OPINIÃO: Datas, significados e memórias

Por ELAINE VILAR*

Nascido como um dia de luta dos trabalhadores, o 1º de Maio foi inicialmente proposto pela segunda Internacional Socialista, reunida em 1889 na cidade de Paris, para homenagear as lutas sindicais ocorridas nas ruas de Chicago, em 1886, pela redução da jornada de trabalho de 10 para 8 horas diárias. Os primeiros de maio dos anos seguintes se destacaram devido a manifestações trabalhistas convocadas por correntes e partidos comunistas em diversos países.

Em 1891, uma dessas manifestações, no norte da França, foi marcada pela morte de dez manifestantes como consequência da forte repressão policial ao evento. O fato fez com que a Internacional Comunista de Bruxelas adotasse a data como dia internacional de reivindicação de condições de trabalho.

Em 1919, o Senado francês ratificou o dia de 8 horas de trabalho e, para inibir as manifestações “comunistas”, proclamou o dia 1º de Maio como feriado. No ano seguinte, a União Soviética transformou o dia em feriado nacional e diversos outros países lhe seguem o exemplo.

Da história e significado original da data, pouco tem se mantido nos últimos anos. Na contemporaneidade nacional, assistimos centrais sindicais que promovem verdadeiros eventos de “Pão e Circo”, com show de bandas e artistas com cachês bem distanciado do salário dos trabalhadores, premiações e sorteios que nada fazem lembrar as bandeiras e reivindicações ou sacrifícios dos homenageados.

Chegamos ao ponto de nos perguntar: comemorar o que no primeiro de maio? Dia do Trabalho? Dia do Trabalhador? A data deveria nos lembrar que tantos direitos, hoje aparentemente banais, estão na mira das letras aniquiladoras de emendas e projetos de lei, a fim de atender interesses que nem se dão mais ao trabalho de se dizerem ocultos, uma vez que guardam seus espaços legais de poder e decisão nas bancadas da Câmara e do Senado Federal, pública e publicitariamente divulgados como um trunfo.

Mas se a memória falha ou se deixa corromper, a história não abre mão de suas sínteses trágicas e episódios irônicos. Episódio como o vivenciado pelos professores do Paraná parece querer reacender nossa memória e alertar-­nos para o significado original de lutas que não podem ser relegadas às regiões mais obscuras e profundas da memória, pois os ataques contra diretos de toda natureza não cessam.

A truculência do Governo do Paraná contra os trabalhadores da educação demonstra aterradoramente a necessidade de nos manter alerta a certas ressignificações ou, pelo menos, de reavivarmos o significado histórico desta e de outras datas.

*Elaine Vilar é jornalista e servidora do Tribunal de Justiça de Pernambuco

OPINIÃO: Agora está tudo bem….

Por MAURÍCIO ASSUERO*

Devo ter perdido a noção do tempo ou as coisas estão de uma forma bem mais maleável. Refiro-me ao balanço da PETROBRAS divulgado no dia 22.04. De um modo simplista a presidente Dilma colocou que a divulgação do balanço virava a página e pronto: a partir de agora está tudo bem… diga-se, muito bem.

A empresa teve um prejuízo de R$ 21,6 bilhões decorrente da perda de ativos, da defasagem de preço em relação ao mercado internacional e, principalmente, decorrente da corrupção. Então, no entendimento de Dilma parece que a coisa é mais ou menos assim: “agora vocês já sabem o resultado dos exames do paciente, a doença que ele tinha é mais complicada do aquele que fizemos vocês acreditarem, mas vamos fazer uma “vaquinha” para comprar o remédio certo para o doente não morrer”. Em momento algum, a presidente deu uma palavra sobre o “tratamento” que o doente deve ter, ou seja, nenhuma palavra sobre qualquer mecanismo de recuperação de ativos, de modificação na política de preços, sobre as inúmeras dúvidas que pairam sobre os investimentos internacionais, enfim… agora está tudo bem!

