Opinião: Ler faz toda a diferença

Por Menelau Júnior

Se você está com os olhos nestas linhas, provavelmente faz parte do reduzidíssimo grupo de brasileiros que têm o hábito da leitura. Não por coincidência, são pessoas desse grupo que costumam ganhar os melhores salários e ter mais influência na sociedade. São esses também os que pensam um pouco melhor.

O brasileiro lê muito pouco. Para alguns estudos, 1,8 livro por ano. Para outros, 2,5. Para nenhum, mais de três. A comparação com países europeus faria o “gigante pela própria natureza” corar de vergonha. Gastamos muito mais com bebidas alcoólicas do que com livros. Gastamos muito mais com celulares do que com livros. Gastamos muito mais com lanchinhos fora de hora do que com livros. Em resumo, não lemos.

Esse descaso com as letras custa caro ao país. Nos concursos públicos, muitos caem na interpretação de textos e no domínio da norma culta; nas empresas, vagas deixam de ser preenchidas por falta de conhecimento e raciocínio; na política, damos ouvidos (e votos) a falastrões populistas revestidos de santidade.

Em outras palavras, por causa da falta de leitura o brasileiro tem dificuldade de conseguir emprego, submete-se a salários baixos e é facilmente manipulado pelos governantes. Não é de hoje que lemos pouco. Aliás, líamos ainda menos. Nos últimos anos, a melhoria de condição de vida do brasileiro fez o mercado dos livros alcançar dígitos inéditos. Ainda é pouco, contudo. Boa parte dos livros consumidos no país é de material didático, distribuído pelo governo nas escolas. São os livros lidos por obrigação.

Esses pouco contribuem para a formação de leitores – e de cidadãos mais conscientes de seu papel. É preciso avançar. Estimular. Dar exemplos. A família é – e sempre será – o primeiro referencial das crianças. Se até os cinco anos elas tiverem mais contato com livrinhos, historinhas, gibis e afins, será mais fácil criar o hábito da leitura – pelo prazer, claro. Se virem os pais lendo, comprando revistas e visitando grandes livrarias, descobrirão a importância da leitura por si sós.

É, pois, indispensável que haja exemplos em casa. Na escola, professores precisam estimular o hábito de ler. E para isso precisam conhecer os gostos das crianças e dos adolescentes. Qual o problema de eles gostarem de Harry Potter? Que mal há em sonhar com o vampiro Edward? Qual o crime em participar de uma Guerra dos Tronos? A partir dessas histórias fantásticas, é possível desenvolver o prazer pela leitura – e só então descobrir obras mais complexas.

Não se esqueça, contudo, da lição de um provérbio chinês: “Os professores abrem a porta, mas o aluno entra sozinho”. A leitura, portanto, é o início das grandes mudanças na sociedade. Não se pode esquecer que, além de nos levar a mundos fantásticos, habitados por seres estranhos, ela também nos permite conhecer nosso próprio mundo – e a nós mesmos. Conhecendo-se, o homem pode mudar. Mudando, o homem muda o mundo. Abrir mão desse exercício e deixá-lo à revelia dos que pensam mais porque leem mais pode ser arriscado. Quem lê viaja, descobre, reflete. Quem lê é dono de seu próprio destino.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

 

Ensino médio: o desafio brasileiro

Por Menelau Júnior

O maior problema da educação no Brasil hoje é o ensino médio. É nele que os alunos, já não mais crianças, demonstram pouco interesse pelos livros. Pior: muitos chegam com sérias deficiências na aprendizagem. E diante do extenso conteúdo exigido, das aulas excessivamente teóricas e das cobranças mais rígidas, a catástrofe se revela.

É no ensino médio que ficam evidentes todos os problemas da educação brasileira. Nas séries iniciais, as crianças começam a ser aprovadas sem dominar realmente os conteúdos. Terminam o ensino fundamental sem saber ler, sem saber interpretar (estou falando de interpretar, e não copiar respostas que estão no texto!!!) e sem domínio das operações básicas da matemática. Quem vai ter de resolver o problema? O ensino médio. Por causa dos vestibulares e agora do Enem, todos os olhares se voltam para o ensino médio, que não consegue resolver os problemas criados nos 13 ou 14 anos anteriores de escolaridade.

