Dólar
Como o ajuste fiscal aprovado no Congresso não será suficiente para estabilizar as contas públicas, a consequente percepção de aumento de risco deve seguir impactando a taxa de câmbio — que chegou ao maior patamar da história ao atingir R$ 6,26 por dólar antes do Natal e, hoje, é cotado a R$ 6,15. Diante desse cenário, qualquer planejamento de expansão dos negócios precisa ser avaliada com cautela pelos empresários, na avaliação da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).
A Entidade alerta que, no curto prazo, não há sinais de que a moeda brasileira consiga obter qualquer valorização sustentável. Dessa forma, frente ao câmbio desvalorizado, o que se espera é maior pressão sobre a inflação, já que haverá um aumento no preço das importações. Nesse contexto, é necessário que as empresas se protejam, procurando, no caso daquelas que tenham obrigações em dólar, apostar em fundos que estejam vinculados à moeda, já que os riscos do mercado cambial são grandes.
Para o varejista em geral, a recomendação é buscar produtos substitutos nacionais ou melhorar as condições negociadas com os parceiros de fora do País — principalmente os asiáticos, já que há uma clara superprodução da China. Por fim, os empresários devem evitar exposições ou alavancagens, realizando empréstimos apenas em último caso, já que as taxas de juros tendem a ficar mais altas.
Quanto às vendas de fim de ano, não há perspectivas de mudança, considerando que os estoques já estavam abastecidos e o cenário de emprego e renda em alta deve garantir bons resultados, ainda que seja importante destacar que as turbulências dos últimos dias e a inflação acima do teto da meta podem afetar, negativamente, a confiança dos consumidores. De qualquer forma, o balanço ainda tende a ser positivo, de acordo com projeções da Federação.
Há problema fiscal no País?
Não é de hoje que o mercado vem apontando para o risco da política fiscal expansionista, adotada pelo governo para incentivar o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Esse crescimento dos gastos está deslocando recursos do setor privado, aumentando os juros e espantando investimentos do País.
Para se ter uma ideia, nos últimos dois anos, a relação entre dívida e PIB cresceu quase 10 pontos porcentuais (p.p.), enquanto a inflação já ultrapassou o teto da meta, atingindo 4,87% no acumulado dos últimos 12 meses até novembro — lembrando que a meta é de 3%, com margem de tolerância de 1,5 p.p. para cima ou para baixo. Esses sinais indicam que as contas públicas estão descontroladas, afetando a inflação corrente.
Como a FecomercioSP já argumentou, o pacote fiscal não será suficiente, já que as medidas não foram desenhadas para cortar custos, mas para diminuir o ritmo de crescimento das despesas. Além disso, a negação do problema fiscal, pelo governo, reduz ainda mais a confiança nas suas ações, escancarando que a atual conjuntura parece insustentável, o que contribui para a saída de recursos em dólar do Brasil, desvalorizando o real.
A alta da moeda estadunidense também tem razões externas, como o receio que o governo de Donald Trump cumpra as promessas de campanha, ao trazer a produção de volta aos Estados Unidos — ocasionando o aumento de custo em razão de mão de obra e matéria-prima mais caras — e elevar tarifas de importação. Ambas as medidas são inflacionárias e, se implementadas, podem forçar o Banco Central do país a aumentar os juros. Isso atrairia capital para lá, enfraquecendo moedas emergentes, como o real.
Contudo, a desvalorização da moeda brasileira é mais intensa quando comparada a outras, e isso pode ser explicado por fatores internos. No curto prazo, os gastos do governo podem dar uma falsa impressão de prosperidade. O mercado de trabalho está aquecido, há aumento da renda e estamos diante da menor taxa de desemprego da história. Contudo, é preciso estar atento aos problemas estruturais que a economia do País enfrenta e que não são tratados com a prioridade necessária para combater, de fato, a questão.
Sobre a FecomercioSP
Reúne líderes empresariais, especialistas e consultores para fomentar o desenvolvimento do empreendedorismo. Em conjunto com o governo, mobiliza-se pela desburocratização e pela modernização, desenvolve soluções, elabora pesquisas e disponibiliza conteúdo prático sobre as questões que impactam a vida do empreendedor. Representa 1,8 milhão de empresários, que respondem por quase 10% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro e geram em torno de 10 milhões de empregos.