É preciso destacar, ou reconhecer, a importância da divulgação do balanço. De fato, sem ele a PETROBRAS estaria definhando numa velocidade maior porque sempre estaria sob a suspeita de que outros danos imorais pudessem, ainda, aflorar. Por outro lado, o número divulgado está bem longe daquele encontrado no balanço do terceiro trimestres de 2014, que foi divulgado por Graça Foster, que estimava “uma baixa contábil” de R$ 88 bilhões. Entre estes dois fatores não se observou nenhum fenômeno que justificasse tamanha diferença, mas é mais simples – embora pouco crível – que a ex-presidente da estatal cometeu um erro de avaliação. No fundo, a análise de balanço acaba sendo uma mera formalidade. É uma consulta ao mercado ou como se diz mais popularmente: você finge que me conta a verdade e eu finjo que acredito. Pronto.

Um segundo ponto que merece destaque é que a PETROBRAS está no mercado em busca de crédito. Conseguiu US$ 3,5 bilhões de investidores chineses; tem proposta de crédito sendo analisada pelo Banco do Brasil, pela Caixa Econômica e pelo Bradesco. Primeiro, a entrada do Banco do Brasil ou da CEF como credor da PETROBRAS deveria ser repensada. Na verdade estes bancos deveriam declinar da análise e passar a bola para agentes privados. Estes bancos pagam as contas do governo e, por isso, ficará esquisito identificar o que dinheiro de crédito e o que é um simples repasse. Se ocorrer o governo estará institucionalizando a “pedalada fiscal”. Então, tudo se resume a transferir o “osso” para bancos privados? Não é isso! Os bancos privados sabem que não possuem a máquina do governo para socorrer e só entrariam numa proposta dessa e enxergassem retornos.

O que precisamos, realmente, é acabar com essa celeuma, mas não na base do “esqueça o que passou e eu lhe prometo…”. É estranho a PETROBRAS recorrer a empréstimos quando poderia se capitalizar via debêntures ou ações. Mas nós sabemos a razão: olha o preço da ação!

*Maurício Assuero é economista e professor da UFPE

Raquel Lyra escreve artigo sobre Tancredo Neves

Terça, dia 21 de abril completamos 30 anos de morte de Tancredo Neves. Homem de uma trajetória política repleta de significados, mas aqui quero destacar o homem que se tornou o ícone da redemocratização do Brasil. Conciliação era a palavra que melhor caracterizava Tancredo Neves.

Na candidatura de Juscelino Kubistchek à presidência foi um conselheiro. Quando João Goulart aceitou o parlamentarismo, Tancredo já era visto como um possível primeiro-ministro. Desde o governo Getúlio Vargas, quando foi Ministro da Justiça, já era conhecido como um homem dos bastidores. Combateu a ditadura de forma particular, abrindo diálogo com os militares. Tancredo era a possibilidade de uma transição pacífica da ditadura para a democracia.

Pernambuco foi cenário de muitos momentos importantes da vida política de Tancredo. A sua participação na Campanha pelas Eleições Diretas, teve aqui em Recife, um evento marcante, o comício na praia de Boa Viagem em 1984, e momentos de articulações políticas para a escolha do seu vice. Ele dizia: “Chegou a hora de libertarmos esta pátria desta confusão que se instalou no país há 20 anos”.

Em 1985, momento de retomada da democratização, após o Movimento das “Diretas Já”, meu tio Fernando Lyra, foi o articulador da candidatura de Tancredo Neves à Presidência da República. Apesar da candidatura não ter ocorrido, em virtude, de derrota da emenda que restabeleceria o voto direto para o Executivo federal, foi essa posição de conciliação, que o fez, colocar-se como opção dos militares para viabilizar sua candidatura no Colégio Eleitoral.

A chapa Tancredo-Sarney levou às ruas comícios tão grandes como o da campanha das “Diretas Já”. Tancredo era conhecido como o candidato da conciliação e em janeiro de 1985, com 480 votos, contra 180 e 26 abstenções, o mineiro Tancredo Neves foi eleito Presidente da República pelo Colégio Eleitoral. Apesar da eleição indireta, Tancredo representava a esperança do povo.

Suas palavras confirmavam o desejo pela mudança: “Restaurar a democracia é restaurar a República. É edificar a Nova República, missão que estou recebendo do povo e se transformará em realidade pela força não apenas de um político, mas de todos os cidadãos brasileiros!”.

