Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL
Sempre que ouço uma notícia dando conta dos recordes batidos ano após ano pela Caixa Econômica no financiamento imobiliário, fico pensando nos rumos da política habitacional brasileira e onde isso pode parar. No primeiro semestre deste ano já foram movimentados mais de R$ 66 bilhões, recursos 44% maiores em relação ao mesmo período de 2012, podendo chegar aos R$ 130 bilhões até o final do ano.
Fico pensando em qual aparato a entidade possui para cobrar os débitos caso houvesse uma grande inadimplência nos pagamentos dos financiamentos ou para se reintegrar na posse dos imóveis. Penso também na figura paternalista do Estado, que tem o dever constitucional de prover quase tudo que é básico e que, na verdade, não consegue. Penso no uso político do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida e da queda dos juros promovida pela entidade estatal que, certamente, será uma das bandeiras da situação na campanha presidencial no próximo ano. Penso no baixo crescimento do PIB que apresentamos nos últimos anos frente ao nível de endividamento das famílias das classes média e baixa. Por fim, penso nas revoltas populares que todo dia aparecem nos noticiários.
Todo esse cenário é muito perigoso para a manutenção de uma política habitacional de longo prazo, pois o risco de haver um grande calote é evidente. Os incentivos que o governo concedeu em forma de subsídios, que podem chegar a R$ 17.900, ao invés de servirem para o mutuário pagar menos pelo imóvel, acabaram sendo incorporados ao valor do imóvel, inflacionando o mercado que é atendido pelo Minha Casa e puxando os preços de toda a cadeia imobiliária.
Na minha modesta opinião, esse tipo de incentivo só deveria ser concedido ao mutuário que fosse integralmente adimplente com o seu financiamento, ou seja, no final da operação e sem a divulgação ostensiva como é feita atualmente. Só nos resta esperar para ver no que tudo isso vai dar.
Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog