Violência em alta no reduto do Mestre Vitalino

ALTO

Pedro Augusto

A presença dos bonecos de barro na festa de encerramento das Olimpíadas 2016, ocorrida no último domingo (21), no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, emocionou não só os pernambucanos, mas principalmente os moradores do Bairro do Alto do Moura, em Caruaru, onde o Mestre Vitalino deu vida, já há bastante tempo, a esta arte incessante. A justa homenagem sob a trilha sonora de nada mais, nada menos de “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, acabou servindo como um alento para a comunidade do filho mais ilustre da Capital do Agreste, haja vista a dura realidade conforme atualmente ela está passando. Horas antes da realização da cerimônia, mais precisamente pela manhã, um grupo de moradores se concentrou na entrada da localidade para dar início a um protesto cobrando mais segurança em suas ruas e avenidas.

Trajados em sua maioria com camisas pretas e com cartazes nas mãos, os manifestantes circularam pela comunidade chamando a atenção dos demais populares e da própria Polícia Militar, que se encontrava dando o auxílio necessário para o desenrolar da ação. Um segundo ato, desta vez na noite da última quarta-feira (24) e contando com o mesmo cronograma, também foi promovido por um quantitativo de protestantes ainda maior. Dentre eles estava o artesão Helton Rodrigues, que possui um ateliê na Avenida Mestre Vitalino. Se fosse para ele enumerar o número de crimes que tem conhecimento e que ocorreram recentemente na comunidade, não caberia nos seus dedos. Para a reportagem VANGUARDA, o artesão tentou resumir os casos sabidos.

“O Alto do Moura vem passando por um problema de segurança muito sério. Hoje, os pais de famílias têm sido roubados nos pontos de ônibus, as casas e os estabelecimentos comerciais vêm sendo arrombados, os veículos estão sendo furtados e a polícia não tem dado conta de tanta violência. Para se ter ideia, assim que a unidade itinerante da Polícia Militar seguiu para outra comunidade, uma pessoa foi assassinada nas imediações, bem como alguns automóveis foram levados. Eu mesmo já fui uma das vítimas desses bandidos. Recentemente, dois deles invadiram o meu ateliê e furtaram dinheiro e mercadorias. Hoje, pelo menos 90% da população do Alto já foi roubada. Um absurdo!”.

O também artesão Rogério Senna foi outro a sentir na pele a sensação nada agradável de ser assaltado. Para ele está faltando uma atenção maior por parte das autoridades. “A prática de roubos tem sido constante por aqui e não estou vendo muita disposição por parte não só da PM, mas também das demais instituições envolvidas com o nosso sistema de segurança para resolver esse problema que vem aterrorizando bastante a todos nós moradores. Queremos mais policiais atuando nas nossas ruas. Todo mundo sabe que o Alto do Moura é um polo turístico de Caruaru e não pode ficar a mercê dos criminosos. Se não há segurança, os turistas e os próprios moradores locais deixam de nos visitar e todos saem perdendo. Depois que levaram a minha moto, passei a viver com medo”, desabafou.

De acordo com a autônoma Hilda Maria, no Alto do Moura, a prática de crimes não tem se restringido a apenas um horário. “A minha prima, por exemplo, que também é minha vizinha, teve a sua casa arrombada em plena 1h30 da tarde. Levaram praticamente tudo. Jamais imaginei que os bandidos teriam coragem de fazer isso tudo ao luz do dia, mas estava enganada. Aqui no Alto do Moura, eles têm pintado e bordado do início da manhã até a madrugada. A comunidade anda tão assustada que, à noite, as ruas têm parecido um deserto. Quem é doido de colocar os pés para fora?”, questionou. Segundo informações repassadas à reportagem VANGUARDA, os crimes estariam sendo realizados por meliantes oriundos de comunidades circunvizinhas.

Tida como uma das principais líderes dos protestos realizados, a artesã Roseli Maria afirmou que os atos em prol do combate à violência não irão acabar na comunidade. “Enquanto a paz e o sossego não voltarem a reinar no Alto do Moura continuaremos com as nossas manifestações pacíficas. Infelizmente o número de assaltos e arrombamentos tem crescido a cada dia e, quando a polícia vem chegar até aqui, os bandidos já se encontram muito longe. Queremos que a polícia e as demais autoridades resolvam de uma vez esta questão da segurança no Alto do Moura, porque não aguentamos mais. Após a saída da unidade móvel da PM, os criminosos aproveitaram para fazer a limpa por aqui.”

PM

Diante de tantas críticas e cobranças por parte da população local, o VANGUARDA acabou entrando em contato com o assessor de imprensa da Polícia Militar, capitão Edmilson Silva. Por telefone, o policial afirmou que a corporação tem feito o que está ao seu alcance. “Contamos com uma viatura exclusiva para o Alto do Moura e região e as ações de combate à criminalidade têm sido constantes. Costumamos dizer que segurança não se faz apenas com o trabalho da Polícia Militar, mas infelizmente esta última, na maioria dos casos, é a única cobrada por isso, mas reiteramos: o que cabe à PM, ela tem feito. Em relação ao trailer ou unidade móvel, precisamos ressaltar que o equipamento possui caráter itinerante, ou seja, não pode ficar limitado somente a uma comunidade.”

O capitão destacou ainda a importância do repasse de informações por parte dos moradores, bem como o registro de queixas das vítimas para que a polícia possa chegar aos bandidos o mais rápido possível. Eles podem entrar em contato com a PM, através dos telefones 190 e 99488-3439.

Pedro Augusto é jornalista e repórter do Jornal VANGUARDA.

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