Nem adianta chorar o leite derramado: o que chega ruim ao ensino médio só tente a piorar. Qualquer um que se debruce sobre números reais – e não sobre “teorias mirabolantes” – vai perceber que, à medida que os anos passam, o rendimento dos alunos cai. Cai pela dificuldade inerente aos conteúdos, cai pelo desinteresse, cai pelas lacunas deixadas e que não serão preenchidas. Diante de conteúdos extensos e, muitas vezes, desconectados com a realidade, os alunos se sentem perdidos e desinteressados. O Enem revela isso. Em 2013, apenas 10% dos que fizeram a prova tiraram notas acima de 7 em redação. E menos de 1% superou a nota 9.

Em 2012, segundo dados do IBGE compilados pela ONG Todos Pela Educação, apenas 51,8% dos jovens de até 19 anos haviam concluído os anos finais da educação básica brasileira. Quando se sabe que mais de 97% das crianças com 7 anos estão matriculadas, o desastre se evidencia: a maioria ficou no meio do caminho, sem completar sequer o ensino médio. Para o país, uma catástrofe social. Sem escolaridade, não há desenvolvimento, não há progresso. Em nossas universidades, temos apenas 11% dos jovens com idade entre 18 e 24 anos.

Mudar essa realidade leva tempo e empenho. É preciso rever currículos, atualizar práticas pedagógicas ultrapassadas, investir na formação de professores. Não se pode eximir as famílias também: se os pais abrem mão de acompanhar o estudo dos filhos quando eles chegam ao ensino médio e apenas exigem a “aprovação”, os alunos se desinteressam e passam a investir cada vez mais em métodos ilícitos para conseguir o que os pais querem: “aprovação”. Mas nada é tão importante quanto o fortalecimento da educação de base. Até os 3 anos, as diferenças cognitivas entre as crianças não são tão grandes. Mas estudos revelaram que, aos 15 anos, essas diferenças já se acentuaram de tal forma que se tornam praticamente irreversíveis. Ou seja, querer que o ensino médio resolva as incontáveis lacunas deixadas na vida estudantil dos alunos é querer “enxugar gelo”.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

Opinião:Assassinos por natureza

Por Menelau Júnior

O diretor Oliver Stone é responsável por uma pequena obra-prima do cinema americano: “Assassinos por Natureza”. O longa, de 1994, mostra a trajetória de um casal apaixonado que sai praticando todo tipo de crime nos Estados Unidos. Mickey e Mallory viram atração da imprensa sensacionalista, e o repórter Wayne Gale (Robert Downey Jr.), o principal responsável, os coloca num programa de televisão. Stone, claro, usa o exagero para fazer uma dura crítica à imprensa sensacionalista, bem como à atração mórbida que temos pela desgraça alheia.

Quando algum jovem perturbado entra numa escola americana matando professores, colegas e depois praticando suicídio, os infantiloides brasileiros logo apontam o dedo para a “doente sociedade americana”, que “fabrica jovens suicidas aos montes”. Seriam eles os assassinos por natureza?

Esse discurso antiamericano e falacioso, normalmente de cunho político (sim, nossos antiamericanos são sempre os mesmos admiradores de assassinos como Fidel e Che), não resiste a comparações. Vamos a elas.

Os Estados Unidos têm 300 milhões de habitantes e uma média de 20 mil assassinatos por ano. Lá, quase toda casa tem arma de fogo. O Brasil tem 200 milhões de habitantes (ou seja, 33% a menos), mas nos matamos a 150 por dia (ou seja, três vezes mais que a média americana) – o que dá mais de 50 mil crimes por ano. E isso porque o porte e a posse de armas são muito restritos aqui no país.

Não é apenas assim que nos matamos. O nosso trânsito é outra vergonha. São mais de 40 mil mortos por ano – muito mais do que qualquer guerra entre Israel e os terroristas do Hamas. Com a popularização das motocicletas – e de alguns motociclistas suicidas – , esse número só cresceu. Uma visitinha ao Hospital Regional, por exemplo, vai revelar a “epidemia” de amputados e mortos por causa do veículo de duas rodas. Temos condições de comprar os veículos; o que nos falta é civilidade, respeito, prudência.

