Coluna da Semana: Os fichas-sujas

Por Menelau Júnior

Fruto da iniciativa popular, com 1,6 milhão de assinaturas, a Lei da Ficha Limpa foi aprovada em 2010 e sancionada pelo Congresso e pelo ex-presidente. Pretendia-se tornar inelegíveis os políticos condenados por corrupção, improbidade, quebra de decoro e abuso de poder econômico. O Supremo Tribunal Federal indicou que a Lei só valeria a partir de 2012. E assim, acabou mais um episódio em que nossos políticos fichas-sujas se safaram das frágeis leis brasileiras. Em todos os órgãos de imprensa, o assunto foi amplamente divulgado e comentado na época. Vamos aproveitar e explicar o porquê de o plural de “ficha-suja” ser “fichas-sujas”.

Quando estamos lidando com substantivos compostos, devemos observar a classe gramatical de cada palavra que forma o vocábulo. No caso de “ficha-suja”, temos a junção de “ficha”, que é um substantivo, e “suja”, um adjetivo. Ao pluralizarmos um composto, normalmente colocamos no plural as palavras que pertencem à classe dos substantivos, dos adjetivos e dos numerais. Exatamente por isso temos o plural “fichas-sujas”.

E já que falamos em fichas-sujas, não podemos nos esquecer do MST, organização que também coleciona crimes em seu vastíssimo currículo de “reivindicações”. Por que a imprensa usa “os sem-terra”?

Para os que defendem a forma invariável, a explicação é a seguinte: o substantivo “sem-terra” seria uma redução de “trabalhador sem terra”. E quando temos um composto ligado por preposição, apenas o primeiro elemento varia. Assim sendo, o plural seria “trabalhadores sem terra”. Como “trabalhadores” acaba ficando elíptico, sobra apenas “sem-terra”: “os sem-terra”.

Na hora de usar o plural de um substantivo composto, é preciso sempre ter cuidado. Num dos primeiros escândalos do governo Lula (foram tantos…), o ex-presidente usou várias vezes a expressão “máquinas caças-níquel”. Essas nunca existiram. “Caça” é verbo e “níquel” é substantivo. A língua portuguesa só admite “caça-níqueis”.

Menelau Júnior é professor de português

Coluna: Educação: as pedras no meio do caminho

Por Menelau Júnior

Divulgado no início do mês, o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou uma realidade que expusemos neste espaço há algumas semanas: o ensino médio no Brasil é desastroso. Em 16 estados brasileiros, a meta do governo não foi alcançada. E, diga-se de passagem, as “metas” são notas na casa dos 4 pontos. Parece piada: o Brasil está lutando para ter uma nota quatro.

Os números oficiais também mostram que, nos anos iniciais do ensino fundamental, as metas estão sendo cumpridas. Mas a partir do 6º ano os problemas se intensificam. No 9º ano, quando os alunos terminam o ensino fundamental, o rendimento deles já está bem abaixo do esperado. Quem vai segurar a “bomba”? Os professores do ensino médio, claro. Recebem alunos incapazes de entender um texto, sem conhecimentos mínimos em matemática e “viciados” em aprovações que envergonhariam qualquer aluno medíocre de países desenvolvidos.

É importante salientar, claro, que o Ideb – assim como o Enem – não deve ser o único meio para considerar melhorias na educação, mas é um indicador. Fatores como tempo que o aluno passa na escola, realidade sociocultural e econômica devem ser levados em conta. A formação dos professores também. Aliás, aí está outro problema: a cada ano cai o número de alunos que ingressam em cursos de licenciatura. O caso mais grave é o do curso de Letras, que teve uma diminuição de 13% no número de matrículas entre 2012 e 2013. Resumindo: professores formam juízes, advogados, engenheiros, médicos, jornalistas. Mas os jovens não querem ser professores.

Caiu também, pela primeira vez nos últimos 10 anos, o número de alunos que concluem um curso superior. A redução ficou em torno de 5%. Mas o ministério da Educação comemorou o aumento no número de matrículas, que foi de 3,8%. Em outras palavras, para o governo o importante é dizer que os alunos estão chegando à universidade. Se vão sair, isso é um problema deles. E não é preciso pensar muito para entender porque está caindo o número de formandos do ensino superior: muitos chegam à universidade sem hábitos de estudos, sem conhecimento necessário e precisando trabalhar.

