OPINIÃO: A função do sistema Cofeci/Creci

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

Com a regulamentação da profissão de corretor de imóveis pela lei nº 4.116 em 1962, surgiu a necessidade de orientar, normatizar e fiscalizar a atividade. Foi então criado o sistema Cofeci/Creci com essa finalidade. As funções de normatizar a lei 6.530/78 e o decreto 81.871/78 e de fiscalizar a atividade, defendendo dessa forma a sociedade dos maus profissionais ou dos não inscritos, são os maiores atributos dessas entidades, que são subordinadas ao Ministério do Trabalho e Emprego, possuem autonomia administrativa e financeira e são sustentadas pelas anuidades dos profissionais, taxas de inscrições, multas por autuações, etc.

Das missões conferidas ao sistema Cofeci/Creci, a mais difícil, certamente, é a de fiscalizar o exercício da atividade, pois o mercado cresceu demais nos últimos anos e não é possível ter um fiscal em cada lugar em que se pratica o exercício ilegal da profissão ou o descumprimento das diversas tabelas de honorários praticadas em cada um dos regionais. Isso torna a missão das entidades bastante complicada e, por vezes, causa grande insatisfação nos corretores de imóveis.

As entidades regionais possuem corretores eleitos em chapa com 54 profissionais devidamente regulares, sendo 27 titulares e 27 suplentes, que ao serem eleitos passam a responder pela entidade na missão que lhe foi conferida. É composta do plenário, de uma diretoria, um conselho fiscal, da Comissão de Ética e Fiscalização Profissional, da Comissão de Análise de Processos de Inscrição, além de outras comissões e grupos de trabalho e do departamento de fiscalização.

Já o Cofeci é formado pelos representantes dos regionais em número de 4, sendo dois titulares e dois suplentes. Os titulares formam o plenário, que tem várias atribuições, entre elas a de escolher o presidente da entidade e seus diretores, criar e aprovar resoluções, julgar os processos disciplinares oriundos dos regionais em última instância administrativa, de intervir nos regionais, etc. As atribuições e normas de funcionamento dessas entidades estão contidas na resolução nº 1.126/2009 do Cofeci.

Os eleitos, como dito anteriormente, estão sujeitos às leis da administração pública, uma vez que são autarquias dotadas de personalidade jurídica de direito público e ao próprio regimento, no caso de cometimento de ato de improbidade, falta de decoro, desídia ou prevaricação no exercício da função.

alexandre barbosa


Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog

OPINIÃO: Custeio da restauração da Igreja da Matriz por parte da Prefeitura de Caruaru é legal

Por DIMITRE BEZERRA*

No último domingo (23), quando entrei na avenida Rio Branco, fui questionado pelos meus queridos pais sobre a interdição da Igreja da Matriz, a Catedral de Nossa Senhora das Dores. Na oportunidade, meu pai me questionou se a Prefeitura de Caruaru poderia custear as obras de restauração daquele templo, visto que se trata de uma igreja que faz parte da história de Caruaru. Também foi dito pelo meu pai que, antes da obra que levou à Catedral a ter a atual arquitetura, ele lembrava com saudades da antiga igreja de duas torres que existia no local.

É fato mais do que notório para nós caruaruenses que a Catedral de Nossa Senhora das Dores está intrinsecamente ligada às nossas tradições religiosas, históricas e culturais. Tal fato se comprova até pelo nome carinhoso como é conhecido o logradouro em que a Catedral encontra-se edificada. Oficialmente, como dito em princípio, a via é nominada de avenida Rio Branco, notadamente um gesto de reconhecimento aos valiosos serviços prestados pelo Barão do Rio Branco ao nosso país, como Patrono da Diplomacia brasileira, entre outros feitos. Entretanto, para nós caruaruenses, ali encontra-se a “Rua da Matriz”, uma forma carinhosa que utilizamos para nos referir ao local e às imediações.

A partir da provocação dos meus pais, lembrei que há alguns anos eu havia me deparado com a mesma situação no município do Bom Jardim, também do Agreste pernambucano. Lá, a principal igreja da cidade, a Matriz de Sant’Ana, encontrava-se interditada e com risco de desabar em virtude da falta de restauração.

