que antes eram feitas quase no automático.

Brasil está mais preparado para enfrentar crise do que no passado, diz Levy

Da Agência Brasil

O Brasil está mais preparado para enfrentar choques externos do que há 15 anos, disse ontem (8) o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Em debate com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, e o governador do Banco da Inglaterra, Mark Carney, Levy afirmou que o país aproveitou o período de bonança econômica para melhorar a estrutura econômica e social e ampliar as reservas internacionais

Segundo o ministro, a tendência foi seguida pela maioria dos países latino-americanos, que não sofreram problemas como bolhas (valorização artificial) de ativos, como ocorreu com o crédito imobiliário nos Estados Unidos. “Temos agora, por exemplo, reservas internacionais que não tínhamos antes. Então, acho que esses países [da América Latina] estão recebendo os choques e digerindo”, disse Levy, que participa de reunião do FMI em Lima, no Peru.

Atualmente em torno de US$ 375 bilhões, as reservas internacionais funcionam como um seguro para crises externas, permitindo aos governos evitar problemas com a dívida externa caso a moeda local se desvalorize. Em relação aos avanços sociais, o ministro afirmou que o Brasil, assim como muitos países em desenvolvimento, investiu na formação de uma classe média e na redução da pobreza nos anos de crescimento.

“Nosso país e muitos países aproveitaram o dinheiro da época de bonança para fazer mudanças radicais, incluindo a redução da pobreza, a criação de uma classe média e ampliar o acesso à educação”.

Para Levy, a possibilidade de aumento de juros nos Estados Unidos e a desaceleração da economia chinesa estão fazendo os países emergentes atravessar um momento de transição, que requer ajustes como os executados no Brasil ao longo deste ano.

O ministro defendeu a criação de um título global de infraestrutura para canalizar capitais externos para empreendimentos locais e ajudar os países emergentes a superar a crise internacional. “Precisamos não apenas de fluxo de produtos, mas de fluxo de poupança que podem financiar projetos que garantam crescimento de longo prazo [nos países emergentes]”, afirmou.

Levy destacou que a confiança em relação à economia brasileira precisa ser constantemente construída e defendeu a transparência da gestão econômica como meio para a recuperação da credibilidade. “A melhor maneira é ser claro com suas políticas, com os desafios e como chegar lá. A maioria das pessoas entende quando você está falando a verdade. Nas democracias, isso é fundamental”, disse.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, concordou com Levy e disse que o ministro está no caminho certo em relação às medidas econômicas. “O que ele está tentando fazer é reforçar e reestruturar um clima amigável para os negócios, para que o investimento continue no Brasil. Dizer a verdade, quais são as medidas necessárias. Isso é uma receita para melhora, sem dúvida”, afirmou a diretora.

Levy foi questionado pelo moderador do debate, o jornalista da CNN Richard Quest, se tinha se arrependido de aceitar o emprego de ministro da Fazenda. O ministro foi enfático ao afirmar que sempre é bom estar a serviço do próprio país. “Com certeza não, nunca é ruim trabalhar para o próprio país. Temos um objetivo claro que é preparar nossa economia para o ajuste e chegar ao caminho do crescimento”, disse.

.

Dilma pede otimismo para enfrentar crise e diz que país está mais preparado

979101-07102015-dsc_0535

Da Agência Brasil

Ao participar hoje (7) da cerimônia do Ano Olímpico para o Turismo, a presidenta Dilma Rousseff pediu otimismo dos brasileiros para atravessar a crise e disse que o país está mais preparado para reagir que em outros momentos de dificuldade.

“Estamos passando por alguns momentos de dificuldades econômicas, elas são conjunturais, temos todas a condições de superá-las. O país hoje é mais robusto, o país hoje tem mais flexibilidade, mais resiliência do que em qualquer momento de crises anteriores. Tenho certeza de que a atividade turística é uma forma de construir também o otimismo em nosso país, acho que viajar com a família é um momento de otimismo, um momento em que se olha para a frente”, afirmou a presidenta em solenidade no Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

Segundo Dilma, os Jogos Olímpicos do Rio de 2016 serão uma oportunidade para o Brasil se consolidar como destino turístico e de fortalecimento das viagens domésticas. “Tenho certeza de que todos os que conhecerão as instalações que receberão as Olímpiadas vão se encantar com elas e acredito que faremos do Ano Olímpico do Turismo um marco no processo de consolidação do Brasil como destino turístico.”

A presidenta voltou a usar metáfora esportiva para falar em perdedores e vencedores e fair play para reconhecer derrotas. Segundo Dilma, um dos elementos mais importantes que os Jogos Olímpicos ressaltam é a “capacidade de aceitar a derrota quando ela chega, porque tem vencedores e perdedores”. “É o chamado fair play, que a atividade esportiva ensina a cada um de nós”, acrescentou.

