Do Blog do Jamildo
A duas semanas de deixar o Palácio do Campo das Princesas, o governador João Lyra Neto (PSB) questionou a capacidade de liderança do sucessor, o governador eleito Paulo Câmara (PSB), durante a entrevista de final de ano concedida ao Blog de Jamildo e ao Jornal do Commercio; disse que o processo de escolha de Câmara como candidato foi equivocado e alegou que Paulo não poderá depender da história do ex-governador Eduardo Campos.
“Eu não acredito em substituição de liderança. E nem que o cargo faz da pessoa líder”, cravou o atual governador durante a conversa de uma hora e meia concedida em seu gabinete, no primeiro andar do Palácio. “Eduardo Campos tinha o legado ideológico do Dr. Arraes e passou trinta anos até ser governador. A começar como chefe de gabinete, deputado estadual, secretário duas vezes, deputado federal e ministro de estado. Então tinha uma trajetória, diferentemente do governador Paulo Câmara. Ele surgiu em um momento em que tinha Eduardo Campos como líder”, afirmou.
Lyra foi vice de Eduardo Campos durante mais de sete anos. Apoiou o ex-governador, falecido em agosto, quando ele amargava 3% das intenções de voto nas pesquisas, em 2006. Como vice, foi um aliado fiel e, por isso, até o início de 2014, acreditava ser o candidato natural à sucessão estadual. “Todos os governadores eleitos – com exceção de Eduardo Campos, que substituiu essa trajetória porque foi ministro -, ou foram vice governadores ou prefeito do Recife. Sem exceção, ganhando ou perdendo a eleição”, diz.
Nos bastidores, o que se comenta é que Lyra teria ficado magoado ao ser preterido por Câmara. Questionado, ele nega, mas não deixa de criticar o processo de escolha da candidatura de Paulo por Eduardo, que na época buscava um nome jovem com condições de representar a tese de “nova política” que seria adotada na campanha presidencial.
“O que aconteceu na decisão? A forma foi equivocada do governador Eduardo Campos. Deveria ter feito uma ampla discussão na escolha do candidato. Então, não houve essa discussão. Eu vim saber no dia em que Paulo Câmara foi anunciado. E disse a ele numa conversa reservada. Houve um equívoco. Mas isso foi praticado por Eduardo Campos como líder do partido e líder do Estado”, confessa.
“Aí aconteceu a tragédia. Vamos ter que construir ou reconstruir essa liderança. E tem que ser conquistada pelo líder. Não pode ser delegado: fulano vai ser meu substituto. Não existe isso. Dr Arraes não disse que Eduardo ia ser seu sucessor. Apenas Eduardo conquistou através de sua trajetória a condição de ser o líder do PSB estadual e nacionalmente”, afirma ainda. Durante a campanha, mais de uma vez, o filho de Eduardo, João Campos, pediu voto para Paulo Câmara dizendo que ele teria sido escolhido pelo pai para ser o novo líder de Pernambuco.
Desde a morte de Eduardo Campos, Paulo Câmara e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, têm se cacifado como os principais líderes do PSB em Pernambuco, apesar de serem técnicos sem muita experiência política. João Lyra, por outro lado, faz questão de dizer que a liderança do partido no Estado ainda precisa ser construída e que não basta ser prefeito ou governador para comandar a legenda.
“São dois cargos importantes. Duas pessoas respeitadas. Mas vão ter que construir suas lideranças”, lembrou. “O líder tem os liderados independentemente do cargo. O cargo fortalece. Quem vai ser o líder futuro do PSB? Sinceramente, só o tempo vai dizer”, disse.
Perguntado se Paulo Câmara precisa descolar sua imagem da do ex-governador Eduardo Campos após assumir o mandato, o caruaruense alertou que a gestão de Câmara precisa estar descolada da história deixada pelo padrinho político.
“Sabe qual a questão? Eduardo foi um grande governador que encerrou tragicamente sua trajetória. Ele faz parte da história. A realidade para Paulo Câmara como governador vai começar 1º de janeiro”, avisa o caruaruense.
“Conselho não se dá, mas desejo que ele cumpra todos os compromissos assumidos durante a campanha. Independentemente da equipe que convocou. Ele tem um compromisso: com o povo pernambucano. Ele vai ser julgado pelo seu governo”, deixou o recado.