Na oportunidade, defendi a tese de que o poder público municipal poderia custear a obra de restauração mediante a concessão de uma subvenção à Diocese, posicionamento que gerou discussões com a assessoria da prefeitura em algumas oportunidades, pois havia receio dos meus colegas de uma possível afronta às disposições do art. 19, inciso I, da Constituição Federal de 1988. Tal dispositivo, em tese, vedaria a subvenção a um culto religioso, pois poderia se configurar uma eventual relação de dependência entre poder público e autoridades religiosas.

Para dirimir quaisquer dúvidas, convenci o então prefeito João Francisco de Lira a encaminhar uma consulta ao Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, de modo a respaldá-lo no processo decisório que objetivava a restauração da igreja. Elaborei os termos e o prefeito subscreveu a consulta, que foi tombada por meio do processo administrativo TC nº 0600955-4. A relatoria ficou a cargo do então auditor Valdecir Pascoal, que hoje coincidentemente preside aquela Corte Estadual de Contas. Na sessão realizada no dia 5 de abril de 2006, o tribunal pleno respondeu por meio da decisão TC nº 354/2006, à unanimidade, nos seguintes termos:

“A urgência na restauração de uma Igreja Matriz secular, arraigada na tradição cultural do povo que a ela recorre para exprimir seus sentimentos religiosos herdados dos antepassados e que se identifica com a própria história da União, de um Estado ou de um Município, não caracteriza nenhuma relação de dependência entre o Poder Público e autoridades religiosas, mas pode atender a um interesse público manifesto. É possível a colaboração financeira da administração pública visando à restauração de templo religioso secular e de interesse cultural indiscutível, desde que observadas, rigorosamente, a disciplina instituída pelo artigo 26 da Lei de Responsabilidade Fiscal”.

* Dimitre Bezerra é graduado em direito, pós-graduado em prática do processo, mestre em gestão pública e doutorando em direito penal. É assessor jurídico de diversos municípios de Pernambuco

OPINIÃO: A nossa matriz energética em xeque

Por MARCELO RODRIGUES

A escolha de nossa matriz energética se processou em função de nosso grande potencial hídrico. No entanto, a dependência de estações regulares de chuva nos deixa vulnerável, a ponto de o Brasil ter que lançar mão e utilizar a energia termoelétrica de forma estratégica. Por outro lado, faltam investimentos no setor elétrico. Apesar disso, o governo pensa em alterar este quadro, substituindo as hidrelétricas pelas termoelétricas, que utilizam gás natural. A energia, assim produzida, é mais poluidora do que as hidrelétricas, já que libera resíduos na atmosfera, mas não polui tanto quanto a obtida a partir do petróleo.

Mas o que é uma termoelétrica? Uma termoelétrica nada mais é do que uma máquina térmica que tem como objetivo a conversão da energia de um combustível (como gás natural) em energia elétrica.

Há dois motivos básicos para essa mudança: o primeiro consiste na excessiva concentração das indústrias na região Sudeste, que levou a uma superexploração das bacias hídricas da região. O segundo motivo, mais grave, é que o governo preferiu resolver esse problema energético da maneira mais simples: cortou os investimentos nas hidrelétricas e, para compensar, apostou na construção de termoelétricas por parte da iniciativa privada.

O sistema de geração de eletricidade do Brasil é movido principalmente por meio de hidrelétricas, de sorte que as térmicas movidas a gás natural, óleo diesel, carvão ou biomassa servem apenas para complementar. Quando o nível dos reservatórios das hidrelétricas está muito baixo, o governo aciona mais termoelétricas para garantir que não falte energia no país e vice-versa – quando a vazão dos rios está alta, as termoelétricas são desativadas. Entretanto, o alto preço do combustível é um fator desfavorável.

Se comparada à hidrelétrica, por exemplo, a usina termoelétrica apresenta algumas vantagens: pode ser instalada próxima a centros urbanos, diminui as linhas de transmissões e desperdiça menos energia. Além disso, a construção de uma usina termoelétrica é mais rápida e supre a carência de energia mais rapidamente. Como vários tipos de geração de energia, a termoeletricidade também causa impactos ambientais, contribuindo para o aquecimento global através do efeito estufa e da chuva ácida. A queima de gás natural lança na atmosfera grandes quantidades de poluentes, além de ser um combustível fóssil que não se recupera.

O Brasil lança por ano 4,5 milhões de toneladas de carbono na atmosfera. Com o incremento na construção de usinas termoelétricas, esse indicador chegará a 16 milhões. As termoelétricas apresentam um alto custo de operação, em razão do dinheiro utilizado na compra de combustíveis.

Projeções realizadas até 2020, considerando que a participação das termoelétricas na produção de energia elétrica no país passaria dos 6% atuais para 17% (10% utilizando gás natural e 7% outros elementos energéticos, como carvão e óleo diesel), revelam um futuro bastante ameaçador: haveria, em duas décadas, um acréscimo de cerca de 0,45 ton/ano de emissão de CO² por habitante.

Esse é o preço pela opção errônea de desenvolver sem sustentabilidade, crescer sem levar em conta e nem avaliar os prejuízos para o planeta e para as futuras gerações.

marcelo rodrigues


Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: O mérito de Almério

Por MENELAU JÚNIOR

Caruaru tem sido brindada, vez ou outra, com bons álbuns de artistas locais. Curiosamente, quase nada de forró – numa terra que se intitula a Capital desse ritmo. Recomendo uma audição cuidadosa do álbum “Almério”, do artista homônimo.

Lançado no fim de 2013, o trabalho conta com 14 faixas, sendo nove músicas autorais e outras cinco composições de grandes nomes regionais, a exemplo de Valdir Santos, Isabela Moraes, Vertin Moura, Ícaro Tenório, Luciano Queiroga e Lula Queiroga. É possível observar influências da musicalidade local, mas nem de longe o trabalho de Almério pode ser classificado como regional. Com influências de vários artistas da MPB, Almério trouxe para nós um disco bonito, envolvente e suave.

A excelente “A busca” abre o álbum, com uma levada que lembra Djavan nos primeiros acordes. Mas é na parceria com Isabela Moraes, em “São João do Carneirinho”, que temos um dos melhores momentos do disco. A quarta faixa, “Além-homem”, é daquelas canções para ouvir à beira-mar, num fim de tarde. É uma linda canção de amor, sem a pieguice que normalmente acompanha esse tipo de composição.

Em “Não há muito o que fazer”, Almério fala com criatividade sobre dor, solidão e desolação de forma muito interessante. A ironia dos versos “Quando a bebida esgota/ e a sobriedade volta/ Sinceramente não há muito o que fazer” foi uma excelente sacada. Em “Minha casa de você”, quase todas as estrofes começam com “Não quero mais ficar em casa”, para terminar com a desconcertante declaração “Foi maldade preencher/ Minha casa de você/ Depois ir embora”.

Mas o álbum não é só lirismo. Em “Quantos homens têm o mesmo nome”, Almério escreve sobre um ex-mecânico que passou 19 anos preso por engano.

Em entrevista recente, Almério disse que “fez um disco para o mundo” e que pensa em “levá-lo para outros lugares e expandir o trabalho”, pois não quer “olhar para trás um dia e perceber o erro de não ter tentado. Muito menos olhar para o espelho e enxergar um músico que não deu certo”. Este primeiro álbum é um bom cartão de visitas. Precisa melhorar algo? Claro! Quem não precisa? O sotaque excessivamente marcante pode irritar pessoas menos tolerantes ao jeito nordestino de falar. Se quiser voar mais alto, Almério vai precisar amenizar seu sotaque, deixá-lo menos identitário. Talento, voz e boas composições ele tem de sobra. Quem gosta de boa música deve conhecer o trabalho dele.

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

ARTIGO: Nas entrelinhas do Marco Civil da Internet

Por Dane Avanzi

A Câmara dos Deputados aprovou na noite dessa terça-feira, dia 25, o novo Marco Civil da Internet brasileira. Debatido desde o início de 2011 e turbinado ano passado por conta do “Caso Snodew”, a legislação agora passa a ser debatida no Senado para posterior sanção da Presidência da República.  Embora do ponto de vista legal represente um avanço no sentido de assegurar direitos do internauta – haja vista consagrar um princípio básico da internet – na neutralidade do ponto de vista prático, pouca coisa mudará.