Antes de Dilma, o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, também falou em otimismo para enfrentar a crise e disse que o Brasil não pode ser o “país do mau humor” em um momento em que os olhos do mundo estão voltados para a organização dos Jogos Olímpicos do Rio. “O Brasil não é o Brasil do mau humor, da crise. Já superou tantas e vai superar mais essa, o Brasil é maior que tudo isso”, disse o ministro.

Os Jogos do Rio vão reunir cerca de 15 mil atletas de 206 países e mobilizar 70 mil voluntários. Cerca de 11 milhões de ingressos serão vendidos. Cem dias antes da abertura, marcada para o dia 5 de agosto de 2016, a Tocha Olímpica começará um percurso por 300 cidades brasileiras, em atividades que também esperam mobilizar o turismo pelo país.

Projeção de queda da economia tem 12ª piora seguida

Da Agência Brasil

A economia brasileira deve encolher 2,85%, este ano, de acordo com a projeção de instituições financeiras consultadas pelo Banco Central (BC). Essa foi a 12ª piora consecutiva na estimativa para a queda do Produto Interno Bruto (PIB), soma de todos os bens e serviços produzidos no país. Na semana passada, a estimativa estava em 2,8%. No próximo ano, a retração deve ser menor: 1%, a mesma projeção anterior.

Na avaliação do mercado financeiro, a produção industrial deve ter uma queda de 6,50%, este ano. A estimativa anterior era 6,65% de queda. Para 2016, a projeção de retração passou de 0,60% para 0,29%.

A projeção para o dólar ao final do ano chegou a R$ 4, contra R$ 3,95 previstos na semana passada. Para o fim de 2016, a estimativa para a cotação do dólar também é R$ 4.

As estimativas para a inflação também pioraram. A estimativa do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu pela terceira vez seguida, ao passar de 9,46% para 9,53%, este ano. Para 2016, no nono ajuste seguido, a projeção passou de 5,87% para 5,94%.

As projeções para a inflação estão acima do centro da meta, 4,5%. E no caso de 2015, a estimativa supera também o teto da meta, 6,5%. Para tentar levar a inflação ao centro da meta em 2016, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, por sete vezes consecutivas. Na reunião de setembro, o Copom optou por manter a Selic em 14,25% ao ano.

A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Ao manter a Selic, o comitê indica que ajustes anteriores foram suficientes para produzir efeitos na economia.

A pesquisa do BC também traz a projeção para a inflação medida pelo Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI), que passou de 8,26% para 8,42%, este ano. Para o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), a estimativa subiu de 7,88% para 8,34%, em 2015. A estimativa para o Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe) passou de 9,46% para 9,66%, este ano.

A projeção para a alta dos preços administrados passou de 15,50% para 15,55%, este ano, e de 5,92% para 6%, em 2016.

Dólar tem maior alta diária em quatro anos e volta a fechar acima de R$ 4

Da Agência Brasil

Em um dia de turbulência no mercado, a moeda norte-americana teve a maior alta diária em quatro anos e voltou a fechar acima de R$ 4. O dólar comercial fechou ontem (28) vendido a R$ 4,109, com alta de R$ 0,134 (3,36%). A última vez que a cotação tinha subido em nível parecido em um único dia tinha sido em setembro de 2011.

Até as 15h, a moeda tinha oscilado em torno de R$ 4, chegando a operar em R$ 3,99 no início da manhã. No entanto, nas últimas horas da sessão, a cotação disparou até fechar na máxima do dia. A divisa acumula alta de 13,3% apenas em setembro e de 54,6% em 2015.

Diferentemente dos últimos dias, o Banco Central (BC) reduziu a atuação no câmbio nesta segunda-feira. A autoridade monetária apenas renovou contratos de swap cambial (venda de dólares no mercado futuro), quando o vencimento dos contratos atuais é prorrogado. O BC não fez leilões de linha – venda de dólares das reservas internacionais com compromisso de recompra do dinheiro algumas semanas depois – nem leiloou novos contratos de swap.

No fim da semana passada, o dólar passou a cair depois que o presidente do BC, Alexandre Tombini, informou que o banco pode vender dólares das reservas internacionais no mercado à vista, operação que não é feita desde fevereiro de 2009. Apesar da declaração, o BC não começou a se desfazer dos recursos das reservas, atualmente em US$ 370,6 bilhões.

As reservas internacionais funcionam como um instrumento de segurança para o país em caso de crise no mercado de câmbio. Normalmente, o BC evita vender diretamente recursos das reservas para não comprometer esse mecanismo de proteção, preferindo operações no mercado futuro, como os swaps cambiais, que transferem a demanda pela moeda norte-americana do presente para o futuro. Em caso de turbulência severa, no entanto, a autoridade monetária pode lançar mão das reservas cambiais.