Há outros fatores. Nos Estados Unidos, 90% dos crimes são elucidados. No Brasil, esse número não chega a 20%. Nos Estados Unidos, assassinos podem pegar prisão perpétua ou pena de morte. Lá, eles ficam presos. No nosso inferno tropical, mata-se por cinco reais, por um botijão de gás, por nada. Aqui, não se poupam crianças, idosos, mulheres grávidas. Aqui, assassinos, quando presos, recebem indulto e comissões de direitos disso e daquilo. As vítimas recebem enterro.

No nosso “mundinho civilizado”, não podemos chamar de “bandido”, “criminoso” ou “assassino” aquele que tem 17 anos e atira no rosto de um cidadão de bem que trabalha para colocar comida dentro de casa. Aqui é “menor infrator”. E se tiver menos de 12, não é nada.

Faz algum tempo acreditava-se que o Brasil era um país cordial. Nosso povo gosta dos rótulos de “povo alegre”, “hospitaleiro”, “feliz”. Todos esses adjetivos são pura hipocrisia. Os números não deixam que as palavras mintam: somos selvagens, violentos, insanos. E vítimas da hipocrisia de quem defende criminosos em nome de uma humanidade que não temos…

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

Opinião: Cantamos o Hino “A CAPELA” ou “À CAPELA”?

capelaPor Menelau Júnior

Durante da Copa do Mundo, a seleção brasileira cantou o Hino acompanhada dos torcedores. Quando a melodia parava, todos continuavam a entoar os versos, num ritual denominado “à capela” (ou “a capela”?).

A expressão faz referência a uma tradição do Renascimento, quando cânticos eram entoados em pequenas igrejas (capelas) sem o acompanhamento de instrumentos musicais.

A dúvida é quanto à grafia dessa expressão: “a capela” (sem crase) ou “à capela” (com crase)?

Está aí um caso em que há divergências de opinião. Para muitos autores, a expressão seria sem crase (“Cantar o Hino a capela”), uma vez que se trata de expressão adverbial de modo, em que não existe a presença do artigo “a”. Esses mesmos autores condenam o uso do acento grave em expressões como “a faca” (ferir alguém “a faca”) ou “a mão” (texto escrito “a mão”).

Para outros autores, esses são casos em que, historicamente, sempre se empregou o acento, não havendo, portanto, motivo para omiti-lo. São expressões adverbiais femininas e, como tais, deveriam receber o acento grave indicativo de crase.

Para complicar ainda mais a parada, o Houaiss, o principal dicionário do país, registra apenas a forma italiana: “a capella”. Nos sites de notícias, encontramos as duas formas – com e sem crase.

Para não ficar em cima do muro, vou assumir: eu uso o acento grave. Por uma questão de coerência: se escrevo que alguém “pinta à mão”, “paga à vista”, “fere à faca” ou “mata à bala”, também escrevo que se “canta o Hino à capela”. Em minha opinião, trata-se de uma locução adverbial feminina – e por isso deve ser acentuada. É muito mais por tradição histórica (como sempre foi com as locuções adverbiais) do que pela presença de uma preposição e um artigo.

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa.

Artigo: O mensageiro vai estar passando

Por Menelau Júnior

Esta semana, recebi uma ligação de uma instituição que se mantém através de doações. Acho importante colaborar, dentro das possibilidades de cada um, claro. A telefonista, de uma simpatia enorme, perguntou como eu ia, agradeceu contribuições anteriores e perguntou se eu “poderia estar contribuindo” este mês, para que ela “pudesse estar enviando” o recibo, já que o mensageiro “iria estar passando” até o fim da semana. E lá estava eu, sendo bombardeado por gerúndios desnecessários, mas que fazem parte do treinamento de telefonistas, atendentes, empresários.

Que se fique claro: usar o gerúndio (verbos com a terminação “-ndo”) não é crime. Nunca foi. O problema é usá-lo de forma abusiva, desnecessária. O gerúndio pode indicar uma ação em curso, que ocorre ao mesmo tempo que outra, antes ou depois dela. Quando alguém diz: “Ele sorriu com a companheira, abraçando-a carinhosamente”, as ações de sorrir e abraçar são concomitantes. Em: “Chegando em casa, então ele chorou”, o gerúndio expressa uma ação anterior a outra. São dois exemplos do gerúndio bem empregado.