O conceito de neutralidade traduz-se pela igualdade dos usuários no qual tange aos conteúdos acessados. Recentemente debatido nos Estados Unidos, tal assunto foi parar na justiça no início do ano quando a Netflix, empresa que vende conteúdos de filmes a baixo custo, pagou mais a uma provedora de acesso à internet (Verizon) para priorizar a entrega de seus vídeos e filmes. Para melhor contextualizar, filmes são os arquivos mais “pesados” que trafegam na internet, e por isso, os que são mais difíceis de trafegar e que exigem maior largura de banda.

Considerando que banda é custo para as operadoras e por isso pode ser cobrada, pagando mais quem usar mais, a Justiça norte americana determinou que é licito a Netflix pagar mais à operadora. Na mesma decisão, a Justiça americana determinou que o FCC (Federal Communication Comission) é competente para incentivar a competição entre operadoras e deve arbitrar a questão com vistas a defesa dos direitos do consumidor. O assunto ainda está se desenrolando lá, e em razão disso, Tim Berners-Lee, um dos criadores da internet, festejou a disposição do governo brasileiro por ser o primeiro Estado no mundo a regular o assunto e criar uma lei específica.

Boas intenções à parte, o que muda na vida dos brasileiros? Muito pouco. Em termos práticos, a internet vai ficar mais barata? Não. Continuará existindo vários tipos de pacotes que vão definir a qualidade que o consumidor terá. Se a lei for sancionada como está pode impedir que no futuro seja cobra pelo acesso por tipo de conteúdo, fato que sem dúvida representa um avanço. Em verdade, como agora os provedores serão obrigados a armazenar informações do acesso de cada computador, pode ser que fique até mais caro, pois terão que se equipar para isso e provavelmente transferirão esse custo. E quanto à qualidade, melhorará? Isso independe de lei, mas sim da postura das autoridades brasileiras em face das operadoras.

E a espionagem, vai acabar? Não. A espionagem, uma das profissões mais antigas do mundo, continuará existindo, pois ela ocorre em grande escala nas empresas PTT (Pontos de Troca de Tráfego) nas mídias sociais, e em grandes corporações privadas norte-americanas denunciadas por Snodew. De fato, Obama vai continuar ouvindo quem bem entender. Já em pequena escala, a espionagem continuará ocorrendo nos grampos oficiais (ou não), que continuarão submetidos a ordem judicial para serem válidos, aliás, como sempre foi. Mais do mesmo.

E quanto aos conteúdos? O responsável pela publicação, não o provedor, fica integralmente responsável pelo conteúdo, devendo ser retirado após ordem judicial, exceto conteúdos ligados a pedofilia e outros de natureza sexual, que devem ser removidos imediatamente.

De um modo geral, a lei dá um passo no sentido de garantir direitos já consagrados pela Constituição Federal Brasileira no ambiente digital. Para seu sucesso, resta-nos torcer para que as autoridades brasileiras a usem em benefício do consumidor, fiscalizando de perto as operadoras e provedores de acesso de modo a evitar o aumento nas tarifas cobradas ao povo brasileiro.

Dane Avanzi é advogado, empresário do setor de engenharia civil, elétrica e de telecomunicações. É diretor superintendente do Instituto Avanzi, ONG de defesa dos direitos do consumidor de telecomunicações e vice-presidente da Aerbras – Associação das Empresas de Radiocomunicação do Brasil.

 

OPINIÃO: Os tempos são outros (Parte II)

Por DANIEL FINIZOLA

Que a indústria fonográfica está em crise, todo mundo sabe! As grandes transnacionais já não ganham tanto dinheiro com a venda de disco. Há tempos, Caetano, com sua imaginação e genialidade, cantou: “Eu vou fazer uma canção de amor, para gravar num disco voador”. Hoje caberia a frase: “Eu vou fazer uma canção de amor, para gravar no computador”.

