Intolerância

Por Maurício Assuero, economista e professor

O recente atentado terrorista contra uma revista parisiense vai além da constatação de que somos intolerantes. Profeta que se preza não manda ninguém matar em seu nome nem em nome de ninguém, muito embora a História seja recheada de assassinatos em nome de um “ser superior”, a exemplo das Cruzadas onde se matava em nome de Deus, apesar de se ter nos Dez Mandamentos um “não matarás”. Nos dias atuais tem-se uma guerra santa. Qualquer crítica a Maomé (e olhe que ele é só um profeta, imagine se fosse Alá!) é fruto de atentados. Na outra ponta é bom lembrar que humilhamos, torturamos e crucificamos Jesus e Ele ainda teve forças para dizer “Pai, perdoai-lhes! Eles não sabem o que fazem!” e ainda deixou máximas revolucionárias como “ama ao próximo como a ti mesmo, perdoa teus inimigos, quem não tiver pecados que atire a primeira pedra”. Enfim: vamos falar de religião ou de economia?  Vamos falar de um segmento chamado economia da religião.

Em qualquer parte do mundo a religião atrai turistas. Seguidores do Islã são obrigados a visitar Meca, pelo menos uma vez na vida, e a quantidade de pessoas é, simplesmente, inimaginável. Não é diferente do que se faz no Juazeiro do Padre Cícero, em Aparecida, no Círio de Nazaré ou no Santuário de Fátima em Portugal. Em torno desses locais se forma uma cadeia econômica envolvendo hotelaria, gastronomia, sem contar com o mercado de artigos religiosos. Em Aparecida, por exemplo, há um projeto que visa a construção de um hotel, com centro de convenções, que possa ser utilizado durante o ano inteiro e não apenas na data comemorativa a santa. É necessário proteger as pessoas que buscam na fé um alento para suas dores.

Em contrapartida o terrorismo é o principal instrumento para afugentar turistas. Há estudos que mostram o impacto do terrorismo na economia. A atuação do grupo separatista basco ETA na Espanha foi durante muitos anos uma pedra no calcanhar da economia espanhola (veja, por exemplo, o trabalho de Walter Enders no livro Applied Times Series, sobre este assunto) tanto quanto na Irlanda o grupo IRA se notabilizou por suas ações e todas as pessoas sensatas evitavam estes países para não correr riscos desnecessários. O turista bem tratado volta e traz com ele novos turistas. Por isso, é importante que se mantenha políticas voltadas para o fortalecimento do turismo. Isso implica também na adequação devida dos residentes com oferta de produtos e serviços de qualidade. Um exemplo claro de mudanças que fizemos e que foram muito bem dimensionadas teve lugar na Copa do Mundo de 2014. Taxistas procuraram aprender o mínimo de inglês suficiente para entender nossos visitantes. Falhas sabemos que aconteceram, mas ficou uma lição importante que nos capacita a fazer melhor no dia a dia.

Intolerância religiosa é como uma praga na plantação. Acaba tudo que se plantou e se não tiver ações enérgicas vai influenciar nas plantações e colheitas futuras. Qualquer outro tipo de intolerância, também, é fato indesejável. Uma economia cresce quando todos estão comprometidos com isso.

 

Opinião: Os dois maiores colégios de Caruaru estão de parabéns

Por Eduardo Barbosa

Após o anuncio do ranking das escolas do Enem, divulgado em dezembro último, foi possível perceber e identificar o grande trabalho que vem sendo desenvolvido por essas duas grandes instituições de ensino. O ranking, que está disponível no site do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), mostra informações do aproveitamento das escolas, com as notas por área do conhecimento, da redação, e também a nota geral do colégio. O Diocesano e Colégio Atual Caruaru ficaram entre as 35 melhores escolas de Pernambuco, entre as 547 listadas na planilha do Inep.

