OPINIÃO: Meus votos para 2014

Por MENELAU JÚNIOR

Já que esta é uma época de desejar um 2014 “maravilhoso” e “repleto de felicidades e realizações”, também tenho algo a desejar não apenas aos meus amigos do dia a dia, deste blog e das redes sociais, mas, de uma forma geral, a todos os brasileiros. Por isso, desejo que em 2014…

  • aprendamos a ser mais pacientes com aqueles que precisam de nós;
  • devolvamos o troco que nos passam a mais – mesmo que sejam apenas centavos;
  • deixemos de furar filas como se nada estivéssemos fazendo;
  • sejamos mais honestos nas provas do colégio, da faculdade e dos cursos de idiomas;
  • bebamos menos;
  • não sejamos irresponsáveis dirigindo depois de ter ingerido bebida alcoólica – mesmo que “apenas um copo de cerveja”;
  • consumamos menos e poupemos mais;
  • respeitemos mais nossos pais e mães;
  • não votemos pensando nos nossos interesses particulares, mas em nossas convicções sobre quem pode ser melhor para a sociedade;
  • sejamos mais frequentadores de livrarias do que de academias;
  • sejamos capazes de perdoar a quem nos ofendeu, o que não significa fazer de conta que não fomos ofendidos;
  • deixemos de usar o Facebook para nossas lamentações amorosas ou para nossas “indiretas” infantis;
  • sejamos capazes de parar para ouvir os mais velhos;
  • não compactuemos com a desonestidade, seja de quem for;
  • exijamos mais responsabilidade de nossos jovens, principalmente quando o assunto é estudo;
  • combatamos o uso de drogas a qualquer custo;
  • deixemos de usar o nome de Deus em vão ou em nome do dinheiro e dos milagres fabricados;
  • combatamos os maus políticos com as urnas, e não com a destruição dos patrimônios públicos e privados;
  • sejamos mais tolerantes dentro de casa, cuidando de cada palavra que sai de nossa boca;
  • saibamos que o mundo só muda quando nós mudamos.

É SÓ ISSO QUE DESEJO A TODOS VOCÊS EM 2014.

menelau blog

 

Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Locação por temporada

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

O verão começou e com ele chega também a melhor época do ano para exploração do segmento de locações por temporada. Essa espécie de locação, regida pela lei nº 8.245/91, difere das demais por trazer no seu instituto algumas características especiais. Uma delas – e talvez a principal – permite que o aluguel de todo período, que não pode ultrapassar 90 dias, seja integralmente recebido pelo proprietário, incluídos os demais encargos, antes da entrega do imóvel ao locatário. Tanto na entrega ao locatário quanto na sua devolução ao proprietário deverão ser realizadas vistorias relatando as condições do imóvel. No contrato de locação deverá conter uma relação dos utensílios que o guarnecem e seu estado de conservação, inclusive fotografando tudo.

É uma modalidade que inspira muitos cuidados para ambas as partes envolvidas nesse tipo de transação imobiliária. Do lado do proprietário, ele não pode abrir mão de uma das modalidades de garantias legais, fiadores, caução de bem móvel ou dinheiro, seguro-fiança, para se assegurar de que nenhum dano seja causado ao seu patrimônio. Do lado do locatário, ele deve ter a preocupação de visitar o local onde está localizado o imóvel, as suas condições de conservação e funcionamento, tanto do imóvel quanto dos bens que nele estão inseridos e sua condição de higiene e limpeza, para restituí-lo nas mesmas condições ao locador. Ambos, porém, devem celebrar o negócio através de contrato escrito, para evitar discussões posteriores sobre obrigações e direitos assumidos.

Nessa época também surgem vários golpistas que se aproveitam da boa-fé dos clientes para ludibriá-los. Falsários postam fotos de imóveis atraentes em sites de vendas, visando atrair interessados e exigindo um sinal para “segurar” o imóvel, quando na verdade a intenção principal é enganar o interessado.