A tecnologia aplicada à música possibilitou um barateamento na produção de trabalhos fonográficos. Antes, era preciso muita grana para contratar horas de estúdio e fazer uso da cara tecnologia que viabilizava a produção do CD. Isso mudou. Agora os homes studios se multiplicam, facilitam e barateiam a produção. Não há mais pressa, nem gerente de gravadora dizendo o que você pode ou não fazer na música. Você está na sua casa ou no estúdio do amigo curioso. Ao mesmo tempo, muitos viraram o músico, o técnico e produtor do seu próprio disco. Os artistas de hoje vão se multifacetando e ampliando os seus conhecimentos para além da inspiração e da criação.

Aos poucos, muitas gravadoras foram abandonando os artistas, e muitos artistas também abandonaram as gravadoras. Muitos eram contratados para reproduzir o que o mercado determinava como som vendável, ou seja, estreitando o horizonte da arte em nome dos interesses econômicos das transnacionais do entretenimento. Mecanismos como o famoso jabá ditavam e ainda ditam qual será a música da moda. A popularização da internet vem mudando esse quadro. A ala dos artistas independentes vem crescendo nos últimos anos e, junto com ela, um público.

O cantor Cícero é um bom exemplo de tudo isso que estamos falando. Inicialmente sem grande esquema de divulgação na grande mídia, seu primeiro disco ganhou a internet e virou febre no Brasil. Também podemos citar artistas como Wado, Criolo, A Banda Mais Bonita da Cidade, Bárbara Eugênia e os caruaruenses Almério e Valdir Santos, que produziram seus trabalhos de forma independente e vêm ganhado o universo virtual.

Mas é importante perceber que a produção de um disco é constituída de um conjunto de pessoas e ações que agregam valor à obra. Isso vai da arte impressa na capa aos arranjos aplicados à música. Muitos têm o hábito de pegar o encarte, saber quem são os compositores, ler a ficha técnica, saber quem são as pessoas que gravaram cada instrumento ou em que estúdio a obra foi concebida. Ter o registro físico de uma obra fonográfica em suas mãos é uma sensação que vai bem além da que costumamos ter ao abrir uma pastinha com músicas no computador. É fato que a música digital deu mais alcance aos artistas que não têm espaço na grande mídia, ao mesmo tempo que ampliou o anonimato de todos que participam da produção do trabalho. Nem todo mundo tem o cuidado de, ao divulgar a música na internet, registrar todos que fizeram parte da concepção do trabalho. Uma pena!

Há quem romantize o debate, apontado que, com a música digital, a produção fonográfica perdeu muito do seu conjunto enquanto obra artística (capa, o encarte e as concepções de modo geral). Há pessoas que fazem um debate econômico, mostrando a violação de direitos autorais na internet e os prejuízos que isso causa.

São os avanços e dilemas da cultura digital.

Até semana que vem.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: O Conaci vem aí!

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

O XXV Conaci (Congresso Nacional de Corretores de Imóveis), que se realizará em Maceió (AL), durante o período de 4 a 7 de maio, será, sem dúvidas, um dos congressos mais prestigiados de todos os tempos pelos corretores de imóveis do Brasil. Num momento em que estão em xeque a importância da profissão para a sociedade, a maior qualificação dos profissionais, a necessidade de maior reconhecimento e valorização da atividade, a dificuldade de combater o exercício ilegal da profissão e as faltas éticas e a função das entidades de fiscalização e dos sindicatos, teremos certamente um vasto campo para as discussões.

Se pensarmos que há 52 anos, quando a profissão foi reconhecida e regulamentada, o nível de escolaridade era quase zero e que hoje em dia cerca de 70% dos profissionais têm escolaridade de nível superior em diversas áreas, chegamos à conclusão de que, além de uma prestação de serviço de melhor qualidade, o nível de exigência dos profissionais com as entidades que o representam está proporcionalmente maior. O advento da internet e as redes sociais levam as informações quase em tempo real para todos.

As entidades que foram criadas por lei para normatizar e fiscalizar a atividade, defendendo, assim, a sociedade dos maus profissionais, têm sido cobradas por uma postura mais eficiente, transparente e democrática. Os sindicatos, que tem a função constitucional de representar e defender os interesses das categorias profissionais e promover o seu desenvolvimento, estão deixando a desejar no cumprimento dessa missão. Este quadro é causa/efeito da desunião da categoria e da dificuldade de valorização da atividade em todo o país. Algumas redes ainda conseguem aproximar profissionais, porém apenas atendendo aos interesses econômicos das partes. O lado social da profissão tem sido deixado de lado por todos, corretores e entidades.