As médias que permitem aprovação em muitos cursos ficam abaixo de 3,0. Ou seja, há uma “bola de neve” na educação brasileira: os alunos saem muito ruins do ensino fundamental, ficam ainda piores no ensino médio e são jogados nas universidades. Pesquisa feita no Distrito Federal revelou que 50% dos alunos que terminam um curso superior são analfabetos funcionais – não conseguem entender um texto mais complexo, mesmo em sua área de atuação.

No Brasil da propaganda governamental, basta falar em construção de universidades, em programas de financiamento para que boa parte acredite em reais avanços. É o populismo desavergonhado a serviço da mediocridade. Há muitos cursos de universidades públicas sem alunos, sem estrutura adequada, sem professores assíduos. Enquanto isso, de cada R$ 100 arrecadados no Brasil, R$ 57 ficam com o governo federal, R$ 25 com os 26 estados e o Distrito Federal e apenas R$ 18 com os 5.700 municípios.

Aos estados e municípios cabe a educação básica, área em que está o grande problema da educação brasileira – o número de alunos é infinitamente superior aos da educação superior e a verba é infinitamente menor. Sem resolver o problema na base, oferecendo escolas com infraestrutura decente, com professores bem-remunerados e motivados, precisaremos maquiar as universidades para dizer que estamos avançando na educação. E o pior: precisaremos de metas ridículas para justificar esse avanço.

Menelau Júnior é professor de português

Artigo: Administração escolar no Brasil

Por Alexei Esteves

O estudo da história da educação brasileira revela que o tema da democratização, associado ao da universalização do ensino, salvo em alguns momentos de enfraquecimento, vem traduzindo-se em uma preocupação constante nos debates educacionais. A discussão sobre a qualidade, por sua vez, apesar de estar presente, de alguma forma, desde o “otimismo”, manifestou-se de forma mais explícita em movimentos específicos (Escola Nova e Tecnicismo), até atingir seu ápice nos anos 1990.

Nessa década, dentro de uma ótica progressista, a qualidade será mais um elemento pelo qual se deve lutar, portanto como uma extensão de direitos, em que se defende uma escola pública, gratuita e democrática. Porém, sob a inspiração de uma pedagogia de caráter neotecnicista, decorrente das idéias neoliberais que iriam desaguar com maior ímpeto, nesse ínterim, a problematização acerca da qualidade, assumida pelo discurso de cunho neoliberal, irá embotar a preocupação com a democratização da educação e da sociedade.

O problema da qualidade será aí compreendido dentro da lógica produtiva empresarial. Segundo esse prisma, não há falta de vagas e nem de recursos, mas uma ineficiência da administração escolar pública.

Ambas as posições, porém, irão reconhecer a importância da gestão educacional, e mais especificamente, da gestão escolar, como uma das formas de concretizar essa qualidade. Os setores progressistas, entendendo a qualidade dentro de uma concepção mais ampla, lutarão por formas mais justas de organização escolar. Os setores conservadores, contudo, irão proclamar por novas formas de gestão com o objetivo de promover a eficiência no campo educacional.

Assim, se no movimento escolanovista a qualidade esteve relacionada aos meios de aprendizagem, e no tecnicismo às técnicas implementadas no processo de ensino, na década de 1990, essa dimensão estará associada, entre outros aspectos, à gestão escolar, ou melhor, à gestão democrática escolar. Há que se alertar que a importância conferida à administração não pode ser considerada como um fenômeno circunstancial ou uma simples corrente acadêmica. Na verdade, a atenção concedida a ela, atualmente, deve ser compreendida como uma questão dotada de historicidade, pois, como se viu, tem sido objeto de investigação sistemática desde a década de 1960.

A idéia é que a ênfase na gestão democrática da unidade escolar é influenciada pela dinâmica dos movimentos que a antecederam – analisados aqui sob as categorias democratização e qualidade escolar. Contudo, é preciso elucidar que a importância que irá adquirir a temática gestão democrática no meio acadêmico e no campo das políticas públicas educacionais fará com que esta problemática seja mais do que um desdobramento das categorias acima referidas e se consubstancie em um outro movimento de suma importância nos debates educacionais.