Postei recentemente no Facebook um caso no qual um estelionatário colocou um imóvel num desses sites de ofertas. Foram usadas fotos de um imóvel, que seria em Tamandaré, situado em Ubatuba (SP). Uma bela casa que era oferecida a um preço bastante convidativo. Pessoas que ligaram disseram que ele exigia um depósito de parte do aluguel e usava o argumento de que várias outras já haviam ligado para ele interessadas no imóvel. Confirmado o golpe, a página foi removida, pois trazia o telefone do estelionatário.

Mais uma vez, alerto para a importância de se realizar esse tipo de negócio apenas através de profissionais habilitados e com reputação no mercado, pois, além de oferecerem toda a assessoria na transação, assegurando direitos e obrigações a ambos, existe a responsabilidade civil, inerente a esses profissionais que obrigam a indenizar as partes prejudicadas em caso de dano causado pelo mau uso do bem locado ou descumprimento do contrato de locação.

alexandre barbosa
Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog

OPINIÃO: Mobilidade urbana e o Plano Diretor (Parte I)

Por MARCELO RODRIGUES

O assunto em si despertou – e desperta – a atenção das maiores metrópoles do mundo, das médias e pequenas cidades, por ser, dentre as questões urbanas, o que mais cresce em importância e gravidade, pois, além de consumir cada vez mais tempo, energia, espaço e dinheiro, vem comprometendo a saúde e a sadia qualidade de vida pelos enormes congestionamentos.

É sabido que a crise da mobilidade é resultado de uma política pelo favorecimento dos gestores em atender às indústrias de automóveis, dando preferência ao transporte individual, quando a própria Carta Magna de 1988 considera o transporte público como sendo um serviço público essencial e transfere aos municípios a responsabilidade de gerir os serviços de transporte e trânsito. Essa transferência perniciosa, na prática, retirou o governo federal de cena e ignorou que os problemas existentes não poderiam – e não podem – ser resolvidos localmente.

Os números por si só demonstram as consequências dramáticas para a mobilidade urbana: 55 milhões de brasileiros não têm acesso ao serviço de transporte público, por ser caro e ineficiente; 30 mil mortes, 350 mil feridos, 120 mil deficientes físicos a cada ano, que comprometem 30% dos recursos do SUS, a um custo de R$ 5,3 bilhões anuais; e 90% do espaço viário é ocupado por automóveis e, pasme, para transportar 20% das pessoas. Só em São Paulo e no Rio de Janeiro, para servir como parâmetro, são gerados 123 mil toneladas de monóxido de carbono e 11 mil toneladas de hidrocarbonetos (dados retirados de várias ONGs, SUS e ONU).

Na verdade, nos deparamos com conflitos de circulação entre os vários modais (automóveis de toda a natureza, motos, bicicletas, etc.) pela disputa de espaço para o deslocamento e estacionamento, e daí surgem os alargamentos de ruas, viadutos e passarelas; o número cada vez mais elevado de acidentes de trânsito; a baixíssima qualidade dos sistemas de transporte coletivo que não se integram; o prejuízo insofismável de natureza ambiental pela emissão cada vez maior de poluentes, que resulta no aumento do número de atendimentos médicos por conta das internações motivadas por doenças respiratórias e alérgicas; o custo do modelo de mobilidade adotado e suas externalidades negativas.

Vale ainda mencionar sempre a lei, suas diretrizes e princípios fundamentais do Estatuto da Cidade, com destaque para a gestão democrática; a justa distribuição dos ônus e benefícios decorrentes do processo de urbanização; a recuperação dos investimentos do poder público que tenham resultado em valorização de imóveis urbanos; e o direito a cidades sustentáveis, à moradia, à infraestrutura urbana e aos serviços públicos.