Os dois colégios em destaque ficaram em posições à frente de outras escolas de referência no Estado, como os Colégios Madre de Deus (37º), Salesiano (39º), Motivo (40º), DOM (41º), Americano Batista (42º) e ainda, de colégios como Santa Emília, Lubienska e Dourado. É a Capital do Agreste cada vez mais se preparando para o futuro, que chega mais exigente, e formando os jovens com mais excelência para o mercado de trabalho e para a vida.

Segundo o novo Diretor de Ensino do Colégio Atual Caruaru, contratado para dinamizar e aperfeiçoar essas necessidades do futuro, Eduardo Barbosa (chamado carinhosamente pelos professores e alunos por João Grandão), as instituições de ensino que quiserem proporcionar aos jovens maiores e melhores condições de sucesso terão grandes desafios. Entre eles, ter uma equipe de professores cada vez mais capacitados, com uma formação contínua, a elaboração de novos instrumentos de avaliação que privilegiem as competências e habilidades, o acompanhamento dos alunos através de planos de estudos individualizados e boletim mais detalhado no rendimento por áreas do conhecimento, o trabalho em parceria com materiais didáticos de referência nacional e que proporcionem uma maior rapidez na atualização dos conteúdos e a aplicação do maior número de simulados seguindo a modelagem Enem e com questões inéditas. Essas são só algumas das ações que precisam ser implantadas.

“A escola que não se estabelecer como um grande centro de aprendizagem e tiver isso determinado em todos os seus processos, desde o plano de ensino até a reavaliação dos instrumentos de aprendizagem, passando pelo acompanhamento e orientação pedagógica de excelência, não poderá oferecer aos estudantes o que eles realmente precisam”, completa Eduardo Barbosa.

Artigo: Quando um ranking é maior que a ética

Por Eduardo Barbosa

É comum ver escolas com turmas especiais para alunos, digamos, mais avançados e com uma possibilidade maior de rendimento. Uma instituição bem colocada é ideal para chamar atenção dos pais que querem dar uma educação decente para os filhos. O problema é quando essa necessidade de atrair novos “clientes” é maior do que a ética na educação.

Em tudo existe ética. Trabalho, amor, convivência e na educação não seria diferente. Para você, existe ética em separar os chamados alunos top’s em uma falsa unidade de ensino para alcançar um nível elevado no ranking do ENEM? Meio confuso isso. Algumas escolas da região metropolitana do Recife, apesar de serem consideradas grandes referências em ensino, possuem apenas uma unidade escolar. Porém, para a montagem dessa classificação, os gestores criam uma unidade fictícia da escola e alcança um lugar maior no final.

Ora, uma escola onde apenas alunos diferenciados estudam e todos eles são “treinados” para tirar notas altas, a disputa por um lugar maior na colocação acaba sendo injusta. A divisão, além de não ser ética, é motivo de chacota entre clientes – sim, clientes, já que isso não passa de uma jogada de marketing para atrair mais dinheiro. Novamente surge o questionamento: quando um ranking é maior que a ética?

Isso é apenas um exemplo básico que acontece no Recife, mas o problema é muito maior, é nacional. As explicações – para não chamar de desculpas – são as mais estranhas. Uma delas, de uma escola do Rio de Janeiro, é de que as turmas especiais são feitas de alunos que vieram de escolas de programas de apoio. O que chamou atenção foi a falta de necessidade dessa separação elitista.

É comum a prática de divisão de turmas especiais no 3º ano, mas subiu a cabeça o fato de conseguir chamar atenção dos pais e da mídia na hora de divulgar essas colocações. Além disso, existe o problema do investimento. Se meu filho não faz parte dessa turma especial e eu pago o mesmo que os pais de um aluno de turma diferenciada, por que o meu filho não pode ter a mesma atenção? Aulas especialmente programadas para um primeiro lugar no curso de medicina do vestibular, testes e acompanhamento psicológico com um “q” a mais de atenção. Tudo isso pesa. No final das contas, a ética ficou esquecida no ensino fundamental.

Opinião: Política e religião não se discutem

Por Tiê Felix

Depois de uma semana conturbada neste início de ano uma reflexão política e religiosa é necessária frente ao que fomos telespectadores. Quando dizem que política e religião não se discutem a verdade não está longe de tal caso. O problema não é que a religião e a política realmente não se discutem, mas que as pessoas que estão envolvidas nestes temas não permitem discussão. Esse é o problema.

Os atentados ao Charlie Hebdo revelam aquilo que todo mundo já sabe: a religião tende a ser radical quando confrontada com seus opostos, com aquilo que a nega.Isso não se aplica tão somente ao Islão, mas a todas as manifestações dogmáticas. Lendo o livro de Karen Armstrong “Em nome de Deus” sobre o fundamentalismo judaico, cristão e Islão pude perceber que a necessidade de legitimidade por parte de um dogmatismo exige algumas vezes o recurso à violência. A não aceitação das transformações sociais e do consequente relativismo que se apresenta faz com que alguns grupos resolvam manifestar seu apreço à ideia absoluta de forma radical. Assemelha-se a desrazão de alguém que age violentamente porque não possui outro recurso senão a agressão. Essa é a verdade a respeito não só do Islão quanto de qualquer outra manifestação dogmática.

Por outro lado, vê-se claramente a intenção de construir uma imagem midiática do Oriente, transformando as múltiplas manifestações e produções de sentido daqueles povos resumindo-os a meros radicais. O que não é verdade. E agora remeto ao livro “orientalismo” de Edward Said onde ele mostra que o Oriente não é nada mais que um discurso constituído pelo Ocidente, desde longa data. Confirmo a veracidade deste fato por ter visto com muita frequência a oposição ocidente/oriente na boca dos jornalistas e intelectuais na mídia. Esse modo de ver sempre remete a uma suposta superioridade dos ocidentais frente a suposta “ignorância” dos orientais, o que é terminantemente falso.

Ainda levando em consideração o radicalismo como expressão vê-se o surgimento ocasional da extrema-direita na França promovendo sua afirmação como o partido que poderá resolver os problemas do radicalismo islâmico, trazendo ao debate a ideia de que se paga a violência com a mesma moeda. A extrema-direita manifesta sua ignorância inicialmente pelo fato de querer a todo custo o poder no uso de palavras desnecessárias do Le Pen pai: “Eu não sou Charlie Hebdo”. Tal modo de pensar apenas revela que o conflito deve ser continuado senão não haverá oposição.

No Brasil o problema se manifesta na cegueira Petista que não consegue entender que o dogmatismo de qualquer espécie é simplesmente danoso, e só isso!

Tiê Felix é professor.

Opinião: Quando um ranking é maior que a ética

Por Thamiris Barbosa

É comum ver escolas com turmas especiais para alunos, digamos, mais avançados e com uma possibilidade maior de rendimento. Uma instituição bem colocada é ideal para chamar atenção dos pais que querem dar uma educação decente para os filhos. O problema é quando essa necessidade de atrair novos “clientes” é maior do que a ética na educação.

Em tudo existe ética. Trabalho, amor, convivência e na educação não seria diferente. Para você, existe ética em separar os chamados alunos top’s em uma falsa unidade de ensino para alcançar um nível elevado no ranking do Enem? Meio confuso isso.

Algumas escolas da Região Metropolitana do Recife, apesar de serem consideradas grandes referências em ensino, possuem apenas uma unidade escolar. Porém, para a montagem dessa classificação, os gestores criam uma unidade fictícia da escola que alcança um lugar maior no final.

Ora, numa escola onde apenas alunos diferenciados estudam e todos eles são “treinados” para tirar notas altas, a disputa por um lugar maior na colocação acaba sendo injusta. A divisão, além de não ser ética, é motivo de chacota entre clientes – sim, clientes, já que isso não passa de uma jogada de marketing para atrair mais dinheiro. Novamente surge o questionamento: quando um ranking é maior que a ética?

Isso é apenas um exemplo básico que acontece no Recife, mas o problema é muito maior, é nacional. As explicações – para não chamar de desculpas – são as mais estranhas. Uma delas, de uma escola do Rio de Janeiro, é de que as turmas especiais são feitas de alunos que vieram de escolas de programas de apoio. O que chamou atenção foi a falta de necessidade dessa separação elitista.