Esse movimento está relacionado com uma dinâmica de focalização da escola, que se apresenta nitidamente, no Brasil, a partir da década de 1980. A valorização da organização escolar implicará o reconhecimento das unidades de ensino como locais dotados de uma margem de autonomia pedagógica e administrativa. Sob a orientação dessa valorização, a gestão escolar passará a ser objeto de atenção dos sujeitos envolvidos, direta ou indiretamente, com a educação.

Artigo: A arte de influenciar pessoas

Por Claiton Fernandez

A literatura corporativa está repleta de livros que prometem revelar as “técnicas ocultas” utilizadas pelos grandes líderes para influenciar e mobilizar pessoas.

O psicólogo norte-americano Howard Gardner, um dos renomados pesquisadores da Universidade de Harvard, elaborou, ao longo de uma década, uma espécie de raio-x dos cérebros mais influentes da história. Focalizando da primeira ministra britânica Margaret Thatcher ao superCEO Jack Welch, ele analisou como essas personalidades “mudaram a cabeça” de outros indivíduos. O resultado da pesquisa deu origem ao livro Changing Minds – The Art and Science of Changing Our Own and Other People’s Minds (na tradução literal, Mudando Ideias – A Arte e Ciência de Mudar as Ideias Próprias e de Outras Pessoas). A obra comprova que, ao contrário do que se imaginava, a ciência da persuasão vai muito além dos exercícios de oratória ou das nuances da linguagem corporal.

Acreditava-se até então que influenciar pessoas era uma habilidade comportamental e não intelectual. Uma pesquisa bastante conhecida na área de Programação Neurolinguística, por exemplo, pregava que apenas 7% da comunicação interpessoal ocorre através das palavras. A entonação da voz responderia por 38% da mensagem, enquanto a postura corporal e as expressões do rosto transmitiriam nada menos do que 55% das informações captadas pelo cérebro humano.

Diziam que o cantor é mais importante do que a canção. Da mesma forma, quem fala é mais importante do que aquilo que está sendo falado. No entanto, descobriu-se que os líderes mais influentes do mundo expõem suas ideias de uma forma racional e sistemática – e com uma estrutura de argumentação envolvente. Resumindo, as palavras têm muito mais importância no discurso persuasivo do que se pensava.

Na verdade, a mente processa e arquiva informações de diversas formas. Cada ideia que temos é representada ou por uma imagem, ou por um som ou por outros tipos de signos mentais. Para mudar uma pessoa, ou suas opiniões, é necessário, portanto, remodelar essas roupagens que a mente dá a cada ideia. E isso pode ser feito de várias maneiras, inclusive conversando.

Não que a neurolinguística esteja ultrapassada, mas a pesquisa ajudou a desvendar, de quebra, por que algumas pessoas conseguem mover multidões com o dom da palavra. Hoje, provocar mudanças é uma habilidade obrigatória para qualquer líder. Na atual dinâmica da economia global, as empresas são obrigadas a estarem sempre em compasso de transição.

O problema é que raramente as pessoas estão preparadas para mudar na velocidade que o mundo dos negócios exige. Pelo contrário, por natureza, a mente humana prefere as mordomias da estabilidade às incertezas da mudança. Os indivíduos geralmente criam uma fixação pelos hábitos e comportamentos que se mostraram eficazes no passado.

A tendência à acomodação é uma verdadeira dor de cabeça para os gestores que tentam implantar novos paradigmas em suas empresas. Sem a devida preparação, dificilmente eles conseguem contornar as resistências e levar seus projetos adiante. Influenciar pessoas está cada vez mais difícil.

Claiton Fernandez é palestrante, consultor e educador. Autor dos livros “Caminhos de um Vencedor” e “Da Costela de Adão à Administradora Eficaz”. Site: www.claitonfernandez.com.br .

Coluna: Educação: as pedras no meio do caminho

Por Menelau Júnior

Divulgado no início do mês, o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) revelou uma realidade que expusemos neste espaço há algumas semanas: o ensino médio no Brasil é desastroso. Em 16 estados brasileiros, a meta do governo não foi alcançada. E, diga-se de passagem, as “metas” são notas na casa dos 4 pontos. Parece piada: o Brasil está lutando para ter uma nota quatro.