Criar novos paradigmas para uma mobilidade sustentável é construir e contribuir para uma cidade equânime, onde os benefícios do desenvolvimento urbano sejam democraticamente distribuídos e o ônus minimizado. Também deve haver favorecimento aos transportes coletivos de qualidade, menos agressivos ao ambiente, diminuindo ao máximo os congestionamentos e melhorando o deslocamento dos cidadãos ao trabalho, estudo, serviços, lazer, etc.

Na realidade, a cidade deve ser discutida com os cidadãos, e daí definir e executar ações locais, com foco em um desenvolvimento de uma nova e indispensável cultura participativa entre os agentes sociais e institucionais.

Por fim, a mobilidade sustentável deve ser sempre um produto de políticas públicas que estabeleçam o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, reduzindo a segregação espacial e contribuindo para a inclusão com foco na preocupação da sustentabilidade ambiental.

marcelo rodrigues
Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: Dez anos de empáfia

Por MENELAU JÚNIOR

livroAs férias estão aí. Uma boa oportunidade para ler e se informar um pouco. Recomendo esta semana o livro “Década perdida: Dez anos de PT no poder”, do historiador Marco Antonio Villa. Lançado no início do dezembro, a obra já estava esgotada antes mesmo de chegar às livrarias. Agora, já está na segunda edição.

Em suas quase trezentas páginas, Villa reconstrói, didaticamente, ano a ano, o festival de empáfias perpetrado – e engolido por muitos brasileiros – pela máquina petista. Impecável em seus dados, o historiador com mestrado em sociologia e doutorado em história revela como foi construído o conto de fadas em que se transformou a história do “operário que virou presidente”. Tudo está nas páginas do livro: a cooptação das centrais sindicais, os escândalos sucessivos e a defesa dos criminosos, a criação de cargos para garantir emprego aos militantes – e a consequente mesada aos cofres do partido. Villa mostra o apoio incondicional de Lula a Sarney e a Fernando Collor, bem como o apoio aos crimes cometidos pela ditadura cubana e ao programa atômico do Irã.

“Década perdida” é um livro imprescindível àqueles que não veem como normal o fato de um partido “sacar, corromper, infiltrar, aparelhar o Estado desde dentro e de forma que, progressivamente, não mais se distinga do partido – de jeito que, afinal, sirva ao partido, seja o partido”. Para o autor, o crescimento econômico brasileiro – bem inferior ao de outros países emergentes – foi muito mais fruto de condições internacionais favoráveis do que da competência petista de gerir o Estado.

Como promete o título, o livro esmiúça dez anos de PT no poder, de 1º de janeiro de 2003 a 31 de dezembro de 2012. Mostra como a imprensa – mesmo aqueles órgãos hoje demonizados pelo petismo – se encantou, no início do primeiro mandato de Lula, com a história do operário que, diga-se de passagem, trabalhou apenas 9 anos na função, uma vez que fez do sindicalismo sua “profissão”. Quando esta mesma imprensa começou a denunciar os descalabros do governo, recebeu a alcunha de PIG (Partido da Imprensa Golpista). Villa diz que, com dinheiro público, o PT trouxe para si vários jornalistas e financiou uma infinidade de blogs com a finalidade de dar cores ao conto de fadas vermelho e agredir adversários, vistos agora como “inimigos”.

Villa também não poupa críticas à oposição – inclusive a Fernando Henrique Cardoso, que foi contra o processo de impeachment quando cogitado na época do mensalão, em 2005. Para o autor, essa foi a maior falha na carreira de FHC. O PSDB, principal partido da oposição, é pintado por Villa como incompetente em seu papel de opositor, medroso, conivente com as falácias de Lula.

Enfim, uma obra que revela os bastidores de um projeto de poder que se valeu da certeza da impunidade, da miséria econômica e educacional de muitos brasileiros e do carisma de seu mais importante membro para dar certo. Como escreve o autor, “O Brasil de hoje é uma sociedade invertebrada. Amorfa, passiva, sem capacidade de reação. É uma República bufa, uma República petista”.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Geração Bar do Rock (Parte II)

Por DANIEL FINIZOLA

Meus primeiros acordes soaram ainda na escola. No meio de um intervalo, um colega chamado Victor me convidou para ver o ensaio de uma banda de rock na garagem de um outro colega, na Cohab I. Coincidentemente, eu também morava na Cohab. No segundo ensaio já cheguei sem convite e no terceiro, com a guitarra debaixo do braço.

Não demorou para que muitos que tiveram sua gestação musical naquela garagem conhecessem o Bar do Rock. Tocar no chão do bar, já que não existia palco, era algo que dava frio na barriga. Recordo de festas que eram organizadas pela galera do bar. A banda que tocávamos já tinha experimentado vários nomes e Nato nos cobrava um nome para colocar no cartaz e assim poder participar do evento. Até que Victor Hugo, aquele mesmo que me chamou para o ensaio na garagem, gritou: “Sobreviventes do I.D.R”. Surgia, assim, outra banda emblemática da geração Bar do Rock. Além do Sangue de Barro e Sobreviventes do I.D.R, também tocavam por lá o Cangaceiros do Rock, Sombra dos Anjos e Juninho Santana – que sempre deixava a guitarra por lá pra mandar aqueles clássicos do Barão Vermelho: “Mais uma dose…” – Era Massa!

Os garçons não cativavam pela qualidade do atendimento, mas pela fato de serem espontâneos, roqueiros e amigos de todos que frequentavam o bar. Com o tempo, o público foi adquirindo métodos para enfrentar aquele atendimento que sempre deixava a desejar. A tática clássica era: todos da mesa gritarem em um só coro o nome de garçom. Quando o bar estava cheio, no auge da madrugada, constantemente se escutava um coro que dizia: “CASSACO”. Esse era o apelido de um dos garçons, que ao ouvir o grito organizado, corria pra atender a mesa. Até hoje encontro Cassaco e não sei seu nome ao certo, mas sei que é um dos amigos que fez parte de um dos melhores momentos da minha vida. Além de Cassaco, fez parte da administração do bar: Peixamim, Bartô, Tiazinha, Nadnelson, Jr. Pintor, Rivelino. Esse são os que recordei com a ajuda do amigo Ivan Márcio, pessoa fundamental no desenrolar dessa geração.

O ensaio de algumas bandas passaram a acontecer no Bar do Rock. Sangue de Barro, por exemplo, era à noite e Sobreviventes à tarde. Curioso é que ensaiávamos em um quarto e as caixas de som ficavam em um corredor ao lado do quarto. Rolava todo tipo de criatividade e improviso nesse lugar, desde os nomes das festas ao baixo azul de três cordas de André Vela Branca, cuja quarta corda geralmente não fazia falta e servia a grande maioria das bandas que chegavam por lá pra tocar.

Atrás do Bar do Rock, havia uma grande área com estrutura para conserto e lavagem de carros. Algumas festas aconteciam nesse local e a galera fazia da plataforma onde se consertava carro o palco. Em um Halloween, colocaram em cima dessa plataforma uma gaiola enorme de ferro. É!!! Tocamos engaiolados e fantasiados. Era um visual e um comportamento “louco” e, até certo ponto, inocente. Só que queríamos mais…

Não perca, semana que vem, a terceira e última parte deste artigo.

Em tempo: o local onde funcionou o Bar do Rock é hoje uma loja de conserto de radiadores, não um posto de gasolina, como falei na primeira parte do artigo.

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br

OPINIÃO: Você sabe o que é evicção?

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

O instituto da evicção é previsto no Código Civil brasileiro nos seus artigos 447 a 457. O termo traduz a ideia de perda de algo para alguém e é isso mesmo. A coisa é mais ou menos assim: você compra um bem, um imóvel, por exemplo, mas não se preocupa em transmitir a si o título aquisitivo, permanecendo apenas com a posse. Aí a pessoa que vendeu o imóvel a você, que é a proprietária de direito do imóvel que você comprou, mas não transmitiu o título de propriedade para si, escriturando a operação em um cartório de notas e registrando no cartório de imóveis e ainda sem verificar se quem vendeu o imóvel não possuía algum ônus ou impedimento, contrai uma dívida e é executada judicialmente para pagar o que deve.

Nisso o exequente nomeia entre os bens a serem executados o imóvel que você comprou do vendedor, mas não escriturou e nem registrou o negócio jurídico. Acho que deu para entender a situação que fica o comprador nesse caso. O ato público torna a operação de compra e venda segura, pois tem uma série de exigências para que não restem dúvidas quanto à lisura do negócio.

Existe uma frase que resume essa questão: “Quem não registra não é dono”. A única opção do comprador prejudicado pela perda do seu bem para um terceiro é a busca pela indenização na Justiça contra o vendedor, pois quem aliena deve garantir o uso, gozo e fruição sobre o bem alienado. Num mercado onde a cultura do não regularizar os imóveis é predominante, aumenta o risco de perda do bem para terceiro, além de crescer a demanda na Justiça envolvendo imóveis não regularizados.

Por essa questão, é sempre prudente verificar, antes mesmo de se fazer qualquer proposta, se os proprietários vendedores não possuem ações judiciais contra eles nas esferas estadual e federal, cível e trabalhista, protestos, dívidas, e se o imóvel não possui ônus ou gravame, débitos com a municipalidade ou com o condomínio, para que só depois se faça qualquer manifestação inequívoca da aceitação das condições do negócio.

Essas são obrigações éticas em cumprimento ao nosso Código de Ética profissional, objeto da resolução 326/92 do Cofeci, que no seu artigo 4º, incisos I, II e III, determina que conheçamos todas as circunstâncias que envolvem o negócio antes mesmo de oferecer e de prestar informações precisas sobre ele, além de não aceitar realizar transação que saiba ser injusta, ilegal ou imoral, evitando assim a aplicação de outro dispositivo legal. Agir em desacordo com essas determinações enseja a possibilidade de cair em erro e responder civilmente perante o cliente, tendo que indenizá-lo pelo dano causado em virtude da sua imperícia, negligência, imprudência, ação ou omissão.

alexandre barbosa
Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog

OPINIÃO: O Plano Diretor e o saneamento ambiental

Por MARCELO RODRIGUES

O Plano Diretor de Caruaru foi elaborado e aprovado em 2004, contendo o que na época era considerado como diretrizes básicas para um crescimento harmônico da cidade, sendo um instrumento imprescindível da política de desenvolvimento e expansão urbana.

Caruaru está enquadrada em duas categorias de obrigatoriedade do Estatuto da Cidade para elaboração e utilização de Plano Diretor. São elas: cidade com mais de 20 mil habitantes e integrante de área de especial interesse turístico.

No caso em comento, o Plano Diretor aprovado deveria apontar diretrizes, instrumentos e programas que visassem a ampliação do acesso da população aos serviços de saneamento, reconhecendo a política municipal de saneamento como um dos componentes da política local de desenvolvimento urbano.

É sabido que a Lei da Política Nacional de Saneamento Básico (nº 11.445/2007) criou avanços no sentido de ampliar o acesso aos serviços de saneamento básico, incluindo-se neste contexto os serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, manejo das águas pluviais urbanas e o manejo de resíduos sólidos.

Faz mister lembrar que a lei mencionada acima, que estabelece atribuição de planejar os serviços, é intransferível, mesmo em casos de concessão dos serviços. Entretanto, o município aprovou seu Plano Diretor antes da lei, sem, é lógico, o conhecimento do conteúdo da Lei Nacional de Saneamento Básico.

A situação não seria um problema se não significasse uma renúncia de Caruaru às suas responsabilidades na gestão dos serviços concedidos à empesa estadual – Compesa, que, diga-se de passagem, vem se locupletando do dinheiro dos caruaruenses, sem prestar serviço de tratamento dos esgotos, poluindo o rio Ipojuca, cometendo crimes ambientais de poluição de águas e mortandade das espécies que ainda existem ao longo dos 19 quilômetros que cortam nossa cidade, além de crime contra a economia popular.

A maioria desses comportamentos criminosos passa silente pelo Ministério Público local, que nada faz para apurar e denunciar. Porém, essa renúncia é muitas vezes imposta pela Compesa, que detém a concessão, e que continua em vigor, graças à herança maldita do Planasa (Plano Nacional de Saneamento), que, ainda por cima, protege os interesses das companhias estaduais em detrimento dos interesses dos municípios.

A verdade é que predomina no Brasil uma situação em que as companhias estaduais são majoritariamente responsáveis pela prestação dos serviços de água e esgotos. Dessa forma, o contrato entre Compesa e Caruaru deixa muito pouca margem de ação política, e é neste ponto que perdemos o controle sobre os aspectos fundamentais da política de saneamento, como a política tarifária e as decisões sobre os investimentos, questão chave no planejamento e na gestão urbana – presente e futura.

Nesse diapasão, e sem medo de errar, as gestões passadas ou presentes não conheciam e não conhecem a real situação dos sistemas e redes de água e esgotamento instalados em seus territórios, chegando a impedir que sejam construídos diagnósticos fundamentais para a orientação e o subsídio da política municipal de saneamento.

A lei obriga a existência de plano de saneamento básico elaborado pelo titular e da compatibilidade dos planos de investimentos e projetos, sendo estas as condições para a validade dos contratos de concessão ou de programa.

O plano municipal de saneamento deve ser construído de forma articulada e complementar às diretrizes da política municipal de saneamento. Este tem de figurar no Plano Diretor e, em razão de não ter sido contemplado à época como mencionando de início, deve em sua reformulação constar explicitamente, para que o desenvolvimento urbano e a ampliação ao acesso ao saneamento ambiental se concretize.

Por fim, é necessário que se diga que esses planos devem ser instrumentos orientadores do desenvolvimento urbano pautado de justiça social e preservação ambiental. Um modelo é Petrolina, que quebrou o paradigma pernicioso com a Compesa, empresa ineficiente e sem nenhum critério ambiental de sustentabilidade, ao universalizar os serviços para os seus munícipes, assumindo suas responsabilidades em conformidade com a lei, com compromisso com a sua reforma urbana, exemplo a ser seguido um dia por um gestor que tenha responsabilidade com o futuro de nossa cidade.

marcelo rodrigues
Marcelo Rodrigues foi secretário de Meio Ambiente da Cidade do Recife. É advogado e professor universitário. Escreve todas as sextas-feiras para o blog

OPINIÃO: Meu filho reprovou

Por MENELAU JÚNIOR

O réveillon de muitas famílias não será muito agradável. Nas últimas semanas de dezembro, as escolas costumam divulgar o resultado de suas avaliações finais. E quando o resultado do jovem é a reprovação, “a casa cai”. O que fazer?

Como professor, sei o quanto uma reprovação pode mudar o destino de um jovem. Para melhor ou para pior. E isso depende muito mais da família – especialmente dos pais. Se eles não souberem como lidar com a situação, o que poderia servir de reflexão e posterior crescimento pessoal para o adolescente pode transformar-se em mais um motivo para o descaso e a falta de limites.

Primeiramente, parece-me equivocado buscar culpados. Em especial os professores ou a escola. Hoje, muito mais que antigamente, as chances de um aluno ser reprovado são remotíssimas. Além de quatro provas bimestrais, ele tem recuperações paralelas e, não consegundo, ainda há uma prova final. Traduzindo: nove provas (noventa pontos) para conseguir 28 pontos – ou menos, dependendo do cálculo da prova final. Convenhamos: exige-se muito pouco.

Jogar a culpa exclusivamente no jovem também é muito fácil. Existem adolescentes que fazem tudo para não estudar – e nisso a internet e os amigos de farra são grandes companheiros. Compensadas algumas exceções – raríssimas, diga-se de passagem – em que os alunos têm realmente muita dificuldade de aprendizagem, a maioria que chega à situação da reprovação está ali por falta de estudo mesmo, de compromisso com o conhecimento. E os pais, no fundo, sabem disso. Mas em alguns casos se abstêm de tomar atitudes mais rígidas com medo de contrariar os filhos. É cruel admitir, mas alguns pais se tornaram reféns dos filhos.

São jovens que passam a madrugada “mexendo” no celular e dormem durante as aulas. Passam os fins de semana na farra, bebendo com amigos. São adolescentes que não aceitam a reprovação porque não são contrariados dentro de casa. Mimados e com todos os seus caprichos realizados, não conseguem compreender que a sociedade – e , portanto, a escola – reprova o descaso e a falta de compromisso.

Nessa hora difícil, apenas punir o adolescente também não é o caminho. A reprovação já é, para eles, uma punição. Talvez seja o momento de sentar, conversar, refletir sobre os passos errados dados durante o ano letivo. Aceitar transferência de responsabilidades não fará o jovem crescer como pessoa e como estudante. Ele precisa reconhecer que estudou pouco – ou que estudou muito apenas nos últimos dias de aula.

Pergunto aos pais: o que acontece quando um funcionário é faltoso, não cumpre suas responsabilidades, faz “corpo mole” durante todo o ano e decide trabalhar apenas no mês de dezembro? Fatalmente será demitido. Na escola, ocorre mais ou menos a mesma coisa. Quem deixa para estudar depois da terceira unidade deve saber o risco de sua negligência. Às vezes, com uma filinha do colega ou mesmo com a ajuda do próprio sistema, que sempre favorece os pouco estudiosos, dá para passar. Às vezes não. E quando “a casa cai”, os pais têm o dever de mostrar como se constrói um edifício de alicerce seguro. Culpar a escola ou os professores é isentar aqueles que tinham a obrigação de pôr os tijolos: os alunos, nossos filhos. Na hora do recomeço, uma conversa franca faz bem. Limitar as baladas e o uso da internet também.

Até a próxima semana.

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Menelau Júnior é professor de língua portuguesa. Escreve para o blog todas as quintas-feiras. E-mail: menelaujr@uol.com.br

OPINIÃO: Geração Bar do Rock (Parte I)

Por DANIEL FINIZOLA

Em todo o mundo, gerações marcam o tempo através do comportamento, produção musical, teatral e cultural de modo geral. Foi assim com o Club da Esquina em Minas, com a geração de 68 na França, com hippies nos EUA, com a Bossa Nova de Jobim e companhia, só pra citar alguns exemplos. Em Recife, os anos 90 foram férteis no que diz respeito à produção cultural. A geração Manguebeat explodiu como um dos maiores movimentos musicais do Brasil. O som de cheiro tropical com elementos universais conquistou o interesse de uma grande gravadora e, pouco tempo depois, lá estava na novela para todo o Brasil ouvir o som que Pernambuco produzia.

Hoje, quem está na casa dos 30 viveu toda essa efervescência em Pernambuco. Em Caruaru, certamente, muita gente que soma esse tempo de vida já deve ter frequentado ou ouvido falar em um lugar chamado Estação Mangue Barro, não? Então vamos lá! Caso você pegasse uma mototáxi e pedisse ao cara para levá-lo à Estação Mangue Barro, é provável que ele não soubesse. Mas, se você dissesse “me leve no Bar do Rock”, o cara ia dizer logo: “Ah! É aquele lá perto da Fiat, né?” Essa era a forma que as pessoas conheciam o bar que ficava na av. José Rodrigues de Jesus, onde hoje funciona um posto de gasolina. O nome oficial do bar (Estação Mangue Barro), apesar de poucos conhecerem por esse nome, mostrava como Caruaru seguia os ecos do movimento manguebeat e da fase que o rock nacional passava naquele momento. Bandas como Charlie Brown Jr., Raimundos, Planet Hemp traziam um pouco da rebeldia, sarcasmos e cheiro de garagem no som, deixando as expressões musicais mais viscerais.

