Testemunhas e acusados são ouvidos em audiência

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Pedro Augusto

O caso Marcolino Junior está se encaminhando para um ter um desfecho. Uma audiência de instrução e julgamento referente ao episódio, que chocou toda a população local, foi realizada na manhã e tarde da última segunda-feira (29), no Fórum de Justiça Demóstenes Batista Veras, no Bairro Universitário, em Caruaru. Na ocasião, o juiz da Vara do Tribunal do Júri, Hildemar Macedo de Morais, pegou os depoimentos de 22 testemunhas – 19 chamadas pela promotoria do Ministério Público e três convocadas por um dos advogados de defesa – bem como ainda ouviu os acusados de terem participação no crime: Davi Fernando Ferreira Graciano, de 22 anos, e Rafael Leite da Silva, de 32.

O primeiro, segundo as investigações da Polícia Civil, teria sido o mentor da morte do jornalista enquanto o segundo teria sido o responsável por executá-la. Presos desde o último dia 18 de abril – data também em que o corpo do colunista do VANGUARDA foi encontrado – os acusados chegaram até ao Fórum escoltados pelos agentes da Penitenciária Juiz Plácido de Souza – unidade esta onde se encontram recolhidos – por volta do meio dia. Na presença de seus advogados, ambos, acabaram negando em seus depoimentos a autoria do crime. O detalhe é que eles entraram em contradição em diversos momentos durante as suas ouvidas.

Primeiro a prestar depoimento, Rafael afirmou que conhecia Davi e teria recebido o veículo da vítima, através do suposto comparsa, para revendê-lo pelo valor de apenas R$ 5 mil. Já Davi, a princípio, disse que não sabia quem era Rafael, porém no desenrolar de seu depoimento, confirmou que já tinha o visto conversando por quatro ocasião com Marcolino. Ainda em seu depoimento, Davi ressaltou que desconhecia a motivação pela qual o Rafael o teria apontado em suas versões anteriores como o mentor do crime. “Acredito que ele quer acabar com a minha vida”, se limitou. Já o suposto comparsa, desta vez, preferiu apresentar uma versão diferente das que foram colhidas pela Civil.

“Fui pressionado naquela época para confessar o crime e não li os depoimentos, sou inocente”, alegou Rafael. Embora tenha dito anteriormente que Davi teria planejado o assassinato, durante a audiência, ele agora decidiu não acusá-lo. Sem exceção, em grande parte de suas ouvidas, os acusados acabaram sendo bastante questionados pelo juiz Hildemar Macedo. Este último só não finalizou o processo da audiência na data, porque duas testemunhas que foram convocadas acabaram não comparecendo. Elas serão ouvidas posteriormente nas comarcas criminais de seus municípios de origem, assim como destacou Hildemar.

“Hoje (última segunda-feira) não conseguimos finalizar a instrução processual, porque ainda ficaram faltando os depoimentos de duas testemunhas sendo uma de São Caetano e outra de Santa Cruz do Capibaribe. Tão logo juntarmos este dois últimos com os demais enviaremos o processo para as duas partes, ou seja, para a acusação e a defesa para que sejam apresentadas posteriormente as considerações finais. Já de posse das mesmas, faremos o juízo de admissibilidade da acusação. Caso verifiquemos se o processo foi construído de forma regular, ou seja, sem nenhum vício ou irregularidade, marcaremos em seguida a sessão de julgamento. Nela, sete jurados decidirão os destinos dos acusados”.

Alegando provas concretas que incriminem o seu cliente, os advogados de Davi Fernando acabaram requerendo na audiência um pedido de liberdade a favor do suposto mentor. Entretanto, a solicitação não foi apreciada neste primeiro momento. “Isso ocorreu, porque a promotora do caso decidiu que precisaria analisar tudo que aconteceu no processo para se manifestar posteriormente. Ela tem cinco dias para analisar esse pedido de soltura. Vale ressaltar que mesmo o Davi sendo solto, isso não implicará que ele será absolvido. Na verdade, ele poderá responder ao processo em liberdade, mas poderá ser condenado em seguida”, acrescentou Hildemar Macedo.

A advogada Josiane Macedo, que atuou como assistente de acusação, se mostrou surpresa com a negativa dos dois acusados em relação à prática do crime. “O Davi nem tanto, porque desde início ele vem dizendo que não teve participação na morte de Marcolino, porém o Rafael chegou a dar três versões sobre o crime e desta vez negou a autoria. Isso tudo como muita ponderação e frieza”, analisou. Gustavo Moraes, advogado de Rafael Leite, avaliou a audiência de instrução de forma positiva. “Nenhuma testemunha ouvida reconheceu o meu cliente como participante no crime e como advogado dele queremos que os verdadeiros culpados sigam para a prisão”.

Entenda o caso

Bastante conhecido na região, o jornalista Marcolino Junior, de 46 anos e de nome de batismo Antônio Marcolino Barros Filho, foi brutalmente assassinado no dia 16 de abril deste ano. Seu corpo só foi encontrado dois dias depois numa mata do distrito de Insurreição, na zona rural de Sairé, no Agreste do Estado. Em paralelo à localização do corpo, a Polícia Civil conseguiu prender, também no dia 18 de abril, os dois acusados na morte do jornalista. Davi foi preso quando prestava solidariedade à mãe do jornalista, no Bairro São Francisco, já Rafael acabou sendo autuado em flagrante no momento em que oferecia o automóvel da vítima numa concessionária, no Bairro Maurício de Nassau.

De acordo com as investigações do titular da 20ª Delegacia de Caruaru, Márcio Cruz, que participou de várias coletivas de imprensa na época, o colunista do VANGUARDA teria sido vítima de latrocínio (assalto seguido de morte). “O Davi trabalhava e era a pessoa de confiança do Marcolino. Apuramos que ele se sentia injustiçado por conta da suposta má remuneração a que lhe era repassada semanalmente pelo colunista. Além disso, possuía interesse em se beneficiar de alguma forma dos bens e das quantias em dinheiro os quais a vítima possuía. Por isso, planejou o crime de forma antecipada contando com a participação do Rafael. Este último iria receber dinheiro pela comercialização do automóvel”, disse o delegado.

Marcolino, conforme constatou a perícia do IC, foi morto num motel localizado no Bairro Vila Kennedy, também em Caruaru. “Câmeras de videomonitoramento captaram quando ele chegou até ao local juntamente com o Rafael. Lá, Rafael aplicou um golpe de jiu-jítsu e desferiu em seguida os golpes de faca peixeira no pescoço da vítima. Para atrair o colunista até ao motel, o acusado contou com a intermediação de Davi Fernando. Assim como suspeitávamos, o corpo de Marcolino foi colocado mesmo no porta-malas de seu carro. Isso ficou comprovado através da perícia do IC. O cadáver foi levado pelo próprio Rafael até o distrito de Insurreição”, finalizou Márcio Cruz.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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