Os números oficiais também mostram que, nos anos iniciais do ensino fundamental, as metas estão sendo cumpridas. Mas a partir do 6º ano os problemas se intensificam. No 9º ano, quando os alunos terminam o ensino fundamental, o rendimento deles já está bem abaixo do esperado. Quem vai segurar a “bomba”? Os professores do ensino médio, claro. Recebem alunos incapazes de entender um texto, sem conhecimentos mínimos em matemática e “viciados” em aprovações que envergonhariam qualquer aluno medíocre de países desenvolvidos.

É importante salientar, claro, que o Ideb – assim como o Enem – não deve ser o único meio para considerar melhorias na educação, mas é um indicador. Fatores como tempo que o aluno passa na escola, realidade sociocultural e econômica devem ser levados em conta. A formação dos professores também. Aliás, aí está outro problema: a cada ano cai o número de alunos que ingressam em cursos de licenciatura. O caso mais grave é o do curso de Letras, que teve uma diminuição de 13% no número de matrículas entre 2012 e 2013. Resumindo: professores formam juízes, advogados, engenheiros, médicos, jornalistas. Mas os jovens não querem ser professores.

Caiu também, pela primeira vez nos últimos 10 anos, o número de alunos que concluem um curso superior. A redução ficou em torno de 5%. Mas o ministério da Educação comemorou o aumento no número de matrículas, que foi de 3,8%. Em outras palavras, para o governo o importante é dizer que os alunos estão chegando à universidade. Se vão sair, isso é um problema deles.

E não é preciso pensar muito para entender porque está caindo o número de formandos do ensino superior: muitos chegam à universidade sem hábitos de estudos, sem conhecimento necessário e precisando trabalhar. As médias que permitem aprovação em muitos cursos ficam abaixo de 3,0. Ou seja, há uma “bola de neve” na educação brasileira: os alunos saem muito ruins do ensino fundamental, ficam ainda piores no ensino médio e são jogados nas universidades. Pesquisa feita no Distrito Federal revelou que 50% dos alunos que terminam um curso superior são analfabetos funcionais – não conseguem entender um texto mais complexo, mesmo em sua área de atuação.

No Brasil da propaganda governamental, basta falar em construção de universidades, em programas de financiamento para que boa parte acredite em reais avanços. É o populismo desavergonhado a serviço da mediocridade. Há muitos cursos de universidades públicas sem alunos, sem estrutura adequada, sem professores assíduos. Enquanto isso, de cada R$ 100 arrecadados no Brasil, R$ 57 ficam com o governo federal, R$ 25 com os 26 estados e o Distrito Federal e apenas R$ 18 com os 5.700 municípios.

Aos estados e municípios cabe a educação básica, área em que está o grande problema da educação brasileira – o número de alunos é infinitamente superior aos da educação superior e a verba é infinitamente menor. Sem resolver o problema na base, oferecendo escolas com infraestrutura decente, com professores bem-remunerados e motivados, precisaremos maquiar as universidades para dizer que estamos avançando na educação. E o pior: precisaremos de metas ridículas para justificar esse avanço.

Menelau Júnior é professor de português

OPINIÃO: Instrumentação cirúrgica: quem paga esta conta?

Por CADRI MASSUDA*

Nos últimos anos, a instrumentação cirúrgica vem situando-se como peça importante na equipe para a realização de procedimentos médicos. Apesar de ter alcançado este reconhecimento, ainda há muito o que ser ajustado.

Assim como cresce o trabalho deste profissional na equipe, os problemas em relação a ele têm aumentado, principalmente porque não há ainda uma forma adequada de remuneração. As tabelas de honorários médicos (CHPM ou AMB) que são adotadas pela maioria dos convênios médicos, não contemplam estes pagamentos.

Há alguns anos atrás, a Associação Médica Brasileira tentou normatizar, indicando que o valor deveria ser de 10% do valor da cirurgia. Entretanto, há uma insatisfação do profissional quanto a estes valores, pois em alguns casos é uma remuneração não condizente com o trabalho realizado e isto faz com que ninguém o pratique.