Foi nesse bar que várias bandas que fizeram e fazem sucesso na cidade surgiram. Lembro que num dia 18 de maio de 1998, Ivan Márcio, vocalista do Sangue de Barro, anunciava no meio de um show o nome da banda. Eu estava lá vibrando e vendo surgir uma das bandas mais emblemáticas da música caruaruense. Muitos que naquele momento faziam parte do Sangue de Barro já eram referências do rock caruaruense. Nato Vila Nova, proprietário do bar, foi fundador da Psych Acid, uma das primeiras bandas de trash da cidade. Ivan Márcio e Mago Gildo já tinham participado de projetos musicais como The Thorn e Tributo à Legião. Sem contar os que sempre chegavam por lá pra dar uma canja: Almir Vila Nova, Rivaldo, Rildo e tantos outros que não me lembro agora. Essa galera, sem dúvida, era referência para a nova geração de roqueiros que surgia na cidade.

Eu era um jovem de 18 anos, cheio de ideias na cabeça com uma guitarra nas mãos, inserido em um movimento que aos poucos adquiria corpo, identidade e saía do underground.

Quer saber mais sobre essa história? Semana que vem tem mais!

daniel finizola

 

@DanielFinizola, formado em ciências sociais pela Fafica, é músico, compositor e educador. Escreve todas as quartas-feiras para o blog. Site: www.danielfinizola.com.br.

OPINIÃO: O valor da reputação profissional

Por ALEXANDRE BARBOSA MACIEL

Recentemente fiz um comentário sobre reputação em uma postagem do meu amigo Guilherme Machado com o título “Corretor de imóveis só com o Creci”, que recebeu algumas curtidas de corretores de todo o Brasil imediatamente assim que postei. Como sabemos, é pré-requisito legal a quem quer trabalhar intermediando transações imobiliárias ser inscrito no conselho regional do estado onde quer atuar, porém muito importante para a longevidade e valorização do profissional é a reputação que ele constrói ao longo da sua carreira.

Obter o registro no Creci é apenas o início de uma trajetória que, a depender da postura do profissional, poderá assegurar-lhe um futuro positivo ou negativo. Nossa atividade é, como costumo dizer, multidisciplinar, pois exige conhecimentos em diversas áreas. Às vezes, um profissional leva anos para se tornar autossuficiente e inspirar confiança no mercado. Isso é o reflexo da cautela e do zelo que esse profissional dedica e que resulta em negócios bem realizados, sem rebordosas para os envolvidos. Isso se espalha facilmente pelo mercado na forma de indicações, de captações fáceis e de vendas certas.

As exigências legais quando cumpridas à risca, aliadas a técnicas de servir com excelência, trazem esse enorme benefício para o profissional. Não basta ser um inscrito no conselho, tem que conhecer bem a atividade, agir com ética sempre e ser bem relacionado com o mercado. Esses são os principais ingredientes do sucesso para os corretores de imóveis.

Por isso, exija sempre ser acompanhado por um corretor de imóveis quando for participar de uma transação imobiliária. Escolha um que goze de boa reputação no mercado e no segmento desejado, pois ele certamente construiu a sua fama em cima de práticas responsáveis, conhece todos os trâmites e circunstâncias que envolvem um negócio tão complexo como são as transações imobiliárias e, assim, evitará muita dor de cabeça desnecessária.

alexandre barbosa


Alexandre Barbosa Maciel, advogado, é corretor de imóveis, conselheiro suplente do Creci-PE e diretor da Imobiliária ABM. Escreve todas as terças-feiras para o blog