Mesmo em um mundo onde as transações são realizadas cada vez mais por meio digital, cédulas e moedas ainda despertam um interesse que vai além do valor impresso ou cunhado. O lançamento da nota de R$ 200, com o lobo-guará estampado, é a prova mais recente disso.
Para algumas pessoas, colecionar dinheiro pode significar mais do que ter grana depositada em um banco. É a possibilidade de obter conhecimento. “Uma moeda ou cédula não é um pedaço de metal ou papel, mas da história. É um elemento de comunicação em massa fabuloso”, afirma o especialista Claudio Amato, 66 anos, que desde os 9 se interessa pela numismática, a ciência que estuda a cara e a coroa do dinheiro. Ele é autor de um dos catálogos mais detalhados sobre o tema.
Advogado e especialista em leilões, Bruno Pellizzari, 24, é diretor social e de divulgação da Sociedade Numismática Brasileira. Ele começou a se interessar pelo assunto no início da adolescência, ao tomar contato com as moedas estrangeiras que a avó trazia da Espanha. Na avaliação dele, a numismática tem um futuro que vai além das transações eletrônicas. “Não é um hobby só para pessoas aposentadas”, diz.
Parece até óbvio, mas colecionar dinheiro pode, sim, render uma boa grana. Em países como os Estados Unidos, é comum fundos de investimento aplicarem quantias volumosas em moedas ou cédulas raras. “A moeda é sua e de mais 50. Se quiser fazer só pelo dinheiro, esse é o caminho”, afirma Amato. “Há relato de quem comprou pelo valor de um almoço e, 20 anos depois, pagou uma operação do coração vendendo aquela cédula.”
A moeda brasileira mais valiosa entre colecionadores foi desprezada por dom Pedro 1º no baile da coroação, em dezembro de 1822. O pedaço de metal valendo 6.400 réis trazia o imperador brasileiro de busto nu, como um romano.
O especialista Claudio Amato conta que o primeiro imperador do Brasil ficou realmente insatisfeito com a homenagem. “Quando olhou para aquela moeda, dom Pedro 1º disse ‘sou militar, quero estar com traje militar’. Ele ficou meio bravo. A peça acabou ali”, conta.
A tiragem ficou limitada às 64 peças feitas até então. Duas permaneceram na Casa da Moeda, 62 foram distribuídas às famílias presentes na festa e, hoje, quase 198 anos depois, só 16 são conhecidas. Uma delas chegou a ser comercializada por US$ 500 mil (cerca de R$ 2,5 milhões). “A grande maioria está em museus”, afirma Pellizzari.
A Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, deixou um legado para a numismática brasileira por despertar o interesse de milhares de pessoas para as moedinhas comemorativas de R$ 1.
A brincadeira começou ainda em 2012, quando foram feitos 2 milhões de unidades representando a passagem da bandeira olímpica de Londres para a cidade brasileira.
Entre as pessoas que tiveram o interesse despertado pela moeda de R$ 1, em 2012, está o ajudante de adega Matheus Silva, 25. “Sempre gostei de coisas antigas. Mas só em 2012 obtive minha primeira moeda, a da bandeira. Consegui como troco e comecei a pesquisar”, conta.
Agora, Silva tenta em um dos muitos grupos de colecionadores no Facebook uma peça de prata, da coleção de 16 exemplares de R$ 1 lançados em 2016.
Hoje cobiçado, o lobo-guará não tem um futuro muito promissor, segundo os especialistas em colecionismo.
Laurence Matuck, 49, tem uma loja em um prédio na República (região central de São Paulo) que é um verdadeiro paraíso dos colecionadores de cédulas e moedas. Segundo ele, é muito improvável que a nota de R$ 200 se torne rara ou valiosa no futuro.
“Não acredito [que seja valiosa]. Como o país é muito grande, as emissões são grandes também. Salvo se tiverem que recolher no futuro, por causa do tamanho igual à cédula de R$ 20. Pode se tornar rara por causa disso”, afirma.
Folhapress