É comum a prática de divisão de turmas especiais no 3º ano, mas subiu a cabeça o fato de conseguir chamar atenção dos pais e da mídia na hora de divulgar essas colocações. Além disso, existe o problema do investimento. Se meu filho não faz parte dessa turma especial e eu pago o mesmo que os pais de um aluno de turma diferenciada, por que o meu filho não pode ter a mesma atenção? Aulas especialmente programadas para um primeiro lugar no curso de medicina do vestibular, testes e acompanhamento psicológico com um “q” a mais de atenção. Tudo isso pesa. No final das contas, a ética ficou esquecida no Ensino Fundamental.

Thamiris Barbosa é Jornalista

Que venha 2015

Maurício Assuero, economista

O ano de 2014 já deveria ter terminado, mas tal qual um soro que alimenta um organismo debilitado ele segue pingando minuto a minuto, segundo a segundo. Vai se arrastando como se existisse em nos manter atentos as nossas decepções, aos sonhos não realizados, as perdas irreparáveis. Como um rio lento, segue seu curso, marchando imponente em direção ao desconhecido. Ele acaba. Querendo ou não ele acaba e aí é hora de recomeçarmos, de voltarmos a formular novos planos ou adequar os antigos. Erramos muito quando deixamos para fazer o balanço no último dia de 2014, ou seja, fazemos o balanço das nossas atividades quando o ano balança para não mais voltar a sua posição de equilíbrio.

Até que ponto as coisas seriam diferentes se cada um de nós tivesse a oportunidade de implantar um balanço dinâmico? Um balanço diário do tipo que vamos sair de casa pensando no que vamos fazer e ao voltar para casa pensarmos no que fizemos. Seguramente teríamos a oportunidade de ajustar os nossos rumos de uma forma mais imediata. Pedir desculpas pelo erro cometido e compartilhar alegremente os acertos. Mas, deixamos para fazer o balanço no último dia do ano e aí provavelmente esqueceremos alguns deslizes que cometemos lá no início. A gente, a cada ano, se promete uma porção de coisas como beber menos, parar de fumar, cuidar da saúde, conhecer um país (mesmo que seja o nosso), mas nem sempre nos prometemos ouvir mais as pessoas que nos cercam, amar mais que nos odeia, conviver melhor com quem não nos suporta. Nada disso é algo simples de fazer, mas se não tentarmos dificilmente saberemos se seremos capazes.

Que venha 2015. Se ele nos trouxer dificuldades além da nossa conta, ergamos nossos olhos aos Céus e vamos nos lembrar que o Criador jamais permitirá que transportemos uma carga além da nossa capacidade. Se minha constituição só permite transportar 50 Kg, o Pai Supremo jamais permitiria que fosse colocado nas minhas costas um peso de 51 Kg. Agora, o conteúdo dessa carga decorre das suas escolhas. Você pode transportar 50 Kg de papel, de copos descartáveis, de pregos, de chumbo… não importa a substância, o peso será sempre 50 Kg, mas esta substância é escolha sua e não uma imposição de Deus. Mas não vamos cometer o equívoco de esperar que o Pai Celestial faça aquilo que é nossa obrigação. Sentar e esperar a ajuda Divina não é a melhor política. Apenas orar pedindo é um ato inútil porque ORAÇÃO une ORAR com AÇÃO.

Que venha 2015, com todos os sonhos depositados na fé de um ano melhor, na esperança de um país mais equilibrado, que gere emprego, renda, bem estar social, que puna os corruptos, que trate dos desassistidos não com esmolas, mas com políticas que os transformem em cidadãos, que cuide da saúde e não da doença, que entenda ser a educação o melhor caminho para libertar o ser do julgado da escravidão da ignorância. Que venha 2015. Estaremos de braços abertos para recebê-lo. O ano novo só será feliz, se a gente lutar por isso. Diuturnamente.

