Por BERNARDO MELLO FRANCO
Da Folha de S. Paulo
Ao formalizar que Marina Silva será candidata a vice-presidente, o PSB dará início amanhã a um esforço para tentar acelerar a transferência de votos da ex-senadora para Eduardo Campos.
O ato em Brasília abrirá uma nova etapa na trajetória da dupla, que agora lutará para se aproximar de Aécio Neves (PSDB) na disputa pelo segundo lugar na corrida ao Palácio do Planalto.
A prioridade é deixar claro que Campos será o cabeça de chapa e sinalizar aos financiadores de campanha que ele tem chance de ultrapassar o tucano e chegar ao segundo turno contra a presidente Dilma Rousseff (PT).
Se fosse candidata a presidente, Marina teria hoje quase o dobro dos votos do aliado. Ela chega a 27% no cenário com Dilma e Aécio. Quando Campos aparece como candidato, alcança apenas 10% no cenário com os nanicos, aponta o Datafolha.
A diferença mostra que a ex-senadora ainda é muito mais conhecida e popular que o aliado. A união dos dois foi selada há seis meses, mas a migração de votos não ocorreu no ritmo esperado.
Políticos próximos a Campos reclamam, nos bastidores, que o programa de TV do partido teria contribuído para o problema, ao não deixar claro que ele é o candidato à Presidência. A propaganda foi ao ar no último dia 27.
Com o anúncio de amanhã, Campos pretende sepultar de vez as especulações sobre a possibilidade de uma inversão de chapa, com Marina à frente e o ex-governador assumindo a vice-presidência.
A ideia sempre foi rechaçada pelos dois, mas ainda acalentava esperanças de “marineiros” e empresários que se aproximaram da ex-senadora na eleição de 2010, quando ela ficou em terceiro lugar na corrida presidencial.
“Em nenhum momento essa hipótese foi cogitada. Nem pela Rede, nem por nós”, afirma o secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira.
Campos e Marina iniciam agora uma maratona de viagens pelo Brasil, com a meta de dar a maior visibilidade possível à chapa. Devem visitar 150 cidades até junho, mês das convenções partidárias.
Como a campanha oficial ainda não começou, eles terão que marcar palestras e visitas a entidades como universidades, sindicatos e associações comerciais.
“Vamos marcar o máximo de agendas com os dois juntos. A prioridade é mostrar ao país todo que eles estão unidos pelo mesmo programa de desenvolvimento sustentável”, diz Pedro Ivo Batista, da coordenação da Rede, o futuro partido de Marina.
Depois da Copa do Mundo, os dois devem cortar o “cordão umbilical” e passar a fazer viagens separados, numa estratégia para visitar mais regiões e compensar o pouco tempo que terão na TV.
Eles ainda apostam no apoio de intelectuais e artistas e convidaram o escritor Ariano Suassuna, 86, para estrelar o ato de amanhã.
O grupo de Marina retardava o anúncio da chapa numa tentativa de obter mais concessões do PSB na montagem dos palanques estaduais. Ainda há impasses em ao menos nove Estados, incluindo os mais populosos do país: São Paulo e Minas Gerais.
A Rede quer lançar mais candidaturas próprias, mesmo que nanicas, para se registrar como partido independente em 2015.