O problema maior no emprego desta forma nominal é quando ela faz parte do conjunto “vou/vamos/vai + estar + fazendo alguma coisa”. No telefonema em questão, ouvi frases como “o senhor vai estar contribuindo”, “o mensageiro vai estar passando”, “nós vamos estar enviando”. Seria bem mais simples assim: “O senhor vai contribuir”, “O mensageiro vai passar” (ou “passará”), “Nós enviaremos” (ou “vamos enviar”).

A “gerundite” provavelmente veio de forma inglesa “I´ll be talking”, “I´ll be waiting”,  que, numa tradução literal, seria algo como “Eu vou estar conversando”, “Vou estar esperando”. Entretanto, ninguém pode esquecer que não é possível fazer “traduções” sem uma adequada adaptação ao idioma para o qual se traduz o texto ou a frase.

Pode parecer bobagem, mas esse tipo de construção, embora tenha caído no gosto de publicitários, empresários, telefonistas e atendentes, não acrescenta nada ao nosso sofrido idioma e, além disso, não encontra respaldo no próprio uso do gerúndio. Seria bom que nós evitássemos (e não que “pudéssemos estar evitando”).

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Cegueira nacionalista

Por MENELAU JÚNIOR

A Copa do Mundo Fifa 2014 começou no último dia 12 de junho com uma polêmica: um pênalti marcado a favor do Brasil. O jogo contra a Croácia estava duro e seguia empatado em 1 a 1. Até que o árbitro inventou um pênalti depois que Fred simulou, teatralmente, uma falta na área adversária.

Neymar converteu em gol a cobrança e isso mudou a história do jogo. Ganhamos dentro de campo e perdemos para o resto do mundo. Em vários países, a imprensa esportiva condenou a atitude do brasileiro e chegou a questionar a lisura do torneio – uma vez que a seleção do país anfitrião já começara ganhando “no roubo”, como diriam os argentinos.

Não bastou. Na última quarta, foi a fez de Marcelo simular vergonhosamente um pênalti. Dessa vez, o juiz não marcou, mas deveria ter dado ao jogador brasileiro um cartão amarelo pela tentativa de simulação. Não deu, favorecendo de novo a seleção. O canal SporTV chamou a atitude dos jogadores brasileiros de “ridícula”. Um comentarista resumiu tudo ao dizer que esse tipo de artifício, malandro, para enganar os juízes e se dar bem de forma desonesta era “feio para o Brasil”.

Obviamente, a cegueira nacionalista que tomou conta do país tratou de minimizar as coisas. Mas cegos que o árbitro japonês que nos deu a vitória contra a Croácia, muitos torcedores defendem que, de fato, Fred sofreu pênalti. Felipão, diante do fracasso de seu time contra o México, reclamou da arbitragem alegando que Marcelo teria sido derrubado na área. Ou seja, deu vez à desonestidade, à malandragem, ao “jeitinho brasileiro” de levar vantagem em tudo.

Ninguém de bom-senso vai negar que a seleção é favorita por méritos próprios. Ninguém de bom-senso vai negar também que, contra a Croácia, a “canarinha” jogou bem. Mas não basta isso. Para os patriotas de plantão, é preciso negar que nosso time foi favorecido, é preciso negar que a história do jogo poderia ter sido diferente não houvesse a participação do árbitro. E é preciso mostrar erros de arbitragem em outros jogos para negar que o Brasil ganhou com a ajuda (imensa) do juiz.

Independentemente disso, o que está em jogo é nosso conceito de honestidade. Admitir que o Brasil foi favorecido não é, como querem os talibãs da patriotada, torcer contra. É simplesmente entender que honestidade não tem lado: ou se é honesto (e se defende esse valor em qualquer situação) ou não se é. Não há meio termo.

Ah, mas “erros existem em todas as Copas”. “O Brasil foi prejudicado há quatro anos”. É verdade. Mas isso não muda as coisas: a Croácia foi prejudicada e pronto. Fred usou de artifícios que o futebol proporciona? Sim. Mas foi honesto? Não. É simples! Marcelo tentou fazer o mesmo no jogo contra o México? Sim! Citar erros de arbitragem para justificar o que houve no jogo anterior é como “encher a cara”, sair dirigindo bêbado e dizer que não é crime porque muita gente faz isso.

Na próxima segunda, o Brasil enfrenta Camarões. A maioria da nossa população espera o óbvio: uma vitória sem maiores atropelos, uma vez que o adversário já não tem chances de classificação. O que se espera também é que nossos jogadores parem de cair na área para cavar pênaltis, como se só pudessem ganhar jogo enganando o juiz. Querer a vitória do Brasil, “não importa como”, é revelar toda a mesquinhez humana. Quem hoje acha que “vale tudo” para ganhar a Copa, deve achar que “vale tudo” para se (re)eleger, que “vale tudo” para vencer na vida, que “vale tudo” para não pagar por eventuais crimes cometidos. E que “vale tudo” para se obter um bom resultado numa prova…

Honestidade não tem lado, não tem pátria, não tem futebol. Admitir que o Brasil foi favorecido por uma arbitragem vergonhosa não é tirar os méritos da seleção. É simplesmente reconhecer o que só nós não queremos ver, por causa dessa cegueira nacionalista que nos acomete em época de Copa. É simplesmente ser honesto. Mas honestidade é item cada vez mais raro nos estádios e fora deles. Nestes tempos de Copa, vale tudo para ver o Brasil campeão. Quem não o ame, que o deixe (ops, isso não era slogan?)…

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Nossos coliseus

Por MENELAU JÚNIOR

Maior e mais famoso símbolo do Império Romano, o Coliseu era reservado para combates entre gladiadores ou entre esses homens e animais selvagens. Sua construção começou em 72 d.C., e as obras levaram oito anos para serem concluídas.

Afirma-se que “os primeiros combates disputados para comemorar a conclusão do Coliseu duraram cerca de 100 dias e se estima que, só nesse período, centenas de gladiadores e cerca de 5 mil animais ferozes tombaram mortos em sua arena”.
As lutas e jogos levavam o público ao delírio, público este que chegava a mais de 50 mil pessoas. O Coliseu funcionou como o principal palco de lutas da cidade até o ano 404, quando o imperador Flávio Honório proibiu os combates entre gladiadores.

O Brasil construiu ou reformou 12 Coliseus para a Copa do Mundo. As obras duraram 7 anos e ainda não estão acabadas. Durante 30 dias, 31 seleções sucumbirão até que uma sobreviva nestas arenas superfaturadas. As lutas levarão sempre mais de 50 mil pessoas às arenas e serão vistas por milhões ao redor do mundo.

Hoje, apesar de estar em ruínas,  o Coliseu ainda guarda sua majestade. Está localizado bem no centro da capital italiana, cercado por largas avenidas, e recebe, anualmente, mais de 3 milhões de visitantes, que pagam algumas dezenas de euros para poder caminhar dentro dele.

Em breve, muitos dos coliseus brasileiros, construídos em estados sem nenhuma representatividade no futebol, estarão em ruínas também. A diferença é que ninguém vai pagar em euros para entrar nestes templos do desperdício do dinheiro público.

Os romanos adoravam o pão e circo oferecido pelos imperadores no Coliseu. O brasileiro adora o pão e circo oferecido nas arenas da Copa. Os romanos falavam latim. Nossa língua veio do latim. Nossa principal religião é romana. Herança é algo fantástico.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

 

OPINIÃO: O gênero das siglas

Por MENELAU JÚNIOR

Um atento leitor nos escreve e solicita algum comentário sobre o gênero das siglas. Sua dúvida – bastante pertinente – é bem específica: como se referir à nova sigla adotada pela Favip, que agora se chama Unifavip/DeVry?

As siglas, assim como quase todas as palavras, têm gênero, ou seja, podem ser classificadas como masculinas ou femininas. Isso depende do gênero da primeira palavra adotada pela sigla. Assim, dizemos O MEC, porque MEC significa ministério da Educação – e a primeira palavra, “ministério”, é masculina. Da mesma forma, dizemos A USP, porque o primeiro nome significa Universidade – a USP é a Universidade de São Paulo.

Quando tínhamos A Favip, o gênero era feminino porque se tratava da Faculdade do Vale do Ipojuca. Não custa nada lembrar que uma sigla, quando tem quatro ou mais letras e é dita como uma palavra (e não letra a letra), deve ter apenas a inicial maiúscula; por isso escrevemos Fafica, Asces, Unifavip e Compesa, por exemplo.