Outro Exemplo

Por Maurício Assuero, economista e professor

Na semana passada comentamos a experiência de Jan Carlzon que conseguiu reerguer a Swissairde um prejuízo da ordem de US$ 10 milhões, usando uma politica inovadora de administração e de valorização do seu cliente. Não precisamos ir muito longe para encontrar outros exemplos. Aqui no Brasil, tem-se um caso também famoso protagonizado por Ricardo Semler, herdeiro do grupo Semco. Semler tentou pós-graduação em Harvard e teve seu pleito negado, se não me engano por três vezes, até que, após,criticar duramente aquela instituição, foi convidado para uma entrevista e aceito para o programa. Quando voltou ao Brasil assumiu o controle da empresa do pai adotando medidas, simples e surpreendentes que geraram resultados extraordinários.

É importante lembrar que a Semco tinha vínculos familiares e Semler optou por remunerá-los (manter seus salários) sem que eles precisem trabalhar. Obviamente, no caso de empresas familiares cada caso é um caso. Um dos grandes problemas da empresa familiar não é o fato de ser familiar, mas não saber distinguir os limites dos laços familiares com as obrigações profissionais. Ou seja, se o gerente de produção é filho do dono, mas está levando a empresa a uma situação de ineficiência produtiva, então há de se esquecer os laços consanguíneos e dar espaços aos laços profissionais. Outro problema é a sucessão da empresa. Se há vários filhos, por exemplo, qual deverá ser o escolhido para suceder? Nem sempre é uma decisão simples porque qualquer coisa decidida na empresa pode afetar as relações dentro de casa e vice-versa.

Semler fez algo maior para os funcionários, dentre os quais: acabou com as vagas privativas no estacionamento. Quem chegasse cedo poderia estacionar no local que bem entendesse, até mesmo naquela vaga onde estava escrito “privativo da diretoria”; acabou com a revista aos funcionários e permitiu que cada funcionário pintasse sua máquina da cor de sua preferência. A questão da revista é palco de debates e contendas jurídicas. Quem faz, desconfia dos funcionários e o faz porque percebe que há roubo de produtos. O efeito dessa medida fez o roubo dos produtos diminuir assustadoramente. As experiências de Semler estão impressas num livro chamado Virando a própria Mesa. É uma leitura boa, mas o melhor do livro são as ações implantadas para tornar a empresa um ambiente saudável, afinal, 44 horas semanais da vida dos trabalhadores é de convivência nesse ambiente.

O importante de tudo isso é que se chega a resultados positivos sem a necessidade de investimento direto, sem a preocupação de aumentar custos, sem muitos sacrifícios financeiros. Algumas empresas distribuem participação nos lucros, mas isso é quando tem lucros, quando as condições macroeconômicas permitem, etc.. e quando não? A primeira providência é cortar benefícios e estes benefícios, há muito tempo, são formas indiretas de renda. As pessoas quando buscam um emprego estão de olho nos benefícios, além de salário.

A Hora da Verdade

Maurício Assuero, professor e economista

O título acima foi adotado de um livro publicado, inicialmente, por volta dos anos 1988 e reeditado desde então.  O livro retrata a história de um executivo contratado para tirar do “buraco” a empresa área Swissair. A metodologia adotada por este jovem executivo, de nome Jan Carlzon, foi, basicamente, colocar o cliente como a pessoa mais importante da empresa (geralmente os organogramas das empresas começam pelo presidente e ele colocou o presidente como a pessoa menos importante da organização!). Sua proposta era recuperar a empresa, financeiramente, em dois anos e já no primeiro ano de atuação a Swissair já apontava lucro real no seu balanço.

O que queremos externar com esse relato é a capacidade de ação diante da adversidade. Muitas empresas sucumbem as forças do mercado, muito pela falta de uma administração arrojada, desafiadora e inovadora.  Se formos analisar o comportamento de algumas empresas a gente vai ficar com o sentimento de que a empresa “está nos fazendo um favor em nos vender”. Cito um caso recente: uma pessoa procurou uma concessionária para financiar um veículo e dela foi solicitado três últimos contracheques e comprovante de residência. Como seu contracheque é disponibilizado via sistema, ele baixou os contracheques de maio, junho e julho e depois de escanear a conta do telefone celular enviou tudo para o email do vendedor. Em troca recebeu um email dizendo que a conta do celular não servia porque o banco exigia uma conta de consumo da casa (água, telefone fixo, luz). Ele entrou no site da Celpe e baixou uma conta de luz. Bom: os contracheques não foram aceitos porque o mês de maio era mês de férias; a conta de luz não foi aceita porque era segunda via! Bastante aborrecido ele pediu cancelamento e foi multado em R$ 1 mil pela desistência (ele deu uma entrada de 20% do valor do veículo e deste montante subtraíram R$ 1 mil!). Resultado: o caso foi parar na justiça.

Algumas empresas continuam arraigadas a procedimentos burocráticos sem o menor sentido em tempos de internet. O cliente quer ser atendido, valorizado, quer ter comodidade e não esbarrar num sem número de exigências tolas. Num momento em que o mercado tende a se enfraquecer por questões econômicas, não basta apenas promoções, liquidações, servir cafezinho, colocar dançarinas em roupas sumárias ou mesmo um promotor com um megafone incomodando os passantes. É preciso agir com consciência de que está propondo e implantando uma nova metodologia de atendimento.  Um exemplo real: fui fazer uma compra com cartão e o sistema estava fora. Eu não tinha tempo para esperar e ia para outra loja quando a vendedora disse que eu poderia levar o produto. Pediu meu telefone para me avisar quando o sistema voltasse. Jan Carlzon autorizou a viagem de um passageiro que tinha esquecido o bilhete de embarque baseado apenas no fato de que seu nome estava no sistema. Esse passageiro tornou-se cliente da Swissair. Assim como me tornei cliente da loja. Ah! O livro “A Hora da Verdade” custa uns R$ 25,00, muito mais barato do que outras ações inócuas…entendeu?

 

Nova Equipe Econômica

Maurício Assuero, economista

Agora sabemos queJoaquim Levy vai comandar a economia no segundo governo de Dilma e isso é bom por algumas razões, dentre as quais o fato de Levy ser uma pessoa de mercado, com uma sólida formação e conhecimento e por ter a visão de que crescimento econômico não nasce apenas do incentivo ao consumo. O contexto de sua primeira entrevista já trouxe uma sinalização positiva: os programas sociais são frutos do crescimento econômico. Dizendo isto com palavras mais simples: a manutenção de programas sociais, como o Programa Bolsa Família, só é sustentável se houver crescimento econômico. Usando um argumento de Delfim Neto o que o governo está fazendo agora é repartir o bolo enquanto ele cresce e a proposta de Levy significa fazer o bolo crescer para repartir. É bem mais coerente.

Nas entrelinhas dessa postura sai, necessariamente, a indicação de que vamos ter que cortar gastos. O primeiro desafio é obter superávit fiscal sem falcatruas, ou seja, sem subterfúgios contábeis do tipo que antecipa receita e postecipa despesas ou como agora pretende o governo transformar as obras do PAC em investimentos para reduzir despesas e fechar com saldo positivo. O que se espera é que a equipe econômica consiga fazer este país crescer de forma sustentável (nesse sentido acho prematuro a comemoração do crescimento da economia no terceiro trimestre de 2014 em 0,1%, isso mesmo, 0,1%), respaldo para fazer isso, a equipe tem, agora, ao que nós percebemos não há respaldo político visto que integrantes do próprio partido da presidente Dilma já se colocaram contrários a escolha de Levy. Resgato aqui uma situação semelhante: quando Lula foi eleito presidente e cogitou Henrique Meirelles para comandar o Banco Central, a então senadora Heloísa Helena, do PT de Alagoas, foi publicamente contra a escolha. Há imagens de Lula conversando “ao pé do ouvido” para convencê-la. Heloísa saiu do PT, então se pergunta qual motivo esse pessoal que é contra não tomar o mesmo caminho?

O motivo é a grande probabilidade de perdas de verbas para financiar o nada, ou seja, dinheiro destinado a ações inócuas que ao invés de formar e dar cidadania as pessoas, mantem o individuo pobre e preso a um cartão de benefício e temeroso em mudar seu voto na próxima eleição. É absolutamente estranho o governo comemorar o aumento de pessoas beneficiadas pelo Programa Bolsa Família! O governo deveria comemorar quando a quantidade de pessoas vinculadas a programas sociais fosse reduzida porque isto seria um indicativo de que aquela pessoa encontrou um emprego e agora paga a previdência, tem um salário que lhe permite ter inclusão social.

Também é muito estranho querer transformar este programa no “programa de estado e não de governo”. Isso é perpetuar a miséria. O Bolsa Família precisa dar outra “roupa” aos seus beneficiários e não apenas a “roupa do Natal”. Não devemos, portanto, desprezar a visão de Levy. O Brasil pode mais e melhores programas sociais do que tem hoje, mas para isso é preciso crescimento sustentável. 0,1% é muito pouco!

 

Anos de atraso

Maurício Assuero, economista

Se continuar em vigor a legislação brasileira que trata das compras do governo, precisamente a Lei das Licitações, dificilmente o Brasil vai diminuir os anos de atraso que tem em relação aos países mais desenvolvidos. Sabemos que o controle é necessário, haja vista o que se fez na Petrobras, mas para a lei nós somos todos ladrões até que provemos o contrário. Quero falar, especificamente, do tratamento que se dá aos inúmeros pesquisadores desse país. Não faz muito tempo (cerca de um mês) os Estados Unidos colocaram 400 pesquisadores para produzir uma vacina, em tempo recorde, para o surto de ebola na África. Em pouco tempo de trabalho esta equipe iniciou os testes de uma vacina. Transportemo-nos para o Brasil.

Se fosse no Brasil cada um desses pesquisadores teriam que solicitar liberação do departamento ao qual está vinculado, provar que sua ausência não afetaria a carga horária ou que alguém iria lhe substituir, apresentar um projeto para ser aprovado, em dois ou três meses, pela Procuradoria Federal. Depois de tudo isso teria que formalizar um contrato, que duraria mais dois ou três meses, comprovar que o total de horas destinado a ensino, pesquisa e extensa, não ultrapassa 120 horas (se ultrapassar, só com autorização da autoridade superior).

Chegou a hora de contratar insumos e equipamentos para a pesquisa. Neste, ponto de cada item constante no projeto deve anexar três orçamentos de empresas que possuam todas as certidões negativas de débito, que declarem que empregam mão de obra infantil, etc. Enquanto isso, o número de mortes cresceria a uma taxa exponencial. Obviamente, que se entende a necessidade de controle, o que não se entende é a intransigência.

É mais do que necessário uma revisão urgente na legislação para beneficiar projetos de pesquisas. Não é apenas o setor público que faz pesquisa. Basta a gente pensar na quantidade de laboratórios farmacêuticos que usam o conhecimento da academia para colocar no mercado uma tecnologia responsável pela cura de algumas doenças.

Também é graças ao que se pesquisa na academia que nós temos equipamentos de exames com capacidade de identificar doenças num curto espaço de tempo. O pior é que o caminho da pesquisa é um dos que nos possibilitaria atingir um nível de desenvolvimento sócio-econômico-tecnológico semelhante as melhores economias do mundo. Vejam o que fizeram os americanos: colocaram um sonda para viajar 6,5 bilhões de Km para depositar nas “costas” de um cometa um robô que vai nos ajudar a entender a origem do universo. Nós temos condições de fazer isso? Acreditem que temos mentes capazes de proezas como estas.

É preciso que as empresas busquem intensificar o dialogo com a universidade (com a academia). A vantagem pode se retratar em ganhos de escalas, em competitividade, em reconhecimento nacional e internacional. O fato é que não podemos apenas ficar a mercê das empresas públicas para promover pesquisas.