Em entrevista concedida em 2012, meu tio, Fernando Lyra destacou o papel de Tancredo Neves dizendo: “Tive a felicidade de conviver com grandes políticos de várias gerações. (…) Mais do que ninguém, ele soube fazer a hora na história do Brasil. Personificou a transição democrática, mas o destino não quis que fosse o seu executor”.

Após 21 anos de ditadura militar, Tancredo Neves seria o primeiro presidente civil. Mas um tumor no intestino, várias cirurgias e um longo internamento afastaram o ícone da redemocratização. A euforia da vitória abriu espaço para a incerteza, o medo de Tancredo não tomar posse, era o medo do sonho da mudança não se concretizar. E no dia 21 de abril de 1985, sem tomar posse, Tancredo faleceu.

O seu exemplo de luta fica para nós como referência de como fazer política, sem retaliações e com espírito conciliador. A homenagem que faço hoje é para ressaltar o desejo que esse homem público tinha em mudar a realidade do nosso país.

Tancredo Neves soube articular, ouvir, agir, esperar e conquistar. Que seu legado de perseverança não tenha sido em vão. A democracia sonhada por Tancredo Neves continua a ser construída no Brasil por milhares de brasileiros todos os dias, apesar dos momentos difíceis que vivemos.

Que os compromissos e alianças políticas tenham sempre em vista o fortalecimento da democracia e o bem estar do nosso povo, tão almejado por Tancredo.

OPINIÃO: Querem acabar com nossos direitos

Por BERNARDO CAMPOS CARVALHO*

Nosso legislador foi muito feliz quando adotou na Constituição o princípio legal de que todo mundo é inocente até que se prove o contrário, ao final de um processo.

Esse princípio legal é um dos mais importantes de nossa Constituição, pois preserva o cidadão da pecha de culpado, de criminoso, sem que tenha ao menos passado pelo crivo de um julgamento, com direito de defesa.

Negarmos ao acusado a ampla defesa é o mesmo que negarmos o direito à liberdade ao ser humano, é voltarmos ao tempo da ditadura militar com a legalização da prisão arbitrária, da tortura e da morte sem julgamento, como ocorria no Brasil e ultimamente ocorria em Guantánamo, por parte dos Estados Unidos.

Só quem já sofreu na pele uma acusação injusta, principalmente da prática de um ato criminoso, sabe o quanto é dolorido e revoltante esse sentimento, e é nesse momento que mais se clama e se valoriza a justiça.

Por outro lado, a restrição ao direito de defesa, como meio de combater a violência, impondo-se da prisão do acusado, após o julgamento de primeira instância, é uma barbárie ou absurdo, é o mesmo que acabarmos com nossos tribunais, tão importantes na correção da aplicação da lei e da Justiça.

Não vamos confundir a proibição do uso do recurso como meio de celeridade, com o excesso de prazo em seu processamento, face a burocracia existente, que carece de profunda reforma, para que haja, efetivamente, maior rapidez.

Ressalte-se que a nossa Justiça é por demais lenta, seja em primeira instância, seja em nossos tribunais. Carece, como dissemos, de ampla reforma para tornar os processos menos burocráticos, usando-se mais o princípio da oralidade, com uma única audiência e decisão imediata.

Vale mais a pena, ao concluirmos, um culpado solto, ainda que provisoriamente, do que um inocente preso, pois jamais poder-se-á restituir o seu direito, e principalmente, a sua dignidade.

*Bernardo Campos Carvalho é advogado criminalista e especialista em tribunal do júri, participando dos casos Champinha e Celso Daniel, dentre outros de repercussão nacional

Opinião: Projeto de lei que regulamenta terceirização é retrocesso

Após tramitar por mais de dez anos, a regulamentação da terceirização foi aprovada na Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei 4330/2004 propõe a extensão da terceirização a todas as atividades das empresas privadas, públicas e de economia mista além de prever que a empresa contratante do serviço terceirizado só seja responsabilizada juntamente com a contratante de mão de obra , caso não fiscalize os pagamentos devidos aos contratados.