Mas agora que a Faculdade do Ipojuca tornou-se, segundo seu próprio site, um Centro Universitário, passou a chamar-se Unifavip – e como “Centro” é palavra masculina, seria “O” Unifavip. No site da Unifavip/DeVry, lê-se várias vezes “O” Unifavip/DeVry. Vejo como corretíssima a concordância com o artigo masculino, uma vez que estamos falando de um Centro Universitário. É assim mesmo que deve ser: O Unifavip

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

 

OPINIÃO: ‘Previsão para o futuro’

Por MENELAU JÚNIOR

Pode algum ser humano enxergar o futuro? Será mesmo possível ver aquilo que ainda não aconteceu? A resposta a essas perguntas depende muito mais de crenças e superstições do que de análises científicas. Mas pelo menos num ponto a fé pode ser deixada de lado: a análise linguística.

É relativamente usual lermos em sinopses de filmes que certo personagem tem a capacidade de “prever o futuro”. Charlatães de toda espécie também andam por aí prometendo esse tipo de coisa. Entretanto, na língua portuguesa, o verbo “prever” e o substantivo “previsão” não devem estar acompanhados da palavra “futuro”. Por quê? Pelo óbvio: só se pode prever o futuro.

Como escapar, então, a essa capciosa redundância? Existem algumas maneiras. Veja que, em lugar de escrever que alguém pode “prever o futuro”, é possível dizer que esse alguém pode “prever os acontecimentos”. Com o substantivo “previsão” não é diferente: nada de sair por aí dizendo – ou, pior, escrevendo – que alguém faz “previsões para o futuro”. Basta dizer que esse alguém “faz previsões”.

A arte de escrever é também a de economizar palavras. Nesses casos, o excesso é pecado. Ninguém precisa dizer que o amigo “ainda continua” hospitalizado se ele apenas “continua” hospitalizado. Você não precisa dizer que começou a ler esta coluna “há cinco minutos atrás” se você começou a ler “há cinco minutos”. Ou seja, o cuidado com as repetições desnecessárias deve ser permanente.

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OPINIÃO: Palavras envelhecem

Por MENELAU JÚNIOR

Palavras são como gente: nascem, divertem-se, envelhecem e morrem. Às vezes, ressuscitam, transmutam-se, evoluem. Quando pensamos que desapareceram, surgem na boca de alguém que já viveu um pouquinho. E recebem o nome de arcaísmos.

Você sabe que alguém “já passou dos trinta” quando esse alguém chama a pessoa amada de “amoreco”. Se não tiver o amor correspondido, fica logo “amuado”, porque não quer uma “amizade colorida”.

E esse apaixonado – ou “gamado” – decide comprar um cartão e vai ao “armarinho” onde se vende de tudo. Acaba “atarantado” diante das opções de cartões. Alguns, muito belos; outros, “chinfrins”. Compra um. Embora saiba que a “coqueluche” do momento seja deixar mensagens explícitas no Facebook, o indivíduo prefere os cartõezinhos. Pensa na amada, bela com cabelos soltos ou usando “coque” preso com “laquê”. Sem “delonga”, paga ao dono do “armarinho” e solicita um “carro de praça”. Está decidido a ir à casa de seu “amoreco” declarar-se.

Ele, que sempre fora “acabrunhado”, estava “encafifado” com a possibilidade de não ser correspondido. Ela, com seus vinte e sete, já se dizia “encalhada”. Mas estava decidido: não iria mais “encher linguiça”, ficar com muito “falatório”. Iria chegar e dizer: “Não vivo mais sem você”.

Ao descer do táxi, conferiu se estava perfumado. Verificou o “fecho éclair” para não passar vergonha. Ajeitou o terno “engomado”. A rua estava “fervilhando” de gente. Mas nada importava. Os meses de “flerte” tinham servido para preparar o terreno. Ora elogiando a moça, ora fazendo “fiu-fiu”, ele já dera todos os motivos para ela saber de suas intenções.

No táxi, escrevera algumas palavras “mimosas”, ainda que com letra de “garrancho”. Não importava. Tudo se justificava diante de um homem “gamado”.

Tocou a campainha.

Uma “lambisgoia” atendeu, acompanhada de um rapaz “efeminado” que logo “desmunhecou”.

– A Juçara está? – perguntou com voz trêmula.

– Ela se mudou semana passada, “bofe”. Eu sirvo? – perguntou o rapaz.

O jovem “bateu as botas” ali mesmo.

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