As insatisfações com os rumos que a nossa profissão está tomando parecem não encontrar eco nas entidades. Enfim, teremos muito que conversar no XXV Conaci, em Maceió. Vejo vocês lá.

alexandre barbosa


Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog

OPINIÃO: Blitz da língua

Por MENELAU JÚNIOR

Em sua edição de 11 de fevereiro de 2012, o Jornal do Commercio publicou, no caderno “Cidades”, matéria com o seguinte título: “Mais força e agilidade em blitzes da lei seca”. A questão é a seguinte: qual o verdadeiro plural de “blitz”?

Inicialmente, é preciso considerarmos que a palavra não pertence ao léxico da língua portuguesa – aliás, nem aparece no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, editado pela Academia Brasileira de Letras.

“Blitz” é uma redução de “Blitzkrieg”, uma união das palavras alemãs “krieg” (“guerra”) e “blitz” (“relâmpago”). A palavra passou a ser usada durante a Segunda Guerra Mundial para designar os devastadores ataques do exército alemão. Por extensão de sentido, passou a significar uma batida policial inesperada, geralmente mobilizando grande aparato.

Em alemão, existem duas formas de indicar o plural para essa palavra: “blitze” e “blitzen”. Aliás, dois dos mais importantes dicionários do país, o Aurélio e o Houaiss, registram como “blitze” o plural de “blitz”. Portanto, deveríamos escrever “duas blitze”.

O problema é que, para alguns autores, a palavra já estaria aportuguesada (ainda que seja muito estranho o encontro consonantal “tz”). Por causa disso, seu plural deveria obedecer às normas da língua portuguesa. No caso, pluralizamos as palavras terminadas em “Z” com o acréscimo de “-es”. “Juiz” tem como plural “juízes”; “raiz” tem “raízes” e “blitz”, portanto, “blitzes”.

A forma usada pelo supracitado jornal recorre, pois, a um plural aportuguesado – talvez até mesmo porque não aparece o artigo antes da palavra. Para a maioria dos leitores, a forma “blitze” seria realmente estranha, já que não temos palavras pluralizadas com o acréscimo apenas da letra “e”. “Blitzes” tem mais a cara do nosso idioma.

Entretanto, no mesmo dia em que o Jornal do Commercio publicou o título acima, o Tribuna da Bahia escreveu em seu site: “Por conta da falta de policiamento, a Superintendência de Trânsito e Transporte do Salvador (Transalvador) suspendeu as blitze de alcoolemia…”. Já o site do G1 (Globo.com) publicara, um dia antes, matéria com o seguinte título: “Blitze da Lei Seca terão mais mobilidade no Grande Recife”.

Portanto, se você quer usar uma forma incontestável, use “as blitze”. É estranho, mas segue a etimologia da palavra. Quem escreve “as blitzes” pode até estar usando a forma adequada à língua portuguesa, mas é bom lembrar que esse plural contraria a recomendação de importantes dicionários e de boa parte da imprensa.

Até a próxima semana.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Os tempos são outros (Parte I)

Por DANIEL FINIZOLA

Você que tem por volta dos trinta e poucos anos deve lembrar daquele vinil da Xuxa. Um grande fenômeno do mercado fonográfico no Brasil e na América Latina. A criançada pirava. Queria o disco da Xuxa de todo jeito. Quando a adolescência chegava, lá vinham os vinis de rock nacional e internacional. No rolezinho pela rua, costumava carregar um walkman e uma fita com um adesivo – lado B internacionais. Isso era o garoto classe média dos anos 80.

Era uma geração sedenta por novas experiências sonoras, corporais, visuais, intelectuais… Era preciso ouvir e sentir algo que libertasse a alma e o corpo para além dos discursos saturados e maniqueístas de uma Guerra Fria delirante e vergonhosa que deixou como legado para o Brasil uma ditadura sanguinária. O mundo havia assistido uma exibição de poder que nem a lua escapou de ser simbolicamente conquistada.

É nesse contexto que o mercado fonográfico internacional e nacional respira ares de bonança. Os norte-americanos fincaram no mercado ícones como Madonna e Michael Jackson, “deuses” da cultura pop que vendiam milhões de discos e entravam em nossas casas com os filmes da Sessão da Tarde. Muitos até hoje lembram de temas de filmes como “Top Gun” e “De Volta para o Futuro”.

O nosso país, aos poucos, começava a respirar democracia. O rock nacional mostrava o tamanho da sua poesia, rebeldia e mercado, consagrando-se com a realização do Rock in Rio em 1985. Queen, Ozzy Osbourne, AC/DC no palco do maior festival do país, para o delírio de toda uma geração. Era um novo Brasil, cheio de esperança e inflação.

Tempos depois, o famoso “bolachão preto” foi substituído pela pequeno disco brilhante, denominado compact disc. A sensação de comprar um CD e retirar aquele – sempre difícil – invólucro era muito boa. Virou febre. Bastava uma promoção na extinta Comeg Center, da avenida Rio Branco, para todos se amontoarem em busca do CD da banda preferida. Lojas de CD se multiplicavam e a indústria fonográfica continuava lucrando. Hoje, encontrar uma loja de CD não é tarefa fácil.

Mas os tempos são outros. Com o advento da internet e o compartilhamento de arquivos de música na rede, a indústria fonográfica gradativamente entrou em crise. Muitos acreditam que o “boom” da indústria fonográfica tenha ocorrido entre 1984 e 2000. Steve Knopper, editor da revista Rolling Stone, afirma que as gravadoras tendem a sobreviver apenas dos antigos catálogos.

A comercialização da música via internet vem crescendo rapidamente nos mercados emergentes, criando novas culturas em torno do consumo de produtos fonográficos. Existem vários pontos positivos e negativos nesse novo jeito de consumir música. Há quem diga que CD é passado, o pen drive é presente e o vinil é futuro, será?

Semana que vem tem mais sobre esses novos tempos do mercado fonográfico.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: A mudança da feira e o mercado imobiliário

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

Após o anúncio da disponibilização de R$ 10 milhões por parte do Governo do Estado, que vai receber uma contrapartida da Prefeitura de Caruaru de mais R$ 1 milhão, para serem utilizados na desapropriação da área onde deverá funcionar a nova Feira da Sulanca, calçados e importados, se iniciou na cidade uma grande discussão sobre a repercussão disso em relação à economia e, em especial, ao mercado imobiliário local.

O temor de que isso provoque uma alta nos valores das propriedades que ficam às margens da BR-104, local apontado pela consultoria contratada pela prefeitura para identificar qual o melhor local para a instalação desse equipamento, foi logo levantado pela imprensa e pela população. O processo de desapropriação é feito de forma transparente e o valor disponibilizado não representa uma fábula de dinheiro se levarmos em consideração de que a área necessária para a instalação da feira é de mais de 60 hectares, o que representa em torno de R$ 180 mil por hectare, valor bastante inferior ao que foi pago, por exemplo, pelo Governo do Estado pela área onde está sendo construído o Hospital Mestre Vitalino.

Vale a pena lembrar que os processos de desapropriação geralmente têm o valor avaliado contestado na Justiça. Outra questão que não podemos esquecer é de que todo o processo deve ser realizado de maneira transparente, observado não só pela sociedade, mas também pelo Ministério Público e pelo Tribunal de Contas.

Uma coisa ninguém pode negar: que a saída da Feira da Sulanca do centro da cidade atende a um clamor da grande maioria dos cidadãos, que, com isso, ganharão no Parque 18 de Maio um importante local para a convivência. A tradicional Feira de Caruaru ganhará também mais área para continuar representando a cultura da nossa terra e atraindo turistas. Os bairros do entorno ganharão um equipamento de lazer e turismo que, com certeza, os valorizará. Os comerciantes que possuem suas lojas ao lado do Parque 18 de Maio certamente não serão prejudicados, pois o comércio de Caruaru atrai milhares de pessoas daqui e de outras cidades e continuará assim por todo sempre.

alexandre barbosa


Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog