A uma semana do segundo turno em São Paulo, o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, reduziu a distância do primeiro colocado na corrida eleitoral, o prefeito Bruno Covas (PSDB). Segundo o Datafolha, da pesquisa feita nos dias 17 e 18 para o levantamento desta segunda (23), Boulos passou de 42% para 45% dos votos válidos. Covas oscilou negativamente de 58% para 55%.
A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. O nível de confiança utilizado é de 95%. O instituto ouviu 1.260 pessoas. Encomendado pela Folha de S.Paulo, o levantamento foi registrado no Tribunal Regional Eleitoral com o número SP-0985/2020.
A contagem por votos válidos, que excluem os brancos e nulos, é a forma com que o TRE contabiliza o resultado. Para entender o movimento de Boulos, é importante olhar para os votos totais, que incluem também aqueles que não sabem dizer em quem votar além dos brancos e nulos.
Por esse critério, Covas, que venceu o primeiro turno, não se mexeu da rodada anterior para cá, mantendo-se com 48%. Já o psolista subiu cinco pontos, indo de 35% para 40%, atraindo para si eleitores que iam votar em branco ou anular (que caíram de 13% para 9%) e indecisos (que oscilaram de 4% para 3%).
Sem um fato de relevo que possa explicar a mudança, ela pode ser atribuída à eficácia da propaganda do PSOL, dado que no segundo turno ambos os candidatos têm o mesmo tempo de rádio e TV.
No primeiro turno, por cortesia de sua ampla coligação de dez partidos, o prefeito tucano tinha 3min29s por bloco de horário na TV, além de 25 inserções diárias.
Boulos contava com 17s em cada um dos dois blocos e duas inserções. Agora, ambos têm 5 minutos duas vezes ao dia e 25 inserções cada.
O principal grupo em que o candidato do PSOL avançou foi o dos mais jovens. Na semana passada, ele derrotava Covas entre eleitores de 16 a 24 anos por 59% a 35% dos votos válidos. Agora, vence por 65% a 35%.
Esse grupo representa 12% da amostra do eleitorado do Datafolha. Na faixa seguinte (25 a 34 anos), que corresponde a 20% dos ouvidos, houve oscilação no limite da margem: o psolista passou de 53% para 56%, enquanto o tucano foi de 47% para 44%.
No eleitorado intermediário em termos etários há um empate técnico: Covas tem 53%, e Boulos, 47%. Esse grupo, que compreende quem tem de 35 a 44 anos, equivale a 21% das pessoas entrevistadas.
O tucano vê sua vantagem aumentar bastante, o que lhe garante a liderança, nas faixas mais velhas da população. No volumoso grupo (25% da amostra) de quem tem de 45 a 59 anos, ele lidera por 58% a 42%, mesmo nível da semana passada. Já entre quem tem mais de 60 anos, 22% dos entrevistados, ele manteve a folgada liderança de 73% a 27%.
Aqui começa um problema adicional para o tucano. Como se viu no primeiro turno, houve uma alta abstenção na capital paulista (29,3%), que foi creditada pelos eleitores ouvidos na semana passada pelo Datafolha principalmente a questões de saúde.
Não fica claro se eles incluíam o medo de pegar Covid-19 na conta, até porque a pandemia só era citada como um item específico por 5% dos que não foram votar.
Seja como for, esse eleitorado mais velho faz parte do grupo de risco da doença, e pode ser mais suscetível à ideia de ficar em casa no próximo domingo (29). Os jovens, na mão inversa, teoricamente são mais mobilizáveis por Boulos.
Covas segue com relativa vantagem nos grandes grupos socioeconômicos. Ele lidera entre os menos escolarizados (67% ante 33% dos votos válidos), os mais ricos (56% a 44% na faixa de quem ganha mais de 10 salários mínimos e 62% a 38% entre os que ganham entre 5 e 10 mínimos). Os candidatos empatam tecnicamente quando são questionados aqueles com curso superior (52% votam em Boulos e 48%, em Covas).
No limite da margem com vantagem para o tucano, empatam entre os mais pobres (53% a 47% entre os que ganham até 2 mínimos e entre aqueles que recebem de 2 a 5 mínimos mensais). Esses dois grupos respondem pelo grosso do eleitorado: 79% da amostra.
Quando a ocupação do entrevistado é colocada em evidência, Covas repete seu bom desempenho entre os mais velhos, que talvez façam associação com o fato de que ele é o neto do governador Mario Covas (PSDB), morto em 2001 e que foi prefeito da capital de 1983 a 1985.
Entre aposentados, usualmente pessoas com mais idade, Covas lidera com 74% ante 26% de Boulos. Não é um grupo desprezível entre todos os pesquisados pelo Datafolha: somam 13% da amostra.
Já o psolista, que vem prometendo em debates fazer concursos públicos, previsivelmente se dá melhor entre o funcionalismo, repetindo o placar de 74% a 26% dos válidos em seu favor. Só que o grupo é menor, 3% da amostra.
A pesquisa cristalizou as tendências de migração de votos. O eleitor do terceiro colocado, Márcio França (PSB), que teve 13,4% dos votos válidos, dividiu-se: 45% vão de Covas e 41%, de Boulos, aqui usando o corte por voto total.
França não apoiou ninguém, apesar de ser adversário figadal de João Doria (PSDB), governador que era prefeito e de quem Covas herdou a cadeira em 2018.
Já quem votou em Celso Russomanno (Republicanos), o candidato do presidente Jair Bolsonaro na disputa, acompanhou o apoio do deputado a Covas: 72% votarão no tucano, ante 19% que preferem Boulos.
O psolista leva, como seria previsível, 79% dos votos do petista Jilmar Tatto (que teve 8,65%), enquanto Covas amealha 16% desse eleitorado.
Cresce agora também a certeza dos eleitores: passou de 81% para 86% aqueles que dizem que vão votar em determinado candidato –convicção igual (86%) para os apoiadores dos dois rivais.
Entre os 14% que podem mudar de ideia, 52% dizem que migrariam para o voto nulo ou em branco, com contingentes iguais de 21% dizendo que votariam no tucano ou no psolista.
A questão do número do candidato também vai deixando de ser problemático. Na semana passada, 65% acertavam a menção ao número; agora, são 74%, com índices semelhantes para Boulos e Covas.
Folhapress