Essa ausência de regulamentação resulta em grandes discrepâncias de cobranças e falta de padronização. Alguns exigem pagamento antes do procedimento, outros permitem que seja após. Em determinados casos, o médico recebe os honorários referentes à instrumentação, em outros, é o hospital. E os valores variam de forma absurda: há profissionais que cobram até 400% a mais do que outros.

Muitas vezes, cirurgias são desmarcadas ou adiadas porque o paciente – segurado de um plano de saúde – não acha justo este pagamento. E então, ocorre o conflito “instrumentador x segurado x plano de saúde”. Na maioria dos casos, o beneficiário realiza o pagamento para depois ser reembolsado pelo convênio.

Entretanto, a falta de regulamentação prejudica a todos os envolvidos neste processo: operadoras de planos de saúde que não podem contar com a uniformidade dos valores cobrados, os próprios instrumentadores que não têm legislação que garanta seus direitos e pacientes, que precisam arcar com despesas obrigatórias mesmo contando com plano de saúde.

É necessário que ANS, associações médicas e entidades de classe que representam os profissionais de instrumentação cirúrgica entrem em acordo para que a lacuna seja preenchida e que haja regulamentação. Assim, as operadoras de saúde poderão fazer o pagamento devido a esses profissionais que são fundamentais na rotina médica e os pacientes poderão ficar tranquilos de que não terão despesas extras na hora de realizar um procedimento cirúrgico.

*Cadri Massuda é presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo Regional Paraná e Santa Catarina

Opinião: Cadê o sotaque?

Por Menelau Júnior

Nos últimos dez dias, os programas jornalísticos deram uma atenção especial ao Rio Grande do Sul por causa de um episódio envolvendo a torcida do Grêmio. Não deve ter sido difícil perceber a pronúncia diferente dos jornalistas de lá quando usam palavras com a letra “r” no fim de alguma sílaba. “Porta”, “corpos” e “marcas” são apenas algumas.

O “r” pronunciado à moda sulista recebe o nome de “retroflexo”. É bastante comum também no interior de São Paulo. Quando um morador dessas áreas é entrevistado, logo se percebe a pronúncia “enrolada” da letra “r”. Mas por que normalmente os jornalistas tendem a não apresentar essa marca regional de forma tão contundente?

A resposta é simples: porque a maioria das redes de televisão tenta, com a ajuda de fonoaudiólogos, extirpar qualquer marca de regionalismo dos repórteres. Para muitas dessas redes, o “r” retroflexo é visto como algo “caipira”, “matuto”. Mudar a pronúncia é, pois, uma exigência para estar no ar em rede nacional.

O resultado, muitas vezes, soa esquisito. É estranho para um gaúcho ouvir um conterrâneo que fala sem as marcas linguísticas da região. No Rio, as TVs retiram o “s” chiado; no Nordeste, evita-se a fala meio “cantada”.

A intenção, óbvio, é uniformizar a língua. Vã tentativa. O idioma muda invariavelmente. Querer que  repórteres falem da mesma forma de norte a sul é como querer que todos os brasileiros pensem do mesmo jeito e tenham os mesmos hábitos. Esses falares regionais, que são marcas identitárias do povo, só aparecem na TV de forma estereotipada, principalmente no caso dos nordestinos.

A língua muda conforme suas próprias necessidades. As variações, muito mais que marcas de desorganização, constituem a base de todas as línguas, conferindo-lhes riqueza e soberania. As tentativas de uniformizar os falares são, portanto, artificialidades que a nada levam e que em muito prejudicam a identidade do povo. Mais importante que retirar à força as marcas regionais dos jornalistas seria dar-lhes autonomia para dar às reportagens a “cara” de cada região. E isso está intimamente ligado à forma como falamos.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

OPINIÃO: Os deficientes também precisam se divertir!

Por DOLORES AFFONSO*

Muito se fala na empregabilidade da pessoa com deficiência, na educação inclusiva, na sexualidade, na acessibilidade e mobilidade urbana, no acesso à saúde e até nas adaptações veiculares. Vemos a todo momento notícias sobre o desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência mas, muitas vezes, nos esquecemos de que são seres humanos e possuem desejos, necessidades, medos e alegrias como qualquer outra pessoa. Somos assunto, tema de debates, passeatas e de tratados internacionais, mas queremos ser mais do que isso!

Já diziam os Titãs: “Você tem fome de quê? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte!”. Sim, queremos acesso também ao esporte, à cultura, ao turismo e ao lazer. Os deficientes também precisam se divertir! Para se ter uma vida plena, é fundamental que isso aconteça.

Ainda há muito o que se fazer quando falamos em esporte adaptado. Não me refiro aqui somente ao esporte na escola ou nos centros e clubes esportivos. Sabemos que precisam ser revistos e investimentos devem ser feitos para que ofereçam a prática real do esporte e possam receber e promover a inclusão pelo esporte. Também não estou me referindo ao esporte profissional ou olímpico, pois é notória a capacidade dos deficientes; basta observarmos as paraolimpíadas e os grandes esportistas que temos no Brasil e no mundo. Na última olimpíada vimos, inclusive, deficientes competindo com pessoas sem deficiência como o sul-coreano Dong Hyun Im, de 26 anos, deficiente visual (baixa visão), que competiu no tiro com arco.

De uma forma geral, é preciso reconhecer a importância do esporte não somente como caminho para a reabilitação, mas como fonte de prazer, diversão. Isso inclui todos os tipos de atividades, artes marciais, esportes radicais etc. Muitas pessoas acham que, por sermos deficientes, não podemos praticar tais esportes. Bom, eu mesma já fiz arvorismo e mergulho e conheço vários deficientes que praticam surf, canoagem, escalada etc.

Outro ponto importante se refere ao turismo. É fundamental que haja rotas turísticas com adaptações, empresas especializadas e cidades preparadas para receber e atender, com qualidade, pessoas com deficiência, tanto nos hotéis e restaurantes, como nos passeios e demais eventos. Como, por exemplo, a cidade de Socorro, em São Paulo, premiada até por órgãos internacionais. Não é perfeita, é verdade, mas está no caminho certo!

Governantes, empresários e a sociedade em geral precisam se dar conta de que as pessoas com deficiência são cidadãos, contribuintes, consumidores e clientes como qualquer um. Viajam, apreciam a gastronomia, o teatro, o cinema, a música e a dança como qualquer pessoa.

Neste contexto, devemos ter atenção aos diversos tipos e opções de lazer, desde o cultural, ou seja, oferecer salas de cinema, peças teatrais, espetáculos, exposições etc. acessíveis, até os mais comuns, como passeios pela natureza e pela noite, como bares, boates etc.

Todos os espaços precisam ser acessíveis. Isso é bem difícil de se ver por aqui. No Brasil, é raro encontrar um museu onde haja possibilidades de um deficiente visual tocar as peças para conhecê-las ou ter audiodescrição das obras expostas, além da falta de acessibilidade física já conhecida nos espaços culturais.

No Congresso de Acessibilidade, evento gratuito e online com mais de 30 palestras e entrevistas que ocorre de 21 a 27 de setembro, discutiremos estes temas como forma de promover a qualidade de vida e a inclusão da pessoa com deficiência na sociedade. Participe! Dê sua opinião!

*Dolores Affonso é coach, palestrante, consultora, designer instrucional, professora e idealizadora do portal Congresso de Acessibilidade.

OPINIÃO: Por que Marina?

Por CRISTOVAM BUARQUE*

Porque o modelo do país dos últimos 20 anos se esgotou. Seus quatro pilares, que atravessaram os governos do PT e do PSDB coadjuvados pelo PMDB, entraram em fadiga.

A democracia do fisiologismo, da falta de princípios e ética, do caos partidário, já não satisfaz e o povo mostrou isso nas ruas.

A estabilidade monetária está ameaçada pelo descontrole nos gastos públicos e pela incerteza dos pacotes e da administração de preços. As transferências de renda não criaram portas de saída.

O crescimento econômico se apequenou e não mudou a cara do PIB que continua baseado em bens primários. E porque ela traz confiança e esperança.

Confiança de responsabilidade com a gestão econômica ao defender o Banco Central independente e o tripé da estabilidade fiscal. Certeza de que não haverá retrocesso nos avanços sociais, desde a transferências de renda enquanto forem necessárias, passando pelas cotas e os reajustes do salário mínimo acima da média dos salários.