Para Leonardo Passafaro, especialista em relações trabalhistas e sócio do Capano, Passafaro Advogados Associadosa terceirização da atividade-meio representa um retrocesso trabalhista uma vez que apenas traz segurança jurídica apenas para a empresa que contrata a mão de obra terceirizada.

O advogado destaca que a fiscalização das empresas terceirizadas pelas tomadoras prevista no texto do projeto de lei é falho, já que não será possível aferir se os recolhimentos feitos pela terceirizada estão corretos vez que serão realizados de maneira global, o que torna muito difícil detectar se há falhas nos pagamentos ou recolhimentos de cada empregado.

Leonardo Passafaro diz que o Projeto de Lei 4330 não será capaz de melhorar a oferta de empregos, nem fomentar a especialização de empresas terceirizadas e tampouco baratear o custo da mão de obra. Para ele uma política efetiva de geração de empregos primeiramente depende da redução de encargos sociais sobre a folha de pagamento, além de uma economia aquecida. “A terceirização não traz barateamento de mão de obra porque alguém vai ter que pagar PIS e COFINS, SAT (Seguro de Acidente de Trabalho), além do Sistema S”, observa.

Outro tema polêmico do PL 4330 é a questão sindical já que nessa modalidade de contratação o terceirizado perde as proteções inerentes à sua categoria profissional, pontua Leonardo Passafaro. Ele compara ainda a aceitação das cooperativas de trabalhadores e o da terceirização como forma de melhorar a geração de empregos.“Até hoje há dificuldade de aceitação das cooperativas de trabalhadores para executar serviços, como agora ampliar a terceirização poderia produzir resultado positivo na geração de empregos?”, questiona.

Artigo: Brasil, Pátria Educadora?

Por Célio Pezza

Durante o discurso de posse, Dilma Roussef anunciou seu slogan do segundo mandato: ‘Brasil, Pátria Educadora!’. Pouco tempo depois, cortou os gastos com Educação e mostrou a realidade de seu governo.

O Brasil apresenta um quadro caótico, com números que posicionam nosso País como um dos piores do mundo em termos de Educação. O estudo ‘Education at a Glance’, da UNESCO, colocou o Brasil como uma das mais baixas taxas de inclusão do ensino superior do mundo, perdendo para países vizinhos como Chile, Argentina, Equador e outros. É uma vergonha!

O slogan ‘Pátria Educadora’ está bem longe da realidade. Ao invés de aumentar os investimentos em Educação, o governo Dilma já cortou do Ministério da Educação mais de R$ 7 bilhões em apenas três meses de governo. Onde está a Pátria Educadora?

Um estudo feito pelo movimento Todos pela Educação, com base na Prova Brasil de 2013, mostrou que o brasileiro aprende cada vez menos nas escolas públicas. Por exemplo, apenas 10% dos municípios brasileiros atingiram a meta mínima para Matemática no 9º ano, ao passo que, em 2011, esse índice era de 28%. Em Língua Portuguesa, o número caiu de 55% para 29% nesse mesmo período. É essa a grande meta do governo? Afundar o Brasil na ignorância?

O Brasil avançou muito na quantidade de alunos nas escolas, mas a qualidade da educação caiu a tal ponto, que é normal um analfabeto funcional ser diplomado em algumas escolas públicas. Em outras palavras, o aluno sabe ler, mas não entende o que está lendo.

De acordo com o senador Cristovam Buarque (PDT-DF) esse corte de verbas está na contramão de um projeto de melhorias na Educação. É preciso reconstruir as escolas públicas, pois algumas parecem um depósito de lixo; é preciso valorizar os professores, e o que vemos são professores em greve por falta de pagamentos.

Alunos do FIES correm o risco de parar seus estudos, pois não conseguem confirmar seus financiamentos. É uma bagunça generalizada e os alunos não sabem a quem pedir socorro. O Ministério da Educação comunicou que o início das aulas de novas turmas do tão falado Pronatec foi adiado para junho, pois faltam recursos.

Como pode um curso semestral iniciar em junho? Esse é o conceito de uma Pátria Educadora? O lema de nossa bandeira é Ordem e Progresso. Sem Educação, teremos Desordem e Retrocesso.

Célio Pezza é colunista, escritor e autor de diversos livros.

OPINIÃO: A cópia e a xerox

Por ELAINE VIANA*

(Da série “Ainda não conheci o mundo, mas há quem diga que ele começa em Caruaru”.)

Sempre acreditei que o acesso à informação, como parte do processo de aquisição de conhecimento, é condição essencial para a adaptação do homem. Por isso, devido à minha condição de recém-chegada às terras desta cidade-país (o “País de Caruaru”), venho refletindo sobre as informações trazidas pelos novos colegas e amigos destas paragens, bem como do noticiário caruaruense.

Como boa representante das angúrias atuais para conciliar as inúmeras funções reservadas ao gênero feminino, embalo as tarefas domésticas matinais com o noticiário de emissoras locais de rádio. A princípio, detenho-me nesta ou naquela displicência dos colegas jornalistas que, ora se abstêm de citar a fonte, assumindo o discurso dos representantes do governo municipal, ora esquecem de privilegiar o discurso direto na própria elaboração do texto informativo e, distraidamente, ofendem a clareza e a objetividade tão cortejadas pela comunicação social. Ultimamente, notícias e reportagens têm sido meu principal objeto de reflexão em busca de capturar a maneira de sentir e pensar deste povo, ao qual me afeiçoo um pouco mais a cada dia.

A pauta do noticiário do dia anuncia a aprovação, pela Câmara Municipal, de pleito para instalação de mirantes no Monte Bom Jesus. Até aí tudo bem, não fosse a ênfase dada pela matéria ao fato do morro ter sido “pacificado”, termo repetido três vezes em um mesmo período de poucas frases curtas. Pacificado? Como assim? Será este o Morro Bom Jesus do Alemão? Imediatamente, as estatísticas do crime organizado do Rio de Janeiro habitam minha mente, seguidas pelas imagens sensacionalisticamente veiculadas em noticiários nacionais: tiros, arsenais bélicos, fugas e perseguições.

Insiste uma estranheza materializada na pergunta que não quer calar: por que razão a utilização política da palavra “pacificação”? Que estranha estratégia de marketing esconde-se atrás do termo? A infelicidade da escolha parece-me gritante. Quantos humildes mortais, assim como eu, têm como motivação para um movimento migratório a busca por qualidade de vida? E outros tantos mortais, nem tão humildes assim, que pensam encontrar no município as condições para instalar ou ampliar seus investimentos? Por um segundo, cogito voltar à capital. Lá, apesar da violência bem mais explícita, não há regiões pacificadas. Pelo que sei constar, ainda não se fez necessário tanto.

Então, imagino a população simples de baixa renda com seus amplos sorrisos ao sentirem-se pertencentes a uma comunidade pacificada. Comungando deste pseudo marketing às avessas, tornam-se beatos de São Prefeito das Dores Eternas ou de São Deputados das Verbas Vindouras. Imagino também o apogeu quase hollywoodiano que costuma acompanhar tais ações, com direito à visita de presidentes, ministros, governantes, secretários, diretores, aduladores e bajuladores de toda natureza de poderes, órgãos e instituições.

Aqui, no “País de Caruaru”, ou lá, nos Morros do Rio de Janeiro, a pretensa pacificação guarda suas semelhanças: afasta-se e coíbe-se a escória marginalizada, sem que se extingam as causas da marginalização. Lá, o crime volta a se organizar nas barbas do Estado e com a conivência deste. Aqui? Rezemos e vigiemos para que, como diria um amigo recém-adquirido nestas terras: “Nem sempre a cópia seja igual a xerox”.

*Elaine Viana é jornalista, especialista em comunicação empresarial e servidora do TJPE (Tribunal de Justiça de Pernambuco)

OPINIÃO: Sou racionalmente contra a redução da maioridade penal

Por DANIEL FINIZOLA*

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aceitou a Proposta de Emenda Constitucional (PEC 171/93) que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. Partidos como PSDB e DEM seguiram sua tradição conservadora: os seus deputados votaram a favor da PEC. Em meio à discussão, o deputado Felipe Maia, do DEM, afirmou que esse seria um grande passo na redução da violência no Brasil. Será?

