Nas últimas semanas, o assunto “Mobilidade” ganhou destaque em Caruaru devido aos investimentos que foram anunciados pela Prefeitura, no tocante à realização de alguns projetos como o da Via Parque. No intuito de deixar os leitores ainda mais por dentro deste tema, que é tão importante para uma cidade, VANGUARDA traz nesta edição entrevista com um especialista no assunto, o pós-graduado em Gestão de Mobilidade Urbana, Ricardo Henrique. Confira abaixo, a entrevista:
Pedro Augusto
Jornal VANGUARDA – O novo sistema do Transporte Público de Caruaru entrou em vigor no último mês de junho. De início, a população chegou a fazer alguns questionamentos, mas agora parece tudo estar entrando no seu curso normal. De que forma você avalia esse novo sistema?
Ricardo Henrique – De forma positiva, haja vista que, além de estar cumprindo uma exigência legal, ou seja, atendendo a uma Lei Federal que determina que todo sistema de transporte público deve ser licitado, este novo sistema tem dado a oportunidade a Caruaru de reestruturar o seu atendimento em relação ao transporte por ônibus. Vale relembrar que este tipo de sistema foi iniciado na década de 70 e teve o seu primeiro contrato assinado apenas na década seguinte e, de lá para cá, o que houve foi o engessamento na questão justamente da prestação de serviços. A cidade cresceu bastante e este tipo de operação passou a ser insuficiente. Tão logo o novo sistema passou a vigorar, isso há 60 dias, algumas requalificações foram feitas no sentido de otimizar os horários dos ônibus, descobrindo também as melhores rotas a serem aplicadas. Até porque nós nos preocupamos bastante com a questão da pontualidade dos veículos. A população está se adaptando bem às reformulações que têm sido feitas.
JV – A população está prestes a ganhar um grande empreendimento na questão da mobilidade. O projeto Via Parque já se encontra avançando com o objetivo de oferecer uma extensa área de circulação e de lazer. Em sua opinião, quais são as contribuições que este projeto proporcionará aos caruaruenses?
RH – Não temos dúvidas de que este empreendimento, quando estiver todo implantado, será um divisor de águas para Caruaru, no que se refere à mobilidade ativa. A Via Parque é um projeto grandioso que, além de contemplar as questões de ciclovias, ainda possibilitará à população a utilização de outros equipamentos bastante importantes em relação à humanização e à qualidade de vida. Também comemoramos a sua elaboração e aprovação, porque a Via será implantada na linha férrea, que já se encontrava obsoleta já há vários anos. Ou seja, de leste a oeste, a cidade contará com uma área territorial muito importante no que diz respeito à circulação de pessoas, bem como à prática de esporte e lazer. Parabenizamos a iniciativa da Prefeitura!
JV – Em sua opinião como especialista, que desafios ainda necessitam ser superados no tocante à mobilidade em Caruaru?
RH – Os desafios ainda são enormes. No âmbito geral, é necessário que haja mais melhorias quanto à infraestrutura da cidade. Especificamente em relação ao serviço de transporte público, é imprescindível que sejam instalados mais pontos de ônibus e que mais bairros sejam contemplados com pavimentação, haja vista que vários pisos ainda não são adequados para comportar este tipo de serviço. Entendemos que o país vem passando por um período em que os investimentos se encontram escassos, porém existem alguns deles que possuem custos mais baixos, a exemplo dos binários. Algumas inversões e desobstruções de ruas também podem ser feitas para otimizar o nosso sistema de transporte público, qualificando, consequentemente, a nossa mobilidade.
JV – Em relação às ações do Conselho Municipal do Trânsito (Comut). De que forma este órgão vem contribuindo para com o desenvolvimento do sistema de trânsito local?
RH – Estamos há quatro anos no comando do Comut e, durante este período, tivemos a oportunidade de discutir e apontar soluções para o trânsito de Caruaru. Discutimos o sistema de táxi, o de URB, o de mototáxi e o de ônibus. No que se refere a este último, podemos exemplificar, como medidas a serem adotadas pelo poder público, a implantação de faixas exclusivas e a alteração nos sentidos de vias. Em relação a mototáxi, exploramos a questão dos mototaxistas clandestinos, a regularização da categoria, dentre outros aspectos. Neste momento, estamos voltados para debater a conclusão do Plano Diretor e a elaboração do Plano de Mobilidade da cidade.
JV – Está previsto reajuste no preço da passagem de ônibus para ainda este ano?
RH – Vale ressaltar que tivemos uma situação no início deste ano que chegou a ser comemorada por todos que fazem o sistema de transporte municipal de ônibus: a desoneração do ISS (Imposto sobre Serviço de Qualquer Natureza). Na prática, isso acarretaria em custos mais baixos para os usuários em relação aos valores das passagens. Mas, infelizmente, na época, a Câmara de Vereadores acabou não aprovando essa desoneração. Quem perdeu foi o povo! Agora, estamos aguardando a próxima discussão sobre o assunto, que tradicionalmente costuma ocorrer a cada mês de janeiro, ou seja, até término de 2018 não haverá aumento nos preços.
JV – A Eleição 2018 se aproxima e muitos candidatos, inclusive, presidenciáveis, já estão tocando bastante na tecla da mobilidade. Em relação ao âmbito estadual e, consequentemente, local, que aspectos devem ser percebidos e cobrados pelos eleitores em relação a este tema tão importante?
RH – Em todos os aspectos, inclusive o de mobilidade, é necessário que o Governo do Estado seja parceiro de cada município. Não adianta se ter bons projetos, boas ideias e intenções se não houver um bom entrosamento entre os poderes envolvidos. Além de prestar atenção neste fator, os eleitores devem ficar por dentro das propostas dos candidatos quanto às malhas viárias, às infraestruturas do Estado e de seus municípios, bem como ao próprio sistema de trânsito local e estadual. Boa mobilidade é sinal de desenvolvimento e é o que desejamos para Caruaru e todo Pernambuco.