Esperança de uma nova forma de diálogo com os políticos. Embora isso possa trazer riscos em um quadro onde as lideranças se acostumaram em vender apoio de forma fisiológica e corrupta, não é mais possível adiar esta nova postura na gestão pública.

Esperança na construção de mecanismos para libertar as populações pobres da necessidade de assistência. Assegurar que enquanto uma família precisar, receberá bolsas, mas o governo não descansará enquanto uma família ainda precisar delas.

Esperança na possibilidade de uma inflexão no modelo de desenvolvimento em direção não apenas à retomada do crescimento, mas também na construção de um novo perfil para o PIB, reorientado para bens e serviços modernos de alta tecnologia, e com sustentabilidade ecológica.

Convicção de que o vetor central para este novo tempo será a realização do sonho de Eduardo Campos resumido na frase que ele disse e repetia de que o Brasil só será um país como desejamos quando os filhos dos pobres estudarem nas mesmas escolas em que estudam os filhos dos ricos.

*Cristovam Buarque é professor da UnB e senador pelo PDT-DF

Opinião: Cinema, Caruaru e festival.

Por Daniel Finizola

É impressionante a dimensão que o cinema atingiu enquanto arte e produto cultural ao longo do século XX. Seu poder influência comportamentos e potencializa a indústria cultural em todo mundo. Basta o filme do Capitão América chegar nos cines dos shoppings de todo Brasil, para indústria de brinquedos, alimentos, roupas passarem a reproduzir as cores e o escudo dos Capitão América em seus produtos. Esse é o poder da indústria cultural. Tema amplamente debatido pela escola de Frankfurt em meados do século XX a partir de reflexões sobre a chamada “arte mercadoria”.

Mas o cinema é uma arte extremamente plural. Cheia de gêneros, formas cores, diálogos e sons. Para muitos o chamado “cinema arte” é chato. Nada explode, não tem necessariamente um herói e não há alienígenas de Marte. Esse é o modelo de cinema hollywoodiano de roteiros viciados. Não é preciso bola de cristal para saber o que vai acontecer no final. São filmes que não estimula a criticidade nem a criatividade, apenas reproduz um modelo Romântico do herói que vai salvar um mundo! Lógico que isso não é regra no cinema Norte Americanos.

Há vários diretores, roteiristas e atores em hollywood que presentearam o mundo com obras fantásticas. O Poderoso Chefão, Amadeus, Little Miss Sunshine, Forrest Gump são filmes que vão além daqueles roteiros que já deduzimos o final ao ver o trailer.  Recentemente O Lobo de Wall Street de Scorsese me chamou atenção.

Para os que gostam e querem entender melhor o cinema seus gêneros e variáveis eu vou dar um dica. Não deixe de acessar o blog caruaruense “Identidade Cinéfila”. Uma iniciativa do jornalista Bruno Cunha e da estudante Paula Lucatelli. Os dois são apaixonados por cinema e procuram mostrar todo a diversidade que envolve a sétima arte. Logo de cara você pode aprender um pouco sobre as diversas correntes cinematográficas e suas contribuições.

Já que estamos falando de cinema, não posso deixar de citar o Festival de  Cinema de Caruaru. O evento surge com o incentivo da Fundarpe para movimentar outra cena artistas caruaruense que vem ganhado destaque nos últimos anos. O Festival tende a estimular a interdisciplinaridade no campo acadêmica caruaruense. Curso como design, jornalismo, publicidade podem tirar grande proveito desse festival.

Consta na programação do evento atividade educativas que incentivaram a produção de filmes que retratem manifestações culturais locais. O festival terá como homenageado o ator Sebastião Alves (Sebá). Artistas que sempre se dedicou em propagar a cultura popular. As inscrições já estão abertas e segue até dia 10 de outubro. O Festival será realizado nos dias 18, 19 e 20 de novembro.

Mais informações acesse o blog do festival.

Blog Identidade Cinéfila: http://identidadecinefila.wordpress.com

Blog do Festival: http://festivaldecinemadecaruaru.wordpress.com

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br