Para juristas como Dalmo Dallari, o artigo 228 da Constituição Federal, que fala sobre a inimputabilidade penal dos menores de 18 anos, é uma cláusula pétrea – portanto, só uma Constituinte poderia alterá-la. Mas há muitos outros argumentos além dos jurídicos e constitucionais para se opor à redução da maioridade penal.

É preciso entender porque uma parcela significativa da sociedade brasileira defende a redução da maioridade. A gênese desse fenômeno pode estar na forma como a mídia constrói as notícias dos atos ilícitos praticados por menores, algo que influencia diretamente a construção do senso comum. De modo geral, as matérias são sensacionalistas e, muitas vezes, passam a ideia de que a violência no Brasil está diretamente ligada aos atos praticados por menores. É a fórmula do jornalismo que faz da notícia uma mercadoria, não um instrumento de reflexão social, modelo onde facilmente se confunde justiça com vingança. Raramente os jornais analisam os motivos pelos quais nossa juventude está nas ruas envolvida com o crime. Não há um debate de como prevenir a violência, mas uma massificação da ideia de que colocar jovens na cadeia é a solução para reduzir a violência no Brasil.

Há vários estudos que comprovam que a adoção de medidas punitivas e repressivas não reduzem os índices de violência, ainda mais em se tratando de jovens. Nos EUA, país que tem um sistema carcerário bem diferente do nosso, aplicaram-se medidas punitivas previstas contra adultos a adolescentes e o resultado foi desastroso. A grande maioria dos jovens libertos voltou a delinquir com mais violência. Mas será que os deputados defensores da redução da maioridade têm noção desses dados? Será que eles sabem que o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê medidas socioeducativas para pessoas acima de 12 anos de idade que incluem a restrição de liberdade? Será que eles sabem que educar é melhor e mais eficiente que punir? É trágico ver que nossos deputados não estão preocupados em fazer esses questionamentos, estão preocupados apenas com os efeitos e não com a causa da violência.

Temos a quarta maior população carcerária do mundo, perdendo apenas para EUA, China e Rússia. Ainda assim, temos um déficit de pelo menos 181 mil vagas nos presídios, ou seja, há uma falência total do sistema carcerário brasileiro e eu não vi nenhum desses deputados falar em reforma do sistema prisional brasileiro. Pergunto: como esses deputados imaginam que nossa juventude vai sair dos presídios? Para quem esses senhores estão legislando?

Ao defenderem a redução da maioridade penal, os deputados assinam seu atestado de incompetência, pois, em vez de disputar essas vidas que o crime vem ganhando e articular políticas públicas para a juventude, preferem colocar nossos adolescentes na invisibilidade de nossas prisões. A onda conservadora que toma o Congresso tem visão social curta e está colocando menores como bodes expiatórios de um problema cuja raiz está na desigualdade social e na falta de estrutura educacional e familiar.

Nossos jovens precisam de arte, cultura, espaços de lazer e convivência. Uma educação que vá além das notas e do conteudismo que deixam nossas escolas pouco atrativas. Nossos adolescentes não necessitam de cadeia, mas de políticas que incluam socialmente os meninos e meninas da periferia, os que mais sofrem e são cooptados pela violência das ruas.

Seria mais digno, republicano (e constitucional) que os deputados concentrassem esforços para colocar nossos jovens nas escolas, não na cadeia.

*Daniel Finizola é educador, artista e vice-presidente do PT de Caruaru

Post atualizado dia 08/04, às 8h51.

Artigo: Lembre-se, estamos numa democracia

Por Tiê Felix 

De vez em quando é bom lembrar que o Brasil é uma democracia, ainda que alguns a apontem como uma democracia nova e imatura. Em qualquer democracia todos aqueles que chegam ao poder são apontados, ainda que de forma medíocre, pelo próprio povo. Quer queiramos ou não, aqueles que lá chegam somente o conseguem por intermédio do voto popular. Todos são representantes através dos votos de muitos.

A questão é:porque mesmo sendo nós tão críticos no nosso cotidiano, ainda assim, votamos em canalhas e deixamos um sistema corrupto nos dominar de uma forma tão descarada como vemos? Talvez a dura resposta seja aquela de sempre.

Gostamos da corrupção, muitos vivem dela e tantos, vez ou outra, se beneficiam dela agradavelmente. O sistema de poder no Brasil é apodrecido pelas relações sociais marcadas por violência moral constante, em todos os âmbitos de nossa sociedade.

A subalternidade se mantém. Aquele mesmo que questiona antes, se cala na hora de falar por que teme a violência da imoralidade nacional. Estamos cheios de uma pretensa oposição, quando somos pouco democráticos e temos pouca capacidade de concessão de direitos e oportunidade.

Queremos tudo para o nosso privado, para os nossos colegas e particulares. Se cada cidadão pudesse colocaria somente aqueles seus que qualquer um por valor particular. Isso resulta do modo pelo qual vivemos as relações sociais cotidianas.

Sérgio Buarque em seu “Raízes do Brasil” faz a análise mais sucinta no que diz respeito a esse modo de viver à brasileira. A democracia é um mal entendido no Brasil porque somos personalistas e incapazes de instituir uma verdadeira burocracia nos termos de um Estado moderno. A burocracia só existe para aqueles que não conseguem acessar o aparelho do Estado em seu favor.

A democracia no Brasil diante mão não o é pelo seu próprio funcionamento interno; não existe democracia porque não existe uma sociedade democrática. O Brasil ainda vive tempos pré-históricos como democracia, simplesmente porque a grande maioria desconhece o que realmente constitui uma democracia, inclusive intelectuais.

Se quiser comprovar pergunte por ai.

 Tiê Felix é professor. 

ARTIGO: ‘ExibiSELFIEonismo’

Por MENELAU JÚNIOR

É normal alguém tirar repetidas selfies (aquelas fotos do próprio rosto) e postá-las sistematicamente (estou falando do exagero, não de postagens eventuais) nas redes sociais? Para responder a essa pergunta, é preciso refletir um pouco sobre o fenômeno das “fotos de si mesmo”.

É claro que os celulares e as redes sociais catapultaram o desejo intrínseco ao ser humano de se expor. Mas não se pode omitir a verdade: se você tem um amigo que todo santo dia posta selfies (muitas vezes várias), ele está precisando urgentemente de atenção e de autoestima.

As selfies viraram a publicidade de si mesmo – mesmo quando não há motivo para a publicidade. É a tentativa desesperada de mostrar aos outros o que não somos, o que pode ser verificado pela quantidade de selfies que muita gente faz até decidir qual vai postar. É o narcisismo do século XXI em sua mais genuína forma.

Nesses tempos em que cultuamos a imagem pela imagem – pra que conteúdo? – , as selfies são o apelo à aprovação. Quando postamos essas fotos, estamos aguardando a quantidade de curtidas e de comentários – e nada mais. E caso essas curtidas e comentários não atendam às nossas expectativas, tiramos outras.

É na adolescência que a necessidade de aprovação ganha importância quase que vital. E as selfies são a forma atual que os adolescentes encontraram para perceber se são ou não aprovados por seus pares. Para os muito belos – o que nem de longe é meu caso – , as selfies servem de mecanismo quase automático de elogios de toda ordem. E quem não gosta de elogios? Já para os “normais”, as selfies são apenas um artifício de enganar a si mesmo, de conseguir migalhas dos que gostam de nós muito mais pelo que somos do que pelo que aparentamos.

Como se não bastasse tudo isso, as selfies também nos deixam escravos da aprovação nas redes sociais, fazendo-nos perder instantes únicos para poder registrá-los depois. Entregamos nossa intimidade, suplicamos aprovação, revelamos o que não somos. No mundo real, as pessoas nos amam quando convivem conosco e são capazes de enxergar muito mais que nosso exibicionismo. Qualquer aprovação ou admiração que não venha disso dura tanto quando o breve tempo entre postar uma selfie e já tirar outra…

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todos os sábados. E-mail: